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Nas últimas décadas, o Brasil assumiu uma posição de destaque no cenário econômico mundial e vem também apresentando avanços significativos em alguns de seus indicadores educacionais. Somos hoje o país com o mais rápido crescimento do nível de escolaridade média da população, superando a China, a recordista anterior, segundo estudo do Banco Mundial. Universalizamos o acesso ao Ensino Fundamental, com 97,6% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas. E desenvolvemos um dos mais consistentes sistemas de avaliação do mundo, que deu um norte para a qualidade da educação ao estipular indicadores e metas a serem perseguidas. Outro avanço foi a criação do Fundef, posteriormente ampliado para Fundeb, que incentivou a ampliação das matrículas de forma mais equitativa nas redes públicas e foi um marco na efetivação do regime de colaboração e da valorização da carreira de professor.

Mas esses avanços não foram suficientes para garantir a permanência e o sucesso da criança na escola. De cada dez alunos que entram no primeiro ano, só cinco chegam ao final do Ensino Médio, e destes cinco restantes apenas 11% sabem o que precisam saber em Matemática. Isso equivale a dizer que deixamos metade do principal capital do país, os estudantes, se perderem no meio do caminho da vida escolar, e que grande parte dos remanescentes não realiza seu potencial, nem avançam nas etapas seguintes de escolaridade. Eis porque temos apenas 13% dos brasileiros de 18 a 24 anos matriculados no Ensino Superior enquanto a Coreia do Sul tem mais de 80% de sua população nesta faixa etária frequentando as universidades.

Essa trajetória de insucessos começa já nos primeiros anos da vida escolar, através de uma alfabetização frágil e inconsistente, que acaba gerando a não aprendizagem, a repetência e o abandono escolar. Em matéria de alfabetização, aliás, o Brasil não é bom exemplo. Afinal, chegamos à metade do século 20 com 50% da população analfabeta, enquanto a Argentina tinha 14% e os Estados Unidos, 3%, ou seja, um terço do que ainda temos hoje (9,7%). Some-se a isso os 25% de analfabetos funcionais.

A educação brasileira, nas próximas décadas do século 21, estará pressionada por duas exigências igualmente prioritárias: de um lado, manter e acelerar os esforços para saldar a dívida educacional que se traduz em baixos índices de aprendizado para os alunos; de outro, investir com ousadia para ampliar as fronteiras de qualidade, de modo a atender aos novos desafios que a sociedade do conhecimento nos impõe. Ou seja, a educação que ainda não ensina adequadamente a escrita, a leitura e o cálculo terá de oferecer às crianças e jovens as ferramentas para serem cidadãos capazes de agir numa sociedade e numa economia mais complexas, que exigem valores e competências bem mais abrangentes, ligadas à inovação, a uma participação social e política mais ativa e ambientalmente responsável.
 

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