prato.jpg

 A parcela mais pobre da população brasileira é a que mantém uma dieta mais saudável, considerando os itens presentes na mesa dessas pessoas diariamente. De acordo com a análise de consumo alimentar da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (28) no Rio de Janeiro, além de comer mais arroz e feijão do que as outras classes, as pessoas com renda de até R$ 296 comem o dobro de batata doce e a metade de batata frita que os brasileiros com renda superior a R$ 1.089.

"Como (as pessoas de menor renda) não têm disponibilidade para comprar tanto, têm uma alimentação mais básica. E a alimentação mais básica tem melhor qualidade nutricional. Mas a diferença entre o consumo dos melhores e piores alimentos é muito pequena. Todo mundo consome os dois tipos de coisa", avaliou André Martins, pesquisador da POF/IBGE.

A pesquisa foi feita durante um ano por meio de formulários preenchidos individualmente por mais de 34 mil pessoas relatando o que comeram e beberam durante dois dias não consecutivos. A análise mostrou que as pessoas com menor renda foram as que revelaram um consumo maior de peixe fresco e salgado e carne salgada. Essa parcela também se destaca por consumir menos doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados. Refrigerante diet é um item praticamente inexistente na mesa dos mais pobres.

"Nos rendimentos mais baixos, você tem muita presença de carboidrato. Já tem também açúcar e gorduras, mas nem tanto quanto os de maior renda porque não tem disponibilidade para ficar comprando batatinha (industrializada). Mas mesmo na classe menos favorecida você já tem inadequação de gordura e açúcares", disse Martins.

Se por um lado o consumo de refrigerante aumenta à medida que a renda melhora, os mais ricos são os que mais consomem frutas, verduras, leite desnatado e derivados do leite. "As classes menos favorecidas não têm consumo adequado de frutas, legumes e verduras. Quando se vê as rendas mais altas, a participação desses produtos aumenta. Mas nenhuma delas consome a quantidade de energia que deveria vir das frutas, dos legumes e das verduras e isso acaba rebatendo nos micronutrientes, como cálcio e vitaminas", avaliou o pesquisador.

O levantamento do IBGE mostra que quanto mais alta a renda, maior é o número de pessoas que fazem pelo menos uma refeição fora de casa por dia. "Os dois (mais pobres e mais ricos) consomem coisas erradas. Entra a disponibilidade de rendimento e a pessoa começa a comprar biscoito recheado, batata industrializada, já começa a consumir mais fora de casa e come pizza, toma refrigerante. Na classe de rendimento mais alta é absurdo o consumo de refrigerante", disse André Martins.

Essa mesma comparação pode ser feita entre a população urbana e rural. A análise do consumo alimentar mostrou que as médias diárias de consumo per capita de itens como arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina, peixes e carnes foi muito maior na zona rural. Na área urbana os entrevistados revelaram um consumo maior de alimentos prontos ou processados, como pão de sal, biscoitos recheados, iogurtes, vitaminas, sanduíches, salgados, pizzas, refrigerantes, sucos e cervejas.

Consumo de sal

Quase todos os brasileiros consomem mais sal do que o recomendado pelos órgãos nacionais e internacionais de saúde – 2.200 miligramas/dia (mg/dia). Mais de 81% dos meninos e de 77% das meninas, todos com idade entre 10 e 13 anos, ingeriram mais sódio do que o valor máximo tolerável. Entre os meninos nesta faixa etária, 10% consumiram mais do que o dobro desse limite.

O analista do IBGE André Martins considera preocupante o índice de consumo de sódio em todas as faixas etárias no país. “Nas médias, por classe de idade, do consumo diário esperado de sódio, 90% das pessoas consomem acima do limite esperado. E se olhar os 10% que consomem mais, vai ver que o mínimo de consumo dele já é o dobro da recomendação diária.”

A média populacional de ingestão de sódio no Brasil ultrapassa 3.200 mg/dia. Em uma das análises do levantamento, os pesquisadores relacionaram o consumo elevado de sódio ao consumo de pizza, carnes processadas, salgadinhos industrializados, biscoitos recheados e refrigerantes.

Entre os rapazes com idade entre 14 e 18 anos, e adultos, entre 19 e 59 anos, pelo menos 10% de cada um desses grupos relataram um consumo diário de 5.200 miligramas. Para o pesquisador André Martins é possível apontar uma relação desse consumo inadequado com a alimentação fora de casa que, pela primeira vez, foi considerada na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). De acordo com o levantamento, essa alimentação na rua representa 16% da média de energia consumida pelos brasileiros – que variou entre 1.490 e 2.289 quilocalorias (kcal).

Bebida

Os homens consomem cinco vezes mais cerveja e bebidas destiladas do que as mulheres, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE. A análise do consumo familiar das pessoas mostra, por exemplo, que todos os dias, 5% da população masculina bebem cerveja.

Apesar do consumo superior, no caso da cerveja, o analista André Martins considera que “as mulheres estão vindo atrás e não estão tão distantes. Mas os homens reportaram um consumo de cerveja muito maior e provavelmente mais fora do domicílio”. O levantamento mostra que 63,6% dos relatos atestam que o consumo ocorreu fora de casa, tanto entre a população urbana quanto a rural.

Além da cerveja, também é mais comum o brasileiro consumir outros tipos de alimentos na rua, como é o caso dos salgadinhos industrializados (56,5%), salgados fritos e assados (53,2%), bebidas destiladas (44,7%), pizzas (42,6%), sanduíches (41,4%), refrigerantes diet ou light (40,1%), refrigerantes (39,9%), salada de frutas (38,8%) e chocolates (36,6%). O mesmo ocorre em relação ao consumo de sorvetes e picolés. Nas áreas urbanas, metade dos entrevistados disseram que consomem bebidas destiladas fora dos domicílios, enquanto no meio rural, 26,4% ingerem o produto em bares, restaurante e outros locais públicos.

De acordo com a pesquisa, esse hábito de se alimentar e beber em restaurantes, bares e lanchonetes, por exemplo, é mais comum entre os homens, exceto quando se trata de consumo de itens como pão integral, biscoito doce, produtos diet e chocolate. “Nas prevalências de consumo de doce, as mulheres aparecem liderando, mas também reportaram o consumo de frutas, legumes e verduras”, disse o pesquisador.

A liderança do sexo feminino no consumo de frutas, legumes e verduras, ainda é insuficiente para equilibrar a alimentação dos brasileiros. De acordo com a análise do IBGE, a população não consome esses produtos na quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Guia Alimentar Brasileiro (do Ministério da Saúde), que seria de 400 gramas por dia. Em contraponto, o consumo de sucos e refrigerantes supera o equivalente a 120 gramas diários.

“Acho que esses resultados vão servir para chamar a atenção para que as pessoas tenham uma melhor orientação na hora de fazer a opção de consumo. No caso de frutas, legumes e verduras, nem mesmo aqueles 10% que mais consomem; não consomem ainda o mínimo necessário”, avaliou André.

Arroz com feijão 

Arroz, feijão e café são itens garantidos na mesa dos brasileiros. A Pesquisa apresentada pelo IBGE nesta quinta mostra que esses são os produtos mais consumidos diariamente pela população. De acordo com o levantamento, os entrevistados consomem, em média, por dia, mais de 182 gramas (g) de feijão, 160g de arroz e 215 mililitros (ml) de café (solução). “O brasileiro toma de seis a sete copinhos de café por dia”, segundo André Martins, pesquisador do instituto.

Também estão na relação de itens preferidos pela população na hora de se alimentar o pão de sal e a carne bovina, que foram consumidos por 63% e 48,7% dos entrevistados, no primeiro dia de pesquisa, respectivamente.

Os brasileiros da Região Centro-Oeste do país são os que mais consomem arroz (consumo médio per capita de 195,4g), carne bovina (88,1g) e leite integral (45,4g). No Sudeste, o consumo de feijão (218,1g) teve destaque, assim como o da batata-inglesa (23,2g) e do iogurte, que também são preferências no Sul do país.

A pesquisa do IBGE também mostra que alguns itens são mais característicos de determinadas regiões. No Norte, por exemplo, são comuns as preparações à base de leite, como o mingau, cujo consumo entre os nortistas é muito superior do que entre a população do Sul e Centro-Oeste. Outro destaque entre as preferências do paladar da população do Norte é o peixe fresco e suas preparações, consumidos em porções médias diárias de 95g, e o açaí, que é consumido em média em quantidade equivalente a 28,4g diárias e quase que exclusivamente nessa região.

Entre todas as diferenças alimentares do Norte e as outras regiões brasileiras, a farinha de mandioca lidera as variações de preferência. Enquanto no Norte, 40% da população consomem diariamente o produto, em porções médias diárias equivalentes a 46,2g, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, apenas 5% dos entrevistados disseram comer todos os dias esse tipo de farinha.

“Já se sabe que o consumo de farinha é tradicional no Norte e Nordeste. Só não tínhamos uma medida de quanto. Assim como esperávamos o consumo alto de chás no Sul. Se observarmos o consumo de chás, o Sul desponta totalmente em relação a outras regiões”, avaliou Martins. O consumo médio per capita de chá na Região Sul chega a 147,6 mililitros diários.