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O advogado Claudio Dalledone Júnior, que defende o goleiro Bruno Fernandes, falou nesta segunda-feira sobre a existência de um esquema de extorsão envolvendo a juíza titular da cidade de Esmeraldas (MG), Maria José Starling, e o antigo advogado do atleta, Robson Pinheiro. De acordo com Dalledone, a magistrada entrou em contato com a noiva de Bruno, Ingrid Calheiros, oferecendo um plano para soltar o acusado. Segundo a denúncia feita por Ingrid à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a juíza e o ex-advogado do goleiro teriam pedido R$ 1,5 mi para tirar Bruno da cadeia. 

Para Dalledone, o "plano" para extorquir o goleiro e a família dele começou quando Maria José Starling, em uma das audiências no caso no fórum de Esmeraldas em outubro de 2010, afirmou que Bruno já deveria estar solto. Para justificar a ideia, a magistrada comparou o caso ao assassinato da advogada Mércia Nakashima, em São Paulo, cujo corpo foi encontrado em uma lagoa e o ex-namorado dela estava solto à época. Para ela, o fato do corpo de Eliza Samudio não ter sido localizado pela polícia mineira seria um dos motivos para o goleiro estar livre. 

À comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas Gerais, Ingrid afirmou que o acerto entre a juíza e o advogado Robson Pinheiro foi registrado em um contrato. O documento garantiria que, ao ingressar com o pedido de liberdade no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Bruno seria solto em 48h. Ingrid revelou ainda que, na semana em que o advogado deveria entrar com o pedido, foi cobrado um adiantamento. O advogado de Bruno, Claudio Dalledone Júnior, disse que tomou as medidas necessárias com relação ao caso e que, a história fere "a dignidade se seu cliente". "Deixem o Bruno se defender, chega de gente oferecendo serviço e vendendo vantagens", disse. 

Em nota, o advogado Robson Pinheiro disse que sua conduta sempre obedeceu "às normas éticas, legais e contratuais" e que rescindiu o contrato em fevereiro deste ano, quando o pedido de habeas corpus estava prestes a ser apresentado no TJ-MG. Procurado, o Tribunal de Justiça informou que o advogado da magistrada, Getúlio Barbosa Queiroz, se pronunciaria sobre o caso. Queiroz negou que sua cliente tenha tido qualquer participação no contrato. E disse que a responsabilidade do caso é somente do advogado Robson Pinheiro.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno. 

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães. 

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo. 

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado. 

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.