As condições de competitividade que permitirão ao Brasil participar da distribuição da riqueza dependem em grande parte do desempenho do sistema de ciência, tecnologia e inovação. No cenário da nova economia, o País se esforça, consciente de que o futuro dos exportadores de matéria-prima é curto e inseguro. O desafio é produzir valor agregado e, para tanto, ciência, tecnologia e inovação são indispensáveis.

O momento por que passa esse sistema no Brasil
é delicado. E mais ainda quando se considera
que se trata do melhor da América Latina, o
que põe em evidência os nossos problemas.

Sobressai o problema crônico da irregularidade dos repasses de recursos às instituições públicas de pesquisa e universidades federais. A irregularidade econômico-financeira gera a total falta de possibilidade de planejamento.

Além de recursos financeiros, é fundamental ampliar o mercado de trabalho, tanto acadêmico quanto empresarial, para absorver os mestres e doutores. Menos da metade dos seis mil doutores formados em 2001 tem vínculo de trabalho. E esse número tende a aumentar. É preciso motivar, com urgência, o mercado empresarial: sem pesquisadores nas empresas, não há inovação tecnológica nem inovação de produtos e, em consequência, não há competitividade, e o País fica a ver navios.

Na produção do conhecimento científico mundial, é sabido que o
índice brasileiro subiu de 0,83%, em 1995, para 1,44%, em 2001. A ciência brasileira tem reconhecimento internacional, e o Programa Genoma da Fapesp é uma prova disso. A parcela da população brasileira que forma nossa comunidade científica é muito pequena (0,1% do total, contra 0,4%, na Coréia do Sul, e 0,8%, nos EUA), e, o que é mais grave, apenas 11% desse número já restrito atua em centros de pesquisas empresariais. A ciência no Brasil vai bem e a tecnologia vai mal.

Há um desafio complexo e urgente a enfrentar, o de preservar as conquistas da pós-graduação nos últimos 20 anos, mantendo-lhe as condições de qualidade. Ao mesmo tempo, há que se promover a qualificação do sistema privado de ensino superior, atribuir autonomia de gestão financeira às universidades federais e definir uma política de recursos humanos adequada aos objetivos das instituições de pesquisa, entre eles a inovação, motor do desenvolvimento econômico e social. Em 1996, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento apontava para a nossa baixa competitividade internacional. O governo federal anunciou em 1999 a meta de expor tar US$ 100 bilhões até 2002. Mal passamos da metade. Também em 1999, o documento Agenda 21 apontava a receita que todos sabemos boa, mas cujo ponto está difícil de acertar: “O Brasil precisa construir um sistema inovador, e não adaptador de inovações já superadas em outros países.”

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Há, ao lado disso, os grandes desafios que se renovam pelos males que permanecem: a injusta distribuição de renda, a exclusão social, a violência, o desemprego. Que as discussões avancem, que os diagnósticos se ajustem, que o consenso quanto aos marcos programáticos se constitua. E, sobretudo, que as enunciações de futuros se concretizem em atos fundadores de uma nova realidade cultural, política, econômica e social para a ciência, a tecnologia e a inovação.


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