Está tudo pronto para a ousada aventura de um velejador brasileiro e seu companheiro sul-africano: atravessar, em uma embarcação de pequeno porte, um trecho de mar de cerca de 900 quilômetros, conhecido por estreito de Drake, que separa a América do Sul da Antártida. Roberto Pandiani, 44 anos, e Duncan Ross, 39, zarparam em 25 de janeiro de Ushuaia, na Argentina, e montaram acampamento em uma pequena praia próxima de Puerto Williams, no extremo Sul do Chile. Agora, eles aguardam condições climáticas favoráveis para fazer a travessia, que deve ocorrer nos próximos dias.

A embarcação que os levará à Antártida é um hobie-cat. Com 21 pés
, ou cerca de seis metros e meio, o veleiro, batizado de Satellite, consiste em dois cascos estreitos montados em paralelo e compartimentos apenas para o material de primeira necessidade. Se a viagem for bem-sucedida, os velejadores serão os primeiros a atingir o pólo em uma embarcação como essa, sem cabine.

Para isso, eles têm que estar muito bem preparados. Até agora, o maior desafio da dupla tem sido se adaptar ao clima. Apesar de as temperaturas variarem entre 2 ºC e 10 ºC, os ventos e a umidade ampliam a sensação de frio. Contra isso, Pandiani e Ross usam uma roupa especial, com três camadas de tecido, que retira toda a água e mantém o corpo aquecido. A alimentação também será importante. A bordo do Satellite, a equipe leva pratos que, ao serem abertos, se aquecem automaticamente e quatro garrafas térmicas especiais, que mantêm a água quente por 36 horas. “No final da travessia, teremos que tomar sopa morna”, brinca o brasileiro.

A equipe pretende fazer a travessia em no máximo quatro dias. Mas,
se o clima estiver favorável, Pandiani e Ross podem cruzar o estreito
de Drake em até 50 horas. Para garantir sua segurança, eles serão acompanhados por um veleiro de aço de 63 pés, o Kotic 2, equipado
para enfrentar a região antártica.

Além do frio e do cansaço, há um outro problema: a falta de vento.
No caminho de Ushuaia a Puerto Williams, eles não tiveram como se locomover e precisaram ser rebocados durante um trecho. “Se isso ocorrer durante a travessia, podemos ficar à mercê da entrada de uma frente fria”, alerta Pandiani. “Precisamos calcular todos os movimentos. Será um jogo de xadrez contra o clima”, diz.