É difícil entender o que acontece na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio de Janeiro, todo ano, em pleno Carnaval. O trágico espetáculo da mortandade de peixes desafia o entendimento de especialistas, mas não chega a ser um fenômeno inexplicável. Falar sobre suas causas é chafurdar num mar de contradições: condições climáticas que não permitem a renovação da água, excesso de lodo, alta proliferação de algas que consomem o oxigênio, despejo de esgoto e incompetência política. Há maneiras de se controlar o desastre ambiental? Tudo indica que sim. Está em fase experimental o serviço de retirada do lodo, há equipamentos monitorando as 20 galerias pluviais e registrando o índice de despejo de poluentes, além das sondas que avaliam a oxigenação, a turbidez, a acidez, a temperatura e a salinidade da água, sem falar da polêmica obra, em curso eterno, para alargamento da comporta do canal do Jardim de Alah, que faz a ligação entre a lagoa e o mar. Nada disso, entretanto, evitou o desastre que se repete pelo terceiro ano consecutivo.

Estudiosos afirmam que o problema é mais antigo do que se supõe. O nome indígena da Lagoa Rodrigo de Freitas é Sacopenapã, que significa lagoa do peixe podre, segundo o economista Luiz Prado, pós-graduado em biologia e ecologia humana pela Faculdade de Medicina de Paris. Prado afirma que as primeiras propostas documentadas para resolver o problema da mortandade de peixes no local datam de 1880. Desde o século XIX estava desvendada a causa: os peixes morrem asfixiados. E a falta de oxigênio se deve à enorme camada de lodo acumulada no fundo da lagoa e às algas, que se alimentam de esgoto – cada vez mais despejado ilegalmente no local. Seria natural esperar que no século XXI o problema estivesse solucionado.

O espetáculo é desagradável aos olhos e uma ofensa ainda maior ao olfato. Na Quarta-Feira de Cinzas, depois que a poeira do Carnaval baixou, foram recolhidas 94 toneladas de peixe da lagoa, quase 45 a mais do que em 2001 e seis toneladas a menos do que em 2000. Os números do passado não estão registrados, mas o combate ao problema envolve especialistas graduados (e, digamos, audaciosos), como o Barão de Teffé, que propôs bombear a água do mar para a lagoa com a ajuda de 40 moinhos de vento, e Oswaldo Cruz, o pai do famoso sanitarista, que sugeriu o aterramento definitivo da lagoa. Sem solução rápida à vista, resta a dúvida: será que os peixes mortos terminam na panela?


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