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Quando não tem compromissos no fim de semana, o empresário paulistano Jan Hendriks Júnior, 39 anos, vai ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, para meditar na companhia de outros adeptos da Falun Gong, uma prática meditativa criada pelo chinês Li Hongzhi, em 1992, com base no budismo e no taoísmo.

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A sensação de liberdade que ele experimenta no parque paulistano não pôde ser vivenciada quando tentou praticar a atividade na China, em 2002. "Fui preso em Pequim e expulso do país por me reunir com praticantes de 30 países numa praça da cidade", conta. Também conhecida como Falun Dafa, essa meditação, feita por milhões de pessoas em mais de 100 países, foi proibida na China pelo presidente Jiang Zemin em 1999, após uma manifestação que reuniu cerca de dez mil pessoas nos arredores da sede do Partido Comunista, na capital.

Desde então, os praticantes estariam sendo perseguidos pelo governo. Segundo relatórios sobre direitos humanos do Departamento de Estado americano, publicados em fevereiro, aproximadamente três mil seguidores já teriam sido torturados e mortos. Numa investigação independente, o ex-secretário de Estado do Canadá David Kilgour e o advogado canadense David Matas relacionam essas mortes ao turismo para transplantes de órgãos na China.

Eles estimam que, entre 2001 e 2006, 41,5 mil órgãos, como rins, fígado e córneas, tenham sido retirados de adeptos da Falun Gong e vendidos para estrangeiros. "O governo da China nega, sem esclarecer diretamente nenhuma das evidências de perseguição, tortura e mortes", disse Matas à ISTOÉ.

 

Mas por que perseguir um bando de gente que só quer meditar? Para o historiador Eric Vanden Bussche, professor de história da China na Universidade de Stanford, nos EUA, a meditação, que um dia já foi encorajada pelas autoridades chinesas por seus benefícios à saúde (e consequente queda nas despesas médicas), acabou proibida justamente por crescer demais.

"Foi apenas a partir do protesto em 1999 que o governo percebeu estar lidando com um movimento que tinha não só uma grande quantidade de adeptos, inclusive membros do próprio Partido Comunista, como capacidade de organização e mobilização", explicou Bussche à ISTOÉ.

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O universitário carioca Felipe Santiago, 23 anos, praticante da Falun Dafa há quatro anos, afirma que seus adeptos não têm pretensões políticas nem a consideram uma religião ou seita. "É uma prática para o aprimoramento do corpo e da mente, guiada pelos princípios da verdade, benevolência e tolerância", afirma. "As pessoas têm liberdade para fazer os exercícios, meditar e ler sozinhas ou em grupo, onde e quando quiserem."

Os dois principais livros que orientam a prática – "Falun Gong" e "Zhuan Falun" -, estão disponíveis na internet em vários idiomas. "Não há templos, cultos, líderes. Há só um mestre, que criou a prática e escreveu esses livros", acrescenta Hendriks Júnior, referindo-se a Li Hongzhi, que hoje mora nos Estados Unidos.