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 Poucos animais são tão irresistíveis e carismáticos quanto o panda. Com vocação natural para bicho de pelúcia, essa espécie de urso, que corre hoje risco de extinção graças à progressiva destruição de seu habitat, é quase um símbolo da candura ameaçada, da inocência perdida, do nirvana planetário. E o que Po, panda protagonista do filme que vos interessa, teria a dizer disso tudo é somente: "Cuma?". Pois é, o panda mais obeso, engraçado e, sobretudo, despreocupado que conhecemos está de volta aos cinemas com a missão de salvar não apenas a sua espécie da extinção, como o próprio kung fu.

É preciso dizer que Kung Fu Panda 2 é um filme mais escuro que o primeiro. Não só apenas na imagem (principalmente se você for assisti-lo em 3D), mas particularmente na trama, agora um pouco mais dramática em seus conflitos. Mérito do filme é conseguir criar um roteiro um pouco mais pesado sem perder o equilíbrio com humor inerente ao desajeitado Dragão Guerreiro que Po se tornou no primeiro capítulo dessa história.

E ainda que este segundo título tenha uma palheta de cores mais fechada, predominando quase sempre o vermelho e tons de sombra, os surtos histéricos do novo vilão da trama – bem mais coerente e convincente em sua vilania que o inimigo do primeiro filme – quebram qualquer possibilidade de tensão não-recomendada para crianças. A tensão existe, mas é saudável e vem agora cercada por uma quantidade bem maior de cenas de ação e, portanto, do kung fu de coreografias muito bem desenhadas pela extensa equipe de artistas do filme.

A trama parte de onde o primeiro título terminou. Po se tornou o Dragão Guerreiro mais pançudo da China e, ao conquistar o posto, adquiriu não apenas a reverência da vila onde vive, mas o respeito dos Cinco Furiosos: Tigresa, Garça, Louva-Deus, Víbora e Macaco. A Tigresa, que ganha mais destaque nesse filme, vira uma aliada importante no caminho entre Po e aquilo que o mestre Shifu (personal Yoda de Po) o mandou encontrar: paz interior. E é só essa paz que irá salvar a China das garras, ou melhor, das patas do pavão maquiavélico conhecido como Lorde Shen, responsável aqui pela transformação da pólvora (invenção chinesa) usada em fogos de artifício para a pólvora destinada a armas de fogo.

A lembrar que, na dublagem original em inglês, o filme tem um elenco dourado de nomes como Jack Black como Po, Angelina Jolie como Tigresa, Dustin Hoffman como Shifu e Gary Oldman como Lorde Shen, time mais do que tentador para atrair bilheteria lá fora. Mas importante pontuar que, na versão brasileira, o humor de Lúcio Mauro Filho, dublador de Po desde o primeiro filme, dá ainda mais personalidade ao personagem.

De modo geral, Kung Fu Panda 2 acerta quando repete alguns recursos do primeiro filme – tal como narrar passagens do passado com um desenho geométrico em duas dimensões – brinca com outras mídias (uma cena de perseguição em particular é quase uma homenagem aos games do tipo arcade), e dá mais velocidade e drama aos embates entre os personagens. Fica somente (e novamente) a dúvida se o excesso de informações do 3D mais prejudica do que contribuiu em uma história que busca, como o personagem, uma certa paz interior.