Quem nunca imaginou que no século XXI andaríamos em naves espaciais e o serviço pesado seria executado por eficientes robôs? Estamos em 2003 e ainda enfrentamos, resignados, o trânsito sobre o asfalto e as árduas tarefas domésticas. A boa notícia é que a tecnologia contaminou os eletrodomésticos, que estão cada vez mais inteligentes. Já está próximo o dia em que se poderá usar o telefone celular, o computador de mão ou mesmo o chaveiro do carro para acender as luzes de casa, ligar a tevê, o aparelho de som e controlar a temperatura do ar-condicionado antes de abrir a porta da sala.

Os robôs aos poucos invadem o cotidiano. Na Copa do Mundo de 2002, no Japão e na Coréia, um humanóide produzido pela montadora de carros Honda serviu de guia turístico eletrônico aos jogadores de futebol. Asimo, a máquina, mede 1,20 m, anda, sobe escadas, reconhece vozes, identifica e reage aos gestos humanos e até vira a cabeça para acompanhar o movimento de quem lhe cruza o caminho. É só postar-se diante dele, estender a mão e o simpático Asimo vai apertá-la em retorno. Por enquanto, o robô é usado só como peça promocional, mas a Honda pretende alugá-lo por uma anuidade de US$ 162 mil.

Não será o primeiro ser de lata a invadir os lares japoneses. Aibo, o cão-robô da Sony, já demonstrou que uma máquina inteligente pode ocupar o lugar de um bicho de estimação. O cãozinho, vendido a US$ 1,5 mil, reage aos comandos de voz e responde com frases ao ouvir seu nome ou enxergar o rosto do dono. O objetivo da fabricante é tornar o robô canino cada vez mais independente, a ponto de tomar decisões. Um exemplo: Aibo não late, mas, ao encontrar algo que sabe ser do agrado de seu dono, ele bate uma foto para exibir depois. Foram vendidos cerca de 100 mil robô-
cães, sendo quatro em cada cinco deles no Japão. O mimo pode ser programado para cantar, fazer caretas, entre outras ações baixadas
pela internet, e não foi o único a entrar na vida familiar. No ano passado, a empresa americana iRobot criou a Roomba, o eletrodoméstico
dos sonhos das donas-de-casa. O aspirador de pó de US$ 200
dispensa supervisão humana. Seus sensores indicam quando há
paredes, móveis ou escadas e ele se desvia dos obstáculos.

Objeto de desejo da maioria dos brasileiros, o carro é outro palco de inovações. Já existem protótipos que obedecem a comandos de voz e atendem às ordens de travar as portas, ligar o rádio, fechar os vidros. Um deles é o Audi, equipado com bluetooth, tecnologia que permite a comunicação a curta distância entre aparelhos digitais para substituir cabos e fios. Ninguém mais deve temer as multas
dos “amarelinhos”, já que o carro vem
com um aparelho para fazer e receber ligações sem usar
as mãos. A engenhoca se conecta ao computador portátil
e navega na internet, uma ajuda preciosa quando se está
na estrada, sem mapas ou guias de restaurantes.

Moda – Parece futurologia, mas não passa de tendência. “A novidade está em agregar informática
em tudo o que usamos: sapatos, jóias, relógios e roupas”, afirma Luiz Cláudio Rosa, vice-presidente da Lucent, fabricante de produtos para telecomunicações. “O produto inteligente é multifuncional, combina
funções visuais, auditivas e sensoriais.”

A indústria da moda também explora seus limites. Já existem tecidos que se adaptam às variações climáticas, camisetas com sensores para medir pressão, temperatura e batimentos cardíacos e luvas para avaliar o grau de stress. Uma das pesquisas em andamento a pedido do Exército americano é a armadura que regula
a temperatura do corpo e avalia os sinais vitais
dos soldados. Suas fibras ventilam o corpo e se fecham, impedindo
o contato com armas químicas. Um outro projeto busca o impossível: criar o uniforme camuflado que torna o soldado imperceptível.
Desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT,
o modelito passa por um processo químico para alterar e reproduzir
as nuances de cor no terreno onde o soldado está. Em seu
interior circula um fluido que se solidifica como uma tala de
gesso assim que o tecido é perfurado por um projétil.

Um novo material, os nanotúbulos de carbono – tubos microscópicos de carbono puro –, deve inaugurar a era das roupas programáveis, recheada de processadores (chips). As roupas terão telas flexíveis, nas quais se poderá assistir ao noticiário, saber a previsão do tempo ou ler mensagens. Alguém perdido na selva poderia usar a própria jaqueta para consultar um mapa. Há ainda protótipos de uns óculos intérprete, que traduziriam na própria lente as palavras escritas em outros idiomas.

Enquanto os acessórios futuristas não chegam, o jeito é se contentar com os aparelhos com mil funcionalidades. Um deles é o chaveiro BeoLink,
da dinamarquesa Bang & Olufsen. O acessório à James Bond custa R$ 900 e faz parte de um conceito de integração, cuja proposta é permitir aos aparelhos de casa conversem entre si. O mesmo chaveiro controla o aparelho de som, aciona o DVD e diminui a intensidade das luzes, criando
a atmosfera perfeita para curtir um filme.

Dick Tracy – Um relógio inspirado no detetive dos quadrinhos Dick Tracy aposta nos assistentes digitais. O ATC 108, da Oregon (R$ 1.100), mostra a previsão do tempo,
a altitude, a temperatura e a pressão atmosférica, além de controlar
os batimentos cardíacos. É daqueles instrumentos para esportistas profissionais e atletas de final de semana. Parece contraditório,
mas o objetivo da tecnologia agora é recuar no tempo. “Lembra
daquela cômoda da sua avó que era rádio, tevê e objeto de
decoração? Pois é essa a idéia: juntar tudo o que estava disperso”,
diz Walter Duran, gerente de tecnologia da Philips.

Para reforçar o caráter multifuncional dos produtos, a General Electric deve lançar em setembro, nos EUA, um forno que combina três modos tradicionais de cozimento – o térmico, que usa resistência elétrica, o sistema por convecção, que distribui calor e aquece por igual, e o microondas, que usa ondas magnéticas. Seu computador interno, que deve custar entre US$ 2.300 e US$ 4 mil, elabora, de acordo com a receita, a melhor combinação dos três métodos de preparo, sem que ninguém coloque a mão na massa.

Proporcionar conforto é a missão número 1 da tecnologia e, nessa linha, a Philips já lançou um barbeador elétrico com nove maneiras de barbear pré-programadas. O aparelho de R$ 900 permite escolher a pressão adequada a cada pele e indica numa tela a hora certa de limpar as lâminas, trocar a bateria e as cabeças rotatórias.

Outra característica dos novos produtos é a portabilidade. Do tamanho de um caderno escolar, o Tablet PC é a sensação do momento. Ele reconhece a escrita, tem memória e velocidade de um computador convencional, pesa menos de 1,5 quilo e vem com programas gráficos. Quem não se adaptar ao formato de prancheta pode acoplar o velho teclado. Vários fabricantes já produzem seus modelos. O da HP/Compaq chega no Brasil este ano por US$ 1.700.

Nem todas as boas idéias se transformam em produtos de prateleira. É o caso das jóias eletrônicas da IBM. São brincos, colares e anéis que funcionam como telefone celular. “O brinco tem alto-falante, o anel tem microfone e relógio tem mostrador. O conjunto pode funcionar como visofone”, afirma Fábio Gandour, gerente de novas tecnologias da empresa. São idéias que talvez nunca virem realidade, mas servem de diretrizes para o futuro.