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Na última viagem aos Estados Unidos que fez com os filhos – Pedro, cinco anos, e Bruno, sete, – Stella Matos, 39, era só orgulho. Filhos de brasileiros, nascidos no Brasil, os meninos não se atrapalharam com o inglês e até se arriscaram em pequenas conversas com os americanos. Isso foi possível porque, com apenas um ano, os garotos foram matriculados em uma escola brasileira bilingüe (português-inglês) em São Paulo. Neste mundo globalizado, em que falar línguas é um diferencial positivo, muitos pais querem que os filhos tenham contato com outro idioma antes mesmo de deixar as fraldas. Por isso, este é um mercado em expansão. Hoje existem 105 escolas bilíngües no Brasil, um crescimento de 15% em relação ao ano passado. Embora os meninos ainda não sejam fluentes, Stella está satisfeita: “É uma oportunidade de eles terem contato desde cedo com o inglês e aprender mais naturalmente”, diz ela.

Uma das pioneiras, a PlayPen, onde estudam Pedro e Bruno, deixa as crianças pequenas em imersão total no inglês no período escolar. Aulas em português só no fim do ensino infantil – o primeiro passo para a alfabetização na língua materna. Ao contrário dos colégios internacionais, como as escolas americanas, os bilíngües seguem o currículo nacional padrão e têm a preocupação de valorizar a cultura brasileira. Esta é a proposta da escola be.Living. Lá, os pequenos só falam inglês – exceto na hora do “Coisas Daqui”, quando duas vezes por semana aprendem em português história, cultura e folclore brasileiros. “Achamos importante a criança saber de seu país”, diz a diretora Patricia Pavan.

É inevitável imaginar que conviver com duas línguas pode criar confusão na cabeça de crianças pequenininhas, mas diretores dos colégios bilíngües dizem que não. “É como se a criança desenvolvesse dois códigos, um usado na escola e outro, em casa”, diz Célia Tilkian, diretora da PlayPen. Para ilustrar, ela conta que um aluno, ao ser perguntado se tinha comido ovo no colégio, respondeu que tinha comido “egg”.

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Escolas bilingües e crianças pequenas é um tema polêmico. A presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Maria Irene Maluf, acredita que a exposição a outro idioma no colégio desde cedo pode ser positivo. “Nos primeiros anos de vida, o cérebro cresce muito. A criança está mais propensa a aprender e a fixar”, diz ela. A neuropsicóloga infantil Ana Olmus pondera. “Nessa idade, os pequenos precisam do manhês”, diz ela, referindo-se à maneira de as mães falarem. O mais importante é os pais não pressionarem a criança. “A vaidade deles pode deixá-la insegura e infeliz”, diz Maria Irene. “Nem todas têm capacidade de lidar com esta situação. A criança tem que estar feliz, sem sinais de ansiedade.”

Também é cada vez mais comum escolas particulares oferecerem aulas de línguas logo na primeira infância. Na Escola Parque, no Rio, as crianças têm inglês três vezes por semana a partir de um ano. A diferença é que, para os pequenos, isso pode ser feito de uma forma lúdica, até mesmo na hora do recreio. A publicitária Márcia Machado, 39 anos, mãe de Isadora, de sete, não priorizou o ensino de outro idioma na hora de matricular a filha – na época com um ano e meio – na escola. Mas hoje gosta quando vê Isadora se divertir com seus livrinhos em inglês. “Acho as aulas bem-vindas porque ela se envolve com outra língua”, diz Márcia.

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Brasileiros internacionais
Foi-se o tempo que as escolas internacionais no Brasil atraíam somente filhos de estrangeiros e diplomatas. Hoje, além de aceitar brasileiros, em alguns estabelecimentos eles são maioria. A American School of Brasília possui 110 alunos – 65% de brasileiros, 15% de americanos e 20% de outras 30 nacionalidades. A diferença entre as internacionais e as brasileiras bilíngües é que as primeiras privilegiam a cultura do país de origem e seus currículos têm como base o ensino lá de fora. O ano letivo começa em agosto e aulas de português ou história do Brasil podem ser apenas uma opção. Há casos, inclusive, de escolas, como a Brasilia International School, que sequer são reconhecidas pelo Ministério da Educação. No Brasil, há 20 colégios internacionais – principalmente americanos e britânicos – nas principais capitais, como São Paulo, Rio, Minas Gerais, Salvador e Porto Alegre. O preço da anuidade é mais salgado: varia de US$ 7 mil a US$ 22 mil.


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