Sob o rugir dos estudantes entrincheirados nas barricadas de Paris, o cineasta francês de origem grega Constantin Costa-Gavras tornou-se um referencial no final dos anos 1960, com uma fileira de filmes anti-autoritarismo. Eram obras provocadoras, verdadeiras metralhadoras apontando para a direita na Grécia em Z (1969) ou para o stalinismo do Leste Europeu em A confissão (1972), só para citar
alguns exemplos. Amém (Amen, França/Alemanha/Romênia/Estados Unidos, 2002), em cartaz em São Paulo, segue linha semelhante ao escancarar a omissão cometida pelo Vaticano comandado pelo papa Pio XII diante do genocídio contra os judeus praticado por Adolf Hitler no decorrer da Segunda Grande Guerra.

Baseado em O vigário, peça do alemão Rolf Hochhuth, o filme conta a história real do tenente da SS Kurt Gerstein (Ulrich Tukur), um engenheiro químico que desenvolveu o composto Zyklon B. Quando o militar descobre que a substância criada para tornar potável a água destinada às tropas estava sendo utilizada como veneno nos campos de extermínio nazistas, ele tenta de todas as formas possíveis denunciar o horror. Primeiro, pede ajuda aos protestantes alemães, depois ao jesuíta de origem aristocrática Riccardo Fontana (Mathieu Kassovitz), uma figura de ficção. Tendo como contraponto um personagem apresentado apenas como O Médico (Ulrich Mühe), simbolizando todos aqueles que se omitiram no caso, Tukur se vê à frente de uma situação absurda. Com tal tema, Amém provocou protestos em vários países antes mesmo de ter sido assistido. É que o cartaz bolado pelo irreverente Oliviero Toscani funde a suástica ao crucifixo. Associação perigosa, porém, no caso verdadeira.