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O magnata da imprensa Rupert Murdoch, seu filho James, sua ex-colaboradora Rebekah Brooks e dois altos funcionários da polícia prestam declarações nesta terça-feira (19) ante uma comissão parlamentar britânica em função do escândalo das escutas telefônicas ilegais orquestradas pelo tabloide News of the World. Em um inesperado acréscimo ao caso, a polícia investiga, além disso, a morte de Sean Hoare, ex-repórter do tabloide sensacionalista, que trouxe o escândalo à tona.
 
John Whittingdale, presidente da Comissão de Cultura, Meios de Comunicação e Esportes, integrada por dez parlamentares de todos os partidos, prometeu um interrogatório exaustivo sobre um caso que abalou a cúpula política, policial e midiática do país.
 
Murdoch, que agora não cansa de pedir desculpas, foi convocado para prestar depoimento diante dos dez membros da Comissão junto de seu filho James e sua protegida, Rebekah Brooks, considerada até sua recente demissão a "rainha dos tablóides". Para realizar esta audiência, a comissão teve de ser rígida: depois de uma primeira negativa de comparecimento dos Murdoch e em meio a fortes protestos, recorreu a um procedimento raramente utilizado, convocá-los oficialmente e de maneira obrigatória.
 
Sir Paul Stephenson, chefe da Scotland Yard que se demitiu no domingo, é acusado de ter realizado sem aprofundamentos a investigação sobre os vínculos do caso com os dirigentes dos jornais, e de ter ignorado a atuação de policiais corruptos que venderiam informações ao News of the World (NotW).
 
Um segundo alto oficial da Scotland Yard, John Yates, que recusou a reabertura da investigação sobre o escândalo das escutas telefônicas em 2009, renunciou na segunda-feira (18). O jornal que deu origem ao escândalo é acusado de ter grampeado desde o ano 2000 as mensagens de texto de cerca de 4 mil pessoas, políticos e celebridades, mas também de uma menina de 13 anos assassinada.
Os três diretores do News Corp intimados pelos deputados afirmaram até agora que ignoravam a amplitude das escutas, atribuídas a um "repórter freelancer" e a um detetive particular. A audiência significa uma grande perda para o magnata australiano americano de 80 anos, que se orgulha de ter ajudado a eleger a maioria dos primeiros ministros desde os anos 70.
 
Num período de 15 dias, Murdoch fechou o NotW, renunciou a seu ambicioso projeto de aumentar para 100% a sua participação na plataforma de televisão por satélite BSkyB, após o veto de todos os partidos políticos, e sacrificou dois de seus diretores. Seu filho James, número três do News Corp e considerado o sucessor do magnata até o escândalo, está agora na linha de frente, apesar de já ter declarado que "lamenta profundamente" ter indenizado generosamente as supostas vítimas de escutas telefônicas, correndo o risco de dar a impressão de que comprou o silêncio delas.
 
A iniciativa poderia levar a uma acusação de "utilização inapropriada do dinheiro dos acionistas". Ao mesmo tempo, os liberais-democratas desejam que ele seja declarado "inapto" para presidir a BsKyB, empresa que a News Corp possui 39,9% do capital. Por sua vez, Rebekah Brooks renunciou na sexta-feira à direção do News International, a divisão britânica do império multinacional de Murdoch, e foi detida, interrogada e depois posta em liberdade condicional. Suspeita de suborno de policiais e de escutas telefônicas ilegais, ela pode ir para cadeia.
 
Durante uma primeira apresentação frente à comissão parlamentar, realizada em 2003, reconheceu que o jornal, que dirigiu de 2000 a 2003, pagou a policiais para obter informações.
 
Jornalista morto
 
O corpo do ex-jornalista do tabloide britânico News of the World, Sean Hoare, passa por uma autópsia nesta terça-feira, para determinar a causa de sua morte, de acordo com a polícia do condado de Hertfordshire, na Grã-Bretanha. Hoare, que tinha 47 anos, foi encontrado morto na última segunda-feira em sua casa em Watford, a 30 km de Londres. 
 
Ele foi o responsável por muitas das acusações feitas contra o ex-editor do jornal Andy Coulson, de que ele supostamente incentivava os funcionários a interceptar mensagens de celular de políticos e celebridades para obter informações exclusivas para reportagens. A polícia afirmou que o corpo de Hoare foi encontrado pela manhã e que ainda estava investigando as causas de sua morte, mas que não considerava o caso suspeito.
 
Notícia falsa
 
Também nesta terça-feira, hackers invadiram e alteraram o site do jornal The Sun, que assim como o News of the World faz parte do grupo de mídia News International, de propriedade do magnata australiano Rupert Murdoch. Na página inicial do site, foi colocada uma notícia falsa que dizia que Murdoch havia sido encontrado morto em seu jardim. 
 
O grupo Lulz Security, responsável por ataques recentes a empresas de jogos eletrônicos e a sites dos governos britânico e americano, assumiu a responsabilidade pela falsificação em seu perfil no Twitter. Os visitantes do site do The Sun eram redirecionados para a página de Twitter do grupo. A News International disse que "sabia" o que estava acontecendo, mas a empresa não fez mais comentários. 
 
Escutas endêmicas
 
Segundo um porta-voz da polícia local, a morte de Sean Hoare está sendo tratada até o momento como ‘sem explicação’. O corpo do ex-jornalista ainda não foi formalmente identificado. Desde que o caso dos grampos veio à tona, Hoare deu entrevistas detalhando a conduta profissional no News of the World. 
 
Ao programa da BBC Panorama, ele disse que as escutas telefônicas eram "endêmicas" no jornal e afirmou ainda que Coulson havia lhe pedido para colocar escutas em telefones.  Coulson, que nega as acusações, ocupou o cargo de porta-voz do primeiro-ministro britânico, David Cameron, até janeiro, quando pediu demissão diante do escândalo. 
 
Em uma entrevista ao jornal New York Times, Hoare afirmou que a conduta ilegal era muito mais comum no News of the World do que a direção do jornal admitiu quando começaram as investigações. 
 
Primeiro ministro
 
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou nesta terça-feira que o escândalo de escutas ilegais do tabloide News of the World, no qual se viu envolvido, é um grande problema que, no entanto, será resolvido. "É um grande problema, mas somos um grande país", afirmou à imprensa na Nigéria, onde se encontra de visita oficial.
 
Cameron, que comparecerá ante a CPI dos grampos nesta quarta-feira, acrescentou ainda que seu governo não deixará de concentrar-se nos grandes desafios que enfrenta o país, começando pela consolidação do crescimento econômico.
 
Murdoch analisa abandonar direção 
 
Rupert Murdoch analisa há mais de um ano deixar a direção da empresa, revela nesta segunda-feira Wall Street Journal. "Inclusive antes de surgir o escândalo, o velho Murdoch planejava abandonar seu cargo de diretor-geral em favor de Chase Carey, diretor de exploração do grupo", revela o site do jornal. Murdoch tem 80 anos, "mas em virtude deste cenário (dos grampos), permanecerá como presidente", destaca o jornal, propriedade do grupo News Corp.
 
"Tal mudança – em análise há mais de um ano – teria pouca influência no dia a dia do grupo, mas seria de uma importância simbólica enorme", destaca Wall Street Journal.