O americano Ned Vincent era daquele tipo que
a turma chama de “esquisitão”. Sabe como
é: um jeitão meio desmunhecante. Mas isso
não incomodava o pessoal do boliche – um bastião de macheza da classe trabalhadora americana que Ned passou a freqüentar uma vez por semana. Ele integrava um time masculino em Nova York. Tinha namorada firme, bonitinha e apaixonada. Ninguém achou que o cara era gay. Ele até ia a bares de strip-tease! Imagine-se então o susto dos amigos ao descobrirem que Ned, na verdade, era Norah Vincent, uma bela mulher. Não uma transexual, fantasiada de macho e inconformada com as determinações biológicas. Acontece, no entanto, que a moça é uma jornalista disposta a entender os mecanismos da cabeça dos homens e para isso ela resolveu viver 18 meses na pele de seus objetos de estudo. Uma transformação espantosa e que rendeu as páginas do best-seller Self-made man.

A sua primeira descoberta foi a de que não é fácil ser homem. “E isso ocorre principalmente quando se é uma mulher”, disse Norah a ISTOÉ. Para incorporar seu lado masculino, ela fez longas sessões de musculação e de empostação de voz. Recebeu também um corte de cabelo curto – curto atrás e com o topo quadrado. Um pó especial feito de pêlos e grudado estrategicamente ao rosto serviu como convincente barbinha tipo Giorgio Armani. E foi uma diretora de teatro quem lhe deu os códigos do gestual do macho. “Não basta sentar com as pernas abertas, é preciso agir como se existisse algo sólido e precioso entre as coxas”, recomendou a professora. Foi acomodado nas virilhas, portanto, um penduricalho roliço e de bom tamanho. Toda essa arquitetura esteve sustentada num patamar respeitável, já que Norah calça 43 (numeração masculina). E isso só para montar o visual. Imagine-se a trabalheira para enfrentar o lado emocional.

A economia de gestos efusivos, a apertada válvula de escape para as emoções mais íntimas, as dolorosas rejeições amorosas depois do sacrifício feito na cantada a uma paquera: todas essas desventuras fazem parte de um universo que, segundo a escritora, não é sequer suspeitado pelas mulheres. “Fiquei surpresa com a quantidade de poder sexual que as mulheres detêm. Aprendi que a arrogância que os homens demonstram durante os contatos sexuais é uma forma de salvar as aparências e superar invertidas femininas”, diz Norah. Ela saiu com moças que conheceu na internet – uma delas, heterossexual até aquele momento, queria continuar o relacionamento com Ned/Norah mesmo depois de ela confessar seu verdadeiro sexo e intenções investigativas. As conquistas em bares também foram tentadas. “Trata-se de um jogo absolutamente diferente daquele praticado por lésbicas”, diz a autora, que é lésbica e mantém há anos um relacionamento monogâmico. “Foi uma experiência penosa.” Finalmente, a conclusão dessa troca de papéis: os gêneros agem de modos muito distintos e as fêmeas não têm idéia do que é ser macho.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias