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CAMPANHA Imagem que associa Barack Obama com o islamismo e Hillary Clinton, que acredita ser alvo preferencial da mídia

Os estrategistas democratas que sonharam com a chapa Hillary-Obama para disputar a Presidência já estão jogando a toalha. Com o crescente tom agressivo da campanha, são cada vez mais remotas as chances de o segundo colocado na briga pela indicação do partido aceitar a vaga de vice na chapa do vencedor. Depois de 11 vitórias consecutivas de Barack Obama em primárias, Hillary Clinton pegou pesado no último debate entre os dois précandidatos democratas antes das eleições em Ohio,Texas, Vermont e Rhode Island, marcadas para a terça-feira 4. A postura agressiva foi coerente com a condição de candidata que vem perdendo terreno e, para continuar na disputa, precisa vencer a próxima rodada de primárias. “O senador Obama repete constantemente que eu irei obrigar as pessoas a adquirir planos de saúde”, reclamou Hillary. “Isso não é verdade.” Obama não deixou por menos. “Hillary insiste em dizer que meu programa de saúde pública vai deixar 15 milhões de americanos sem cobertura”, contra-atacou. “E isso também não é verdade.”

Dois dias antes, figuras-chave da equipe de ambos trocaram chumbo, por conta da divulgação de uma fotografia de Obama usando turbante e uma túnica branca. A imagem, que remete à ascendência islâmica do senador, foi feita em 2006, durante viagem de Obama ao Quênia, terra natal de seu pai. No vilarejo de Wajir, ganhou o traje e posou para a fotografia que acabou rodando o mundo depois de ser divulgada pelo site sensacionalista político Drudge Report. O responsável pelo site, o colunista Matt Drudge, é conhecido pelo conservadorismo e por ter revelado, em 1998, o relacionamento extraconjugal entre o então presidente Bill Clinton e Monica Lewinsky, uma estagiária da Casa Branca.

Assim que a imagem de Obama começou a circular, a iniciativa foi classificada como “ofensiva e vergonhosa” por David Plouffe, da campanha de Obama. Para Plouffe, o surgimento e distribuição da imagem fazem parte de “um padrão perturbador”. Com a última referência, quis dizer que partira da equipe de Hillary a idéia de apresentar Obama – que é cristão – como muçulmano. Recentemente, dois voluntários foram afastados da campanha da ex-primeira-dama depois de flagrados passando e-mails nos quais afirmavam que Obama era muçulmano. Hillary nega qualquer envolvimento na tentativa de associar Obama com o islamismo e, por tabela, com extremistas islâmicos.

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O clima também ficou tenso nas hostes republicanas. Em Cincinatti, Ohio, o senador John McCain, o provável candidato do partido à sucessão de George W. Bush, precisou atuar como bombeiro para minimizar os efeitos de provocação similar. Antes do anúncio de sua chegada a um comício, o apresentador de rádio Bill Cunningham referiu-se três vezes ao pré-candidato democrata como Barack Hussein Obama, enfatizando o nome do meio, igual ao sobrenome do ex-ditador Saddam Hussein. Como se não bastasse, o radialista ainda disse que a ex-secretária de Estado Madeleine Albright, partidária de Hillary, parecia “a morte requentada”. Mais tarde, ao ser informado sobre as preliminares de seu discurso, McCain se desculpou pelas referências desrespeitosas. “Quero me dissociar de qualquer comentário pejorativo que tenha sido feito”, disse.

A McCain não interessa nem um pouco misturar questões pessoais na campanha política. Ele ainda contabiliza os estragos feitos por recente reportagem do jornal The New York Times, sugerindo que em 2000 ele teve uma relação amorosa com Vicki Iseman, uma lobista da área de telecomunicações. O mais grave é que, segundo o jornal americano, o senador teria usado sua influência para interceder junto a agências reguladoras a favor das empresas que Vicki representava. Em um momento que tem praticamente garantida a indicação republicana, McCain precisou vir a público para desmentir a reportagem. Contou com o apoio da mulher. “Ele é um homem de grande caráter”, garantiu Cindy McCain.

Com sua vida particular exposta, o senador se declarou “desapontado” com o The New York Times e avisou que não desviaria a atenção das “grandes questões” do país. Ele não é o único pré-candidato desapontado com a imprensa. Nas fileiras democratas, Hillary reclama dos jornalistas, dizendo que são complacentes com Obama e incisivos com ela. Como aval para a queixa, citou quadro recémapresentado pelo programa humorístico de tevê Saturday Night Live, no qual jornalistas fictícios vibraram com as respostas de Obama a perguntas no estilo “o sr. está confortável?” A Hillary, por sua vez, reservaram uma bateria de questões sobre os seus problemas conjugais com Bill Clinton. Aliás, na vida real, acaba de ressurgir em Las Vegas a ex-dançarina Jennifer Flowers, que teve uma relação extraconjugal com Clinton, nos tempos em que ele era governador do Arkansas. Vem aí mais combustível para a temporada de baixaria na política americana.

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Efeito fulminante
A divulgação de uma fotografia já mudou o rumo de pelo menos uma eleição presidencial americana. Em um país no qual a infidelidade conjugal costuma provocar tremores políticos, a imagem do senador democrata Gary Hart com a modelo e amante Donna Rice sentada em seu colo, à beira-mar, fez naufragar uma trajetória de sucesso. Candidato favorito à indicação do Partido Democrata para as eleições de 1988, o senador, que era casado, bem que tentou minimizar o impacto do episódio, mas acabou retirando seu nome da disputa. Depois disso, caiu no ostracismo político.


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