Barriga no lugar, bumbum e pernas bem torneadas são uma espécie de sonho de consumo da humanidade. Antenadas com esse anseio coletivo, as academias de ginástica aproveitam o verão para atrair alunos ou estimular a fidelidade dos já conquistados. Só que desta vez algo de novo se desenha no horizonte. Claro, ainda há muito pula-pula e corre-corre – e há quem goste disso. Felizmente, porém, as academias estão se esforçando para oferecer alternativas mais criativas, relaxantes e divertidas. As novidades vão desde alongamento na água, para ajudar a sossegar o espírito, até aulas inspiradas nas artes circenses. Fora dos “clubes” de malhação, também surgem opções que estimulam a atividade física. Agências de turismo ecológico e de esportes de aventura promovem ao longo deste e dos próximos meses verdadeiras maratonas ao ar livre. Meter o pé na mata já virou mania. Além disso, os especialistas garantem que a tendência do fitness é associar o exercício ao prazer. Ou seja, a regra do momento não é apenas aperfeiçoar os contornos. Além de fazer par com a boa saúde, a atividade física está cada vez mais ligada ao bem-estar.

Por isso, prepare o tênis. Mesmo que você não goste do burburinho das academias, é possível adotar o slogan famoso: mente sã em corpo são. Uma das formas de aliar prazer e exercícios é ampliar o contato com a natureza. As chamadas atividades outdoor – praticadas ao ar livre – representam uma importante tendência do fitness. Ainda mais nesta estação do ano, quando os dias ensolarados aumentam a disposição de meter o pé na mata. Não é à toa, portanto, que algumas das principais academias do País decidiram montar departamentos específicos ou recorrer a profissionais para organizar a malhação em meio à rica flora brasileira. As academias levam alunos e até quem não é aluno para fazer incursões (passeios curtos ou pequenas viagens) em lugares onde há corredeiras, cachoeiras, paredões e trilhas. Desse modo, o corpo é movimentado e o espírito alimentado.

Adepta dos exercícios ao ar livre, a paulista Andrea Prado, 29 anos, costuma reservar finais de semana para fazer rafting (descida em corredeira), trekking (caminhadas por trilhas), escalada e rapel (técnica de descida que envolve cordas). “A gente leva uma vida estressante. Quero mais contato com a natureza. Assim, meu humor melhora e recebo mais estímulos à atividade física”, conta Andrea, que é trader (profissional que lida com exportação). Ela frequenta a academia Companhia Athlética, de São Paulo, que abriu recentemente uma unidade batizada de Cia Outdoor, que treina interessados em fazer provas de aventura e triatlo. Ou malhadores como Andrea, que simplesmente gostam de exercícios em ambientes abertos. É uma turma grande, formada por alunos e não-alunos. “Antes fazíamos excursões isoladas, mas decidimos profissionalizar o setor. Agora, abrangemos um público maior porque nesse tipo de atividade os amigos e os familiares do aluno são envolvidos. O lado social do fitness está se valorizando, juntamente com o desejo de integração à natureza”, observa Patrícia Lobato, assessora corporativa da academia, que neste ano abre mais uma unidade Outdoor, desta vez em Florianópolis.

Corredeiras – Outras empresas estão atentas ao fortalecimento do apelo natural. As academias têm feito acordos com agências de ecoturismo para viabilizar as excursões. Em São Paulo, um dos pontos preferidos dos malhadores contumazes e dos nem tanto é Brotas, no interior. “Recebemos grupos de grandes academias, como Runner e Competition. Montamos os programas e normalmente os escolhidos são os que envolvem água ou técnica vertical, além das trilhas de trekking”, explica Giovana Guedes, administradora da agência EcoAção. É claro que muitos dos que se aventuram nessas atividades decidem enfrentar paredões
e corredeiras por conta própria. Foi o caso do veterinário José Adolfo Trevelin, 30 anos, de Ribeirão Preto. Numa visita a Brotas, decidiu fazer
o agitado rafting. No final, já em águas tranquilas, sentiu-se em paz. “Prefiro as opções ao ar livre porque jogam o pique lá em cima
e depois promovem relaxamento”, afirma.

As atividades ao ar livre exigem, de fato, uma boa dose de esforço
físico. De acordo com a opção, diferentes grupos de músculos são trabalhados. Por isso, o ideal é alongar-se antes e depois da “aventura”. Essas opções são excelentes complementos para quem já faz exercícios. E podem funcionar como o gatilho para iniciar um programa de fitness.
O arborismo, por exemplo, mostra que é possível superar barreiras que
se imaginavam intransponíveis. A modalidade consiste em subir em árvores de alturas respeitáveis e passar de uma para outra até completar um circuito marcado por passarelas estreitas – às vezes, constituídas
de finas hastes de madeira ou de cabos que balançam a cada vento.
Com frio na barriga, a bióloga brasiliense Haifa Cury, 28 anos, bem
que hesitou, mas encarou o desafio. “Encontrei algo que um leigo
de qualquer idade pode fazer. Tem tanto esporte que a gente precisa treinar bem antes de praticar”, brinca.

Equilíbrio – Praticar exercícios ao ar livre faz parte da tendência mundial de substituir o fitness (boa forma) pelo wellness (bem-estar). Ou seja, a troca do sacrifício em nome da silhueta fina por atividades que deixam as curvas no lugar, é claro, mas também dão prazer. É uma evolução bem-vinda. “O conceito de wellness prevê o equilíbrio físico, emocional, social, mental e espiritual”, esclarece o professor Mauro Guiselini, do Centro de Integração do Corpo, um espaço que oferece sete níveis de atividades que combinam aulas “fortes” (musculação, bicicleta, esteira) e “suaves” (alongamento, exercícios respiratórios e relaxamento). “Devagarinho, as academias e a sociedade estão chegando nesse patamar, dando foco maior ao bem-estar”, garante. Uma instituição que aderiu à idéia é o Serviço Social da Indústria (Sesi), de São Paulo, que lançou neste ano a Clínica do Exercício, Saúde e Bem-Estar, seguindo o modelo de exercícios de Guiselini. É um projeto piloto que promete ser incorporado definitivamente em 2004. “É sinal de que os paradigmas da atividade física já começaram a mudar. É uma revolução”, afiança o professor. Outros especialistas seguem essa linha. “Cada vez mais as pessoas querem se exercitar e ganhar qualidade de vida”, concorda Waldir Soares, presidente da Fitness Brasil, empresa líder na América Latina no setor de informação e desenvolvimento de projetos na área.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Exemplos da atenção dada ao wellness não faltam. Neste verão, o conceito promete entrar com força total nos templos da boa forma. A Fórmula Academia, em São Paulo, desenvolveu duas aulas que seguem o estilo fitness zen. Uma delas é o ashtanga, um tipo de ioga baseado em uma série de movimentos tradicionais, realizados em sincronia com a respiração, mas em ritmo intenso. As aulas duram cerca de duas horas e meia. Mas isso não deve assustar ninguém. “Os alunos fazem as mesmas sequências, porém a intensidade dos movimentos depende de cada um”, explica a professora Catherine Lobos. Os exercícios físicos e respiratórios aquecem o organismo, aumentando a transpiração. De acordo com Catherine, esse processo ajuda a eliminar as toxinas do organismo e também melhora a circulação sanguínea, além de proporcionar bem-estar

Respiração – Ainda sob essa ótica, um método diferente que começa a ganhar destaque é o gyrotonic, criado pelo ex-bailarino romeno Juliu Horvath. Ele combina princípios de dança, natação, ginástica, ioga e tai chi chuan, aplicados a movimentos circulares. Os exercícios podem ser feitos no solo, sobre bancos e colchonetes, ou com o auxílio de um aparelho especialmente criado para a execução das séries. “Os movimentos são espiralados e ondulatórios. E tudo é feito em sintonia com a respiração”, explica a bailarina Daniela Augusto, professora da técnica. “É uma malhação inteligente. Não se preocupa só com a forma, mas com o conhecimento do corpo”, acrescenta. No Brasil, o gyrotonic está disponível, por enquanto, em apenas algumas cidades. Em São Paulo, a fisioterapeuta Fernanda Zornoff, 28 anos, se exercita no estúdio de Daniela. “Ganhei mais consciência corporal. Além disso, a técnica me ajudou durante o meu trabalho, que exige muito da postura”, conta.

Atualmente, essas atividades, que também ajudam a relaxar o corpo e diminuir o stress, estão se tornando cada vez mais comuns. No Projeto Acqua, academia de São Paulo, o alongamento na piscina está conquistando os alunos. Até os homens, normalmente pouco dispostos a se alongar, aderiram aos exercícios. Metade da aula, que dura 30 minutos, é usada para trabalhar a flexibilidade. “A água dá mais amplitude corporal e a pessoa se sente menos travada”, diz a professora Cláudia Nelem. Depois disso, é a vez do relaxamento. No final, apoiados em tubos flutuantes, os alunos soltam o corpo e ouvem uma música suave. E a luz da sala é apagada. “Hoje, todos pedem mais qualidade de vida. Esse é o caminho da atividade física”, completa Cláudia. Na academia, uma forma nova de combater o desgaste do cotidiano é a aula circense. Evidentemente, o pique é outro. O professor Robinson Zizza, do Projeto Acqua, conta que os alunos já chegam à sala mais leves porque encontram algo que diverte. “Pode-se pensar no lado descontraído, mas é bom lembrar que a concentração nos movimentos, a flexibilidade e a força também são trabalhadas”, destaca. Os alunos fazem pirâmides humanas, utilizam malabares e praticam acrobacias em conjunto. A criatividade da aula circense – também oferecida em outros lugares – é um elemento que atrai alunos. A doceira Fabiana Consentino, 27 anos, e a administradora de empresas Sheila Figueiras, 22, ambas de São Paulo, fazem fitness acrobático na Fórmula e são fãs do método, que aumenta a flexibilidade. “Tenho mais prazer com essa atividade do que com as aulas normais”, diz Fabiana. Sheila assina embaixo: “Além de me exercitar, a técnica melhora minha postura e traz bem-estar.”

A criatividade é importante até para adaptar brincadeiras da infância como meio de entrar em forma. É o caso de pular corda, uma das apostas de verão da Academia do Corpo, no Rio de Janeiro. A aula, pilotada pelo professor Vinicio Antony, queima até 500 calorias em apenas meia hora de duração. “Ela trabalha intensamente as pernas, o bumbum e o abdome, porque os pulinhos são feitos com o quadril encaixado”, explica. É um momento curioso de se ver. Tem gente que se enrola toda, tem gente que é craque. Caso da estudante de psicologia Joana Amado Simões, 23 anos. Apesar de ter pulado muito na infância, tropeçou bastante até pegar o ritmo. Perdeu um quilo, a cintura afinou, a barriga desapareceu e o ânimo aumentou. Está feliz como criança.

Calorias – Há outra modalidade que faz uma releitura de atividades conhecidas. Na academia Velox, também no Rio de Janeiro, foi lançado recentemente o acquafatburner, inventado pela professora Mercês Nogueira Paulo. Ela se inspirou no programa dos astronautas americanos (aeróbica intensa com intervalos) para criar um método que propicia perda rápida dos quilos a mais. Em 50 minutos de malhação radical,
a aula consome entre 400 e 500 calorias. Feita com aparelhos nas
mãos e nas pernas para aumentar a resistência na água, ela é dividida
em séries bem puxadas. No final, dez minutos são reservados para exercícios localizados. A atriz Patricya Travassos, em ótima forma
para seus 50 anos, experimentou o acquafatburner. “É uma
modalidade mais intensa”, confirma.

Qualquer que seja a opção de atividade física, o fundamental é gostar de si. Quem não está com o lado emocional em equilíbrio pode ter dificuldade de começar a se exercitar. Harmonizar esse aspecto, portanto, é necessário. Se o problema é falta de pique, às vezes juntar um grupo de amigos para correr num parque é o suficiente. Por outro lado, ficar treinando e treinando sem se sentir satisfeito também não ajuda. “Caminhar por caminhar já se faz há muito tempo. Temos atualmente uma preocupação maior com o lado lúdico associado ao condicionamento físico. O fator psicológico faz parte do sucesso nas metas estabelecidas”, ensina Aullus Sellmer, dono da assessoria esportiva 4any1, que desenvolve treinamentos individuais e para empresas. Sellmer lembra que mesmo nos grandes centros urbanos é possível praticar esportes radicais, se a pedida for essa. E encerra: “O ser humano adora desafios.” Portanto, escolha uma atividade que preencha seus critérios de prazer e mexa o corpo, a cabeça, a alma.

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias