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O Google fez na semana passada sua jogada mais ambiciosa desde a sua fundação, em 1998. A empresa anunciou a compra da Motorola Mobility, braço da multinacional americana que fabrica dispositivos móveis – leia-se celulares e tablets – e receptores de tevê a cabo. A negociação ainda precisa ser autorizada pelas autoridades americanas. Se confirmada, será a maior aquisição já realizada pela empresa de Sergey Brin e Larry Page.

Com a compra da Motorola por US$ 12,5 bilhões (em dinheiro), 63% acima do valor de mercado, o Google entra de vez no mercado de telefonia móvel. Até então, ele fornecia apenas um sistema operacional para esses aparelhos, o Android. Mais importante do que a empresa em si, porém, o interesse de Brin e Page é nas 17 mil patentes para dispositivos móveis que a Motorola detém. Recentemente, Apple, Microsoft e um consórcio de outras empresas adquiriram o portfólio da agora extinta Nortel, por um montante de US$ 4,5 bilhões. “O Google tem agora o suficiente para competir com força”, disse à ISTOÉ Camila Milanesi, analista da consultoria Gartner.

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LIBERDADE
O engenheiro Robério Alvim planeja trocar o iPad por um tablet da Motorola

Nos últimos três anos, a disputa por essas tecnologias se tornou mais acirrada no mercado de smartphones. A RIM, fabricante do BlackBerry, que até então dominava o mercado, perdeu espaço com a chegada do iPhone, em 2007, e do sistema operacional Android, no ano seguinte. A aquisição é um marco para o Google, que fracassou com o lançamento do seu celular, o Nexus One, no ano passado, e desde então não fabricava nenhum aparelho que funcionasse com seu programa. Apple, RIM e HP, por ou­tro lado, dominam ambas as partes da produção.

O Android é o programa para smartphones e tablets mais usado no mundo, com 43% de um mercado em que, até o ano passado, só detinha 17%. Como é usado em aparelhos de diferentes fabricantes (o software é aberto, dispensando o pagamento de royalties), ainda funciona melhor em alguns do que em outros, o que torna difícil fazê-lo competir com o iOS, sistema operacional dos líderes em seus segmentos, iPhone e iPad, da Apple.

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Um fato não tão comentado, mas também relevante, é que agora o Google possui a tecnologia para tevê a cabo e pode fazer emplacar o Google TV, serviço de exibição de vídeos via internet na televisão. “A combinação das duas empresas vai não apenas potencializar o Android como também fortalecer a competição e oferecer aos consumidores inovação acelerada, mais opções de escolha e excelentes experiências aos usuários”, disse Page, que desde abril exerce o cargo de presidente-executivo do Google, em post no blog oficial da empresa.

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FIDELIDADE
A dentista Gisele Maffei não abre mão da tecnologia criada pela Apple

A transação veio em boa hora para o engenheiro Robério Alvim. Usuário do Android em seu smartphone, ele pensa agora em substituir seu iPad por um Xoom, o tablet da Motorola. “Os produtos da Apple são muito bons, mas o modelo de negócio deles é muito fechado”, diz. “A partir do momento em que você compra deles, fica preso. O Android dá muito mais liberdade para se conectar com diferentes aparelhos”, afirma.

Alvim é um exemplo de como o confronto direto entre Google e Apple será benéfico ao consumidor. A concorrência deve se traduzir em preços mais baixos para smartphones e tablets. O iPhone é líder global do mercado, com 20%. Os aparelhos da Motorola, como Milestone e Atrix, detêm menos da metade disso. A união do fabricante de celulares com o desenvolvedor do sistema operacional pode forçar a empresa de Steve Jobs a baixar os preços. O cenário seria ideal para a dentista Gisele Maffei. Atualmente, ela usa o computador iMac, o iPhone e tem as duas versões do iPad, que usa em seu trabalho diário. “Procuro trabalhar sempre com o melhor. A Apple ainda é a que oferece os aplicativos mais adequados para o meu trabalho diário”, diz.

A compra da Motorola acontece no ano em que a empresa produziu alguns dos mais inovadores dispositivos móveis do mercado. Em janeiro, ela anunciou o Atrix, um híbrido de celular com laptop, e o Xoom, que usa a versão mais avançada do Android. Mesmo com tamanho poder, o Google garante que seu sistema operacional continuará aberto para todos os fabricantes, gratuitamente. “Continuaremos trabalhando com nossos parceiros para desenvolver e distribuir aparelhos de ponta”, disse o executivo-chefe do Android, Andy Rubin. Ironicamente, esse novo capítulo da batalha dos smartphones e tablets poderia muito bem ser definido pelo slogan do iPad 2. “Isso muda tudo. De novo.” 

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