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Em janeiro de 2006, o Museu de Arte Contemporânea de Fortaleza anunciou a exposição de um influente artista japonês chamado Souzousareta Geijutsuka. A imprensa local comprou a ideia e veiculou diversas resenhas produzidas a partir do press-release e também entrevistas realizadas por e-mail com esse artista versado em robótica e arte eletrônica, que citava Duchamp como sua maior influência. Acontece que, no dia da abertura, nada havia no MAC do Centro Dragão do Mar. Um dia depois, descobriu-se que Souzousareta Geijutsuka era uma ficção, criada pelo artista cearense Yuri Firmeza, dentro do projeto Artista Invasor. O caso repercutiu como nenhuma exposição de arte contemporânea jamais repercutira. Tachada de “molecagem”, “provocação infeliz”, ou “um estranho conceito de criatividade”, o fato é que a obra teve o indiscutível mérito de desvendar os padrões que regem as escolhas da imprensa cultural, e, acima de tudo, escancarar sua negligência.

Esse enfant terrible da arte cearense faz agora sua primeira individual em uma galeria paulistana. Desta vez, sem sustos nem surpresas e repleta de objetos no espaço expositivo. A mostra gira em torno do conceito da fragilidade como potência política e como condição criativa, reunindo trabalhos inéditos e realizados nos últimos cinco anos. Entre eles chama especial atenção a videoinstalação “Vida da Minha Vida” (foto), de 2011, em que Firmeza trabalha com um tema bastante reincidente na produção artística contemporânea: a memória. Sua estratégia, no entanto, é particularmente instigante por ter escolhido abordar a perda da memória por uma paciente de Alzheimer. Em três telas, o artista projeta seu ensaio poético sobre essa experiência temporal sensorial e imprecisa, conferindo-lhe uma qualidade criativa.