000_Mvd1652295.jpg 

 Dezenas de milhares de pessoas protestaram pacificamente no Chile nesta quinta-feira (25) no segundo dia de greve geral de trabalhadores, que teve a adesão de estudantes e professores, depois de uma madrugada carregada de violência e centenas de detidos.

O protesto ocorre em um ambiente de efervescência social que colocou em xeque o governo do presidente Sebastián Piñera, obrigado a reagir a uma série de manifestações que sitiaram cidades nas últimas semanas.
 
Nesta quinta-feira, grupos de manifestantes, em sua maioria estudantes e professores, reuniram-se em quatro pontos de Santiago rumo à avenida Alameda, a cerca de duas quadras do palácio governamental, observados de perto pelas forças policiais. A polícia cercou todo o perímetro da casa de governo para evitar o avanço dos manifestantes, que ocupavam várias quadras da avenida Alameda.
 
O protesto, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do país, teve o caráter festivo das manifestações convocadas pelos estudantes em dias anteriores, apesar dos incidentes isolados, menos graves que os da noite de quarta-feira e madrugada de quinta-feira, carregados de violência. "Tivemos um protesto tranquilo e ordenado, no qual não houve problemas maiores", afirmou o porta-voz do Executivo, Andrés Chadwick.
 
Essa declaração contrastou com a feita de manhã pelo subsecretário Ubilla, que afirmou, sobre o que ocorreu na madrugada, que "o balanço não é positivo. É um balanço de violência, no qual grupos tentaram realmente afetar a ordem pública". O protesto "é a resposta do povo do Chile àqueles que negam seus direitos, aos que não querem conversar. Agora é a hora de conversarmos de verdade, caso contrário, isso vai continuar", afirmou o líder da CUT, Arturo Martínez.
 
O dia foi precedido por uma violenta noite de confrontos, saques e ataques a instituições e lojas, que se somaram às batalhas entre manifestantes e a polícia, registradas durante toda a quarta-feira, especialmente nos arredores das universidades. Mais cedo nesta quinta-feira – assim como ocorreu na véspera – foram levantadas barricadas incendiárias em vários cruzamentos da cidade, que afetaram o trânsito no horário de pico da manhã, quando o transporte público operou com relativa normalidade.
 
No total dos dois dias de greve, foram registrados 456 detidos e 78 feridos, na maioria policiais, segundo balanços oficiais. Nos dois dias, a maioria dos órgãos públicos e parte do comércio do centro de Santiago permaneceu fechada e havia uma menor quantidade de pessoas circulando. No leste da cidade, no entanto, a situação era normal.
 
Amplo espectro
 
A ministra do Trabalho, Evelyn Matthei, estimou em 9% a adesão de funcionários públicos à greve nesta quinta-feira, enquanto que a Associação Nacional de Servidores Fiscais (Anef) disse que foi de "mais de 80%". O protesto foi convocado com pedidos que vão desde uma reforma na Constituição e uma mudança no Código do Trabalho, até a redução dos impostos aos combustíveis. Também adota a reivindicação dos estudantes. "Estamos pensando em novas convocações. Dissemos que ter educação é um problema social, é um problema de nossas famílias. Os trabalhadores estão com nossos pais também", afirmou a líder estudantil Camila Vallejo, que participou da manifestação. "A CUT não tem força nem argumentos. Foram na onda dos estudantes", acusou o prefeito direitista de Santiago, Pablo Zalaquett.
 
A manifestação atinge o presidente Sebastián Piñera, 17 meses depois de ter assumido o governo, quando sua popularidade encontra-se em um mínimo de 26%, derrubada pelo longo conflito estudantil, ao qual deu respostas qualificadas como "insuficientes" pelos estudantes. O governo tem "que ceder em suas posturas ideológicas e dar um passo rumo a uma posição majoritária no país", afirmou nesta quinta-feira um dos líderes estudantis, Giorgio Jackson.