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ONDE?
Juan foi visto pela última vez caído na ruela, logo após ser baleado

O garoto Juan Moraes, 11 anos, tinha o hábito de voltar da escola no final da tarde e logo sair para soltar pipa pelas ruas da paupérrima comunidade de Gerard Damon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Um lugar ainda não assistido por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e cenário de constantes tiroteios entre traficantes e policiais militares. Juan também gostava de tratar de um cavalo branco que costuma pastar livremente próximo do casebre de paredes desbotadas e vidros quebrados onde o menino morava com a mãe e mais três irmãos. Por cuidar do cavalo, Juan contribuía com o orçamento doméstico com R$ 20 por mês. A maior parte da receita familiar vem dos serviços de babá, prestados pela mãe de Juan, dona Rosinéia, que usava a própria casa para ficar com as crianças da vizinhança enquanto os pais estivessem trabalhando. Na segunda-feira 20 de junho, a rotina da guerra entre traficantes e policiais acabou em tragédia para a família Moraes.

No início da noite, Juan e seu irmão Wesley, 14 anos, levaram duas crianças que a mãe havia cuidado durante o dia para suas casas e passaram na casa do pai, que vive no mesmo bairro. Quando voltavam, foram surpreendidos em um beco estreito. De um lado estavam cinco viaturas do 20º Batalha da PM. Do outro, traficantes. Entre eles, os meninos e o operário Wanderson dos Santos Assis, 19 anos, que voltava do trabalho. Tentaram correr, mas os três acabaram atingidos. Wesley e Wanderson foram socorridos por moradores e levados para hospitais da região. Não houve tempo para que Juan fosse resgatado. “Meu irmão, meu irmão tá lá caído no chão, ajudem ele…”, gritava Wesley enquanto era tirado pelos vizinhos do meio do tiroteio. Terminado o conflito, até a sexta-feira 1º ninguém sabia do paradeiro do garoto. “Sei que meu filho está morto, mas quero que o corpo dele seja entregue para que possa ter um enterro”, diz Rosinéia, que juntamente com os demais filhos está no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte. “Estou abestalhado”, diz o aposentado Valdecir Marcelino, que mora próximo à casa de Rosinéia. “Aqui não é raro que gente inocente seja atingida por bala perdida, mas nunca vi um caso em que o corpo sumiu.”

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DEMORA
Não se sabe por que, mas a perícia só foi realizada
uma semana após o desaparecimento de Juan

Os principais e, até agora, únicos suspeitos de terem dado sumiço no suposto cadáver de Juan são os policiais militares que enfrentavam os traficantes no tiroteio. Eles alegam que não viram o menino, mas contra essa versão há os testemunhos de Wesley e de Wanderson e provas técnicas ainda sob investigação. Apesar de a Polícia Civil só ter iniciado uma busca pelo corpo uma semana depois do desaparecimento, foi possível encontrar no beco as marcas de sangue um chinelo que, segundo Rosinéia, era o que o garoto usava em 20 de junho. A perícia também encontrou vestígios de sangue no assoalho e no estofamento dos carros usados pela PM na noite do crime. Nas próximas semanas o resultados de exames de DNA poderão definir se se trata ou não de sangue do garoto.

“Não tem outra pista (além da hipótese de que os PMs levaram o corpo para outro local). Fizeram merda, assumam. O que não pode é sumir com o corpo”, desabafou a delegada Tércia de Amoedo Silveira, responsável por coordenar as delegacias da Baixada e mãe de uma criança de idade próxima ao do garoto desaparecido. Na sexta-feira 1º, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, reafirmou que a polícia está empenhada em esclarecer o caso e encontrar o corpo de Juan. Disse ainda que, se comprovada a possível participação de policiais no sumiço do garoto, os responsáveis serão expulsos da corporação e punidos criminalmente. 

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