A corretora de seguros Ivone Porcino dos Santos, 52 anos, descobriu, há dois anos, que sofria de câncer. Uma cirurgia conseguiu extirpar o tumor no estômago, mas os problemas não estavam terminados: havia a desconfiança de que a doença pudesse ter se espalhado por outros órgãos. A equipe que cuidou do caso, no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, ficou em alerta. Pelos métodos tradicionais de diagnóstico, era cedo para dizer se a doença havia se alastrado. O que salvou Ivone de mais complicações é fruto de uma revolução silenciosa que ocorre nos bastidores dos grandes hospitais: máquinas superpotentes que obtêm imagens fiéis do interior do corpo humano. Elas garantem um diagnóstico tão preciso que chegam a mudar a forma de tratamento em cerca de 35% dos casos.

Seis meses depois da primeira cirurgia, Ivone foi submetida ao exame mais moderno que existia, uma tomografia computadorizada que
detecta a atividade das células marcadas com partículas radioativas. O aparelho percorre todo o corpo do paciente, enxergando os pontos iluminados pela radiação. Onde há luz forte, o nódulo é maligno. Uma hora depois, o veredicto: mais um câncer no fígado. Mas dessa vez as informações fornecidas pelo equipamento garantiram à equipe que uma quimioterapia específica – que ataca apenas as células doentes – seria capaz de destruir o tumor. Hoje, Ivone se sente mais confiante e retomou suas atividades.

Desde o seu tratamento, um novo aliado da medicina, ainda mais potente, começou a ser testado no Brasil. Trata-se do PET-Scan, iniciais do inglês Positron Emission Tomography (tomografia por emissão de pósitrons). O aparelho detecta com precisão quando determinada parte do corpo apresenta alteração de metabolismo. A máquina obtém uma série de imagens e as agrupa, criando uma figura tridimensional na tela do computador.

Diagnóstico de precisão – A partir daí, os médicos podem fazer recortes nas imagens e selecionar partes do corpo para realizar observações mais detalhadas. “O exame antecipa o diagnóstico e ajuda a acompanhar com mais precisão o estágio das doenças”, conta Cláudio Meneghetti, diretor da divisão de medicina nuclear do HC. Para Adib Jatene, diretor do Hospital do Coração, em São Paulo, máquinas como o PET-Scan simplificam os procedimentos médicos. “O equipamento tem a vantagem de descobrir, de antemão, se o tumor é maligno sem precisar fazer exames invasivos”, comenta.

Na América do Sul só existia um PET-Scan em atividade, na Argentina. No final do ano passado, o Hospital das Clínicas recebeu apoio do governo e também comprou o equipamento. Os primeiros testes foram realizados no início de janeiro, mas os exames só devem começar no segundo semestre deste ano. Outras quatro instituições paulistas e
uma no Rio de Janeiro já fizeram encomendas aos fabricantes.

João Vítor dos Santos Rocha, seis anos, é outro exemplo da
tecnologia que salva vidas. Ele nasceu com a artéria aorta entupida,
um problema conhecido como miocardia. O defeito provocava inchaço
e endurecimento do músculo cardíaco. Segundo os médicos
de sua cidade natal, Jacareí, no interior de São Paulo, só um
transplante poderia resolver a situação.

A família decidiu procurar o Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. No seu caso, foi a máquina conhecida como 1,5T Signa que detectou o problema. No Brasil, esse equipamento é o que há de mais moderno em ressonância magnética. O Signa é capaz de recompor a anatomia de qualquer órgão
do corpo humano em tempo real e indicar se existe alguma alteração de atividade celular. Graças a ele, é possível avaliar, por exemplo, se o músculo cardíaco continua vivo depois de um infarto. É a partir daí que se decide que tipo de cirurgia ou tratamento será feito no paciente. O equipamento também é importante na análise de problemas cerebrais, como derrame ou traumatismos. Tem aplicação ainda nas pesquisas neurológicas do mal de Alzheimer e epilepsia.

Outro aparelho que também começou a mudar os diagnósticos está
no Hospital do Coração, em São Paulo. O tomógrafo Somaton reproduz numa tela de computador imagens estáticas de alta resolução do corpo humano. Consegue mostrar até mesmo o coração, o órgão mais difícil
de se obter imagens, por estar em constante movimento. “A visão
que temos deste órgão é tão boa que conseguimos identificar placas
de gordura de até 3 mm de diâmetro”, diz Ibraim Pinto, médico
do hospital. O único problema desses equipamentos é o preço.
No caso do PET-Scan, por exemplo, é preciso desembolsar cerca
de US$ 2,5 milhões. “Seu custo é caro, mas é um investimento que,
no longo prazo, pode reduzir os gastos de reinternação do paciente
e os gastos de um hospital”, afirma Meneghetti.