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 Um movimento convocou as mulheres sauditas a saírem às ruas na sexta-feira conduzindo seus veículos, em um desafio aberto à proibição de dirigir imposta pelas autoridades da monarquia ultraconservadora. A campanha Women2drive, lançada nas redes sociais, deve continuar "até a publicação de um decreto real que autorize as mulheres a dirigir", segundo a página do Facebook dos organizadores no reino.

A Arábia Saudita esteve a salvo da onda de mudanças que sacode o mundo árabe desde o começo do ano e os apelos lançados nas redes sociais em março pela realização de manifestações por reformas foram ignorados nesse rico país petroleiro. Mas agora "parece que as mulheres, principais vítimas da opressão, decidiram liderar o movimento por mudanças na sociedade saudita", afirmou a romancista Badriya al-Bichr.

Nenhuma lei proíbe as mulheres de dirigir, mas as autoridades se baseiam em um decreto religioso (fatwa), promulgado no reino, cujas leis se inspiram em uma versão rigorosa do Islã, e invocam os poderosos religiosos conservadores para manter a proibição. As mulheres devem contratar um motorista ou, caso não tenham recursos, depender da benevolência dos homens da família. "Os dirigentes devem tomar uma decisão e autorizar as mulheres a dirigir. A sociedade saudita mudou, é composta em 60% por jovens que estão dispostos a ter uma vida moderna", disse Bichr.

Ao mesmo tempo, uma campanha foi lançada na internet para incitar os homens a "agredir" as sauditas que ousassem a assumir o volante. Mas um influente religioso, Abdel Mohsen al-Obeikan, afirmou recentemente que a mulher poderia ser autorizada a dirigir "no campo". Segundo a imprensa, as sauditas assumem com frequência o volante nas zonas rurais afastadas.

O ícone da campanha de sexta-feira é Manal al-Sharif, especialista em informática liberada no dia 30 de maio depois de ter sido mantida em detenção durante duas semanas por violar a proibição de dirigir e enviar por Youtube um vídeo exibindo-se ao volante. Uma petição dirigida ao rei Abdullah pedindo a sua liberação, reuniu 3.345 assinaturas, enquanto que 24.000 pessoas manifestaram seu apoio em uma página do Facebook. Na quinta-feira passada, seis sauditas foram detidas em Riad por pouco tempo quando aprendiam a dirigir em uma área abandonada. As ativistas pediram neste movimento que as mulheres tomem iniciativas individuais.

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Em uma série de recomendações no Facebook, elas pedem a retirada do véu e que exibam "a bandeira saudita e o retrato do rei Abdullah, para mostrar nosso nacionalismo". As criadoras da campanha pedem também às mulheres que "tenham de preferência um homem ao lado para protegê-las. Se forem detidas, não tenham medo, só terão que assinar um compromisso escrito". As sauditas não têm direito nem a viajar sem a permissão de um tutor, nem o direito de votar e estão em posição de inferioridade em caso de divórcio ou herança.


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