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Kitsch é um termo alemão para denominar objetos e estilos que se dão pelo exagero ou ainda a cópia de qualidade inferior ao original. Mas nas obras recentes da argentina Liliana Porter, radicada em Nova York, esse exagero kitsch – presente nos pequenos bibelôs de porcelana e brinquedinhos de plástico que compõem esculturas e instalações –transforma-se em seu oposto. A artista realiza criações que dão a esses símbolos redundantes da cultura de massa o poder de representar aquilo que há de mais simples e imperceptível na realidade. Para isso, ela transforma situações comuns, como o trabalho ou o trânsito, em composições miniaturizadas, que deslocam essas atividades do contexto repetitivo do cotidiano.

Exemplo desse trabalho de síntese social realizado por Liliana é a série “Forced Labor” (Trabalho forçado). A construção civil ou a agricultura tem a banalidade de seus gestos deslocada quando as pequeninas figuras humanas lidam com ferramentas de trabalho em tamanho agigantado. “As figuras minúsculas acabam por exigir certa intimidade do espectador, que tem de se aproximar para vê-las melhor. Estou interessada na relação entre o tamanho dos personagens e a tarefa que realizam que, muitas vezes, acabam por engoli-los”, diz Liliana.

Além dos brinquedos, a artista se apropria de outros objetos da cultura kitsch, como os bordados florais, que enfeitam os ambientes domésticos. Na obra “Knot” (Nó) ela os desconstrói, interrompendo-os em um emaranhado de fios, como forma de combater a noção de que a realidade é feita apenas de atos sequenciais e organizados. “Há uma consciência de que o tempo não é linear. A realidade é composta por aquilo que vemos, imaginamos e tudo isso acontece simultaneamente”, comenta Liliana, cuja mostra “The Enemy e Outros Olhares Oblíquos” possui curadoria de Adolfo Montejo Navas, crítico espanhol, radicado no Brasil.