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Havia mais de oito anos que o telefone do Palácio do Planalto não registrava uma conversa informal entre um presidente da República e seu antecessor. Mas no dia 13 de junho, uma segunda-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a presidente Dilma Rousseff mantiveram um animado diálogo. FHC ligou de São Paulo para agradecer a carta recheada de elogios por meio da qual a presidente o cumprimentara pelo aniversário de 80 anos. “Queria dizer que fiquei extremamente feliz e aproveito para lhe dizer que também admiro sua trajetória.” Ao que Dilma devolveu, segundo pessoas que testemunharam o fato: “Meu querido, não disse nada que você não merecesse.” O telefonema, em tom mais do que amistoso, representou a afirmação de uma relação de respeito mútuo construída desde o início do ano, quando Dilma assumiu a cadeira já ocupada pelo líder tucano.

A relação entre os dois anda tão boa que Dilma começará, agora, a prestigiar FHC não só com elogios públicos. O próximo passo da presidente será no­mear Fernando Henrique para chefiar uma missão especial do governo brasileiro fora do País. A deferência será semelhante à que foi feita a Lula, que, na condição de ex-presidente, comandou a delegação nacional na Assembleia-Geral da União Africana, na Guiné Equatorial. O convite se inspira na tradição dos EUA, onde a experiência de ex-presidentes é utilizada em missões honorárias, independentemente da coloração partidária. Dilma, ao contrário do que ocorria com Lula, tem uma afinidade intelectual com FHC e não vê necessidade de esconder isso. Ambos estiveram juntos no combate à ditadura militar nos anos 60 e pagaram caro pelas suas ações – Dilma com a prisão, FHC com o exílio. Com formação de economista, Dilma reconhece ainda a importância que teve o Plano Real dos tucanos para acabar com a inflação no País e não sofreu o desgaste de um confronto direto com FHC nas urnas, como aconteceu com Lula.

Carinhos e afagos:

FHC: “Fiquei extremamente feliz e aproveito para dizer que também admiro sua trajetória”

Dilma: “Meu querido, não disse nada que você não merecesse”

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Diálogo entre a presidente e o ex em telefonema no último dia 13

Os recentes afagos públicos entre a presidente e o papa dos tucanos podem levar a crer que a renhida relação entre PT e PSDB esteja se apaziguando. Puro engano. Os dois principais partidos do país continuam com a mesma postura belicosa das úl­timas duas décadas. E pior: nos dois lados da trincheira já há quem se incomode com tratamento tão cordial dado ao adversário. No círculo da presidente, todos são categóricos em afirmar que a atitude dela não encontra eco no PT. “Dilma é ela e suas circunstâncias. Foi um gesto pessoal. FHC é uma pessoa que ela admira e com a qual quer manter uma boa relação”, explicou à ISTOÉ uma fonte do Palácio do Planalto.
Uma prova de que também pelo lado tucano o clima permanece beligerante foi dada no evento em comemoração aos 80 anos de FHC na quinta-feira 30, em Brasília. Em seu pronunciamento, Serra elevou o tom, afirmando que Fernando Henrique “jamais passou a mão na cabeça de aloprados” e “foi sempre um servidor público em vez de se servir do público”. Na sessão em sua homenagem, Fernando Henrique evitou fazer críticas ao seu antecessor e, mais uma vez, elogiou Dilma. “O gesto dela deixou claro que nós somos brasileiros, temos que nos entender. Não vale a pena um destruir o outro.”

Nos bastidores, no entando, FHC tem sido um crítico contumaz de Lula. Nos últimos anos, FHC sempre reclamou do seu sucessor pelos cantos, dizendo que, nesse tempo todo, Lula nunca o havia convidado sequer para tomar um cafezinho no Palácio do Planalto. “Eu cedi a ele a Granja do Torto, mesmo antes de ele ser presidente. Mas o Lula só me chamou para ir ao enterro do papa”, esbravejou recentemente FHC. Lula e FHC nunca se encontraram desde que Dilma assumiu a Presidência. Ela até tentou. Na visita de Barack Obama ao Brasil a presidente convidou todos os ex-presidentes vivos para a recepção oferecida ao mandatário americano. Os senadores José Sarney e Fernando Collor, assim como FHC, compareceram, ao contrário de Lula, que preferiu ignorar a ocasião.



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