Só Ruy Castro poderia escrever uma rapsódia do Rio de Janeiro com tanto encantamento. Ele é mineiro de nascimento, mas parece o mais apaixonado dos cariocas por esta cidade que deslumbra brasileiros e estrangeiros. Talvez porque, como define o autor, o Rio tenha a forma de uma faixa de terra entricheirada entre cadeias de montanhas e um litoral com quase 80 quilômetros de praias. Carnaval no fogo – crônica de uma cidade excitante demais (Companhia das Letras, 256 págs., R$ 34) é a história do Rio que narra as disputas ali travadas
por índios, franceses e portugueses, seus carnavais, seus talentos musicais, suas mulheres estonteantes, suas construções antigas,
seus botequins com deliciosos tira-gostos e cerveja gelada, seu despojamento e irreverência.

Quantos pais de família não saem de casa no sábado de Carnaval e só voltam – impunemente – na Quarta-Feira de Cinzas, cheios de batom na camisa? O Rio é assim, sem nenhuma cerimônia, uma cidade feminina e feminista, desnuda, onde a vida acontece nas ruas. E a perícia de Ruy Castro como escritor nos leva a concluir que continua sendo a verdadeira capital do Brasil, título que lhe foi tirado depois de 320 anos, em 1960, data da inauguração de Brasília, “um parque temático dedicado à política e aos negócios”. Até um orgulhoso paulistano, daqueles que enchem o peito para dizer que São Paulo é uma das maiores cidades do mundo, chega à última página rapidamente com a sensação de viver numa cidade masculina, tensa e puritana, que produz tudo (ao contrário do Rio), menos qualidade de vida.