Às 18 horas da quarta-feira 9, o velho empresário Al-Akhras testemunhou o casamento de seu filho Ashraf, em Amã, na Jordânia. Às 20h50, o orgulhoso pai e dez de seus familiares estavam mortos. Não foram os únicos – pelo menos 56 pessoas perderam a vida e mais de 100 ficaram feridas naquela noite, depois de uma série de três explosões consecutivas em hotéis daquela capital. Três terroristas suicidas detonaram suas cargas nos hotéis Grand Hyatt, Radisson SAS (onde 250 convidados participavam da festa de casamento) e Days Inn, no maior ataque ocorrido no país na história recente. O jordaniano Abu-Musab Al-Zarqwi – líder do grupo Al-Qaeda na insurgência do Iraque – assumiu a responsabilidade. Cumpriu, desse modo, as instruções que lhe foram dadas em dezembro de 2004 por Ayman Al-Zawahiri – o egípcio –, segundo em comando na Al-Qaeda. Numa mensagem interceptada pelos americanos no Iraque, Al-Zawahiri pedia a Al-Zarqwi que fossem atacados alvos fora do território iraquiano, principalmente nos países de governos seculares na região.

Os terroristas de Al-Zarqwi atingiram dois inimigos em cada um dos três golpes. Castigaram a Jordânia – um dos maiores colaboradores dos Estados Unidos na guerra contra o terror e que mantém boas relações com Israel. Ao mesmo tempo atacaram empresas americanas no país. Entre os mortos, além de jordanianos, estão empresários, autoridades e jornalistas estrangeiros que compõem a clientela dos hotéis. “O que se vê é a repetição das táticas da Al-Qaeda, que mira num alvo e, se tem seus planos interrompidos, volta à carga ao mesmo ponto no futuro”, disse a ISTOÉ Garth Port, do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Ele lembrou que o Raddisson era um dos hotéis na mira de um atentado frustrado no final de 1999.

Os três atentados de agora ocorreram numa seqüência de poucos minutos. Os dois primeiros foram conduzidos por homens-bomba e no último, no Days Inn, foi usado um carro com explosivos. O serviço de inteligência jordaniano é considerado um dos mais efetivos do mundo. Por isso, os analistas em contraterrorismo vêem com espanto o fato de que o aparato de segurança não tenha conseguido prever nem prevenir os ataques. “Isso pode ser indicativo de que as operações foram preparadas em segredo no Iraque, sem o conhecimento de membros da Al-Qaeda na Jordânia, para não correr o risco de vazar. O mais provável é que os implicados saíram com o material do Iraque, passaram a fronteira com a Jordânia e cometeram o crime sem muita ajuda local”, diz Garth Port. Assim, o recém-casado Ashraf, 32 anos, perdeu não apenas o pai, o sogro, outros familiares e amigos, mas também a alegria da data de seu casamento.