Enfim, as férias em família. A caminho da praia, o motorista informa seu destino ao computador do carro. O monitor de cristal líquido fixo ao painel exibe o mapa da região, e o aparelho de som dita orientações como “vire à direita” ou “vá em frente”. O co-piloto assiste a um filme em DVD em outro monitor acoplado ao teto. No banco de trás, os passageiros disputam uma partida de videogame com os olhos grudados em telas presas no encosto do assento dianteiro. Durante a viagem, o motorista pronuncia alguns comandos de voz e acessa a internet para conferir a previsão do tempo, reservar um quarto de hotel e conhecer as atrações turísticas. Tudo sem sair do carro nem tirar os olhos da estrada.

Algumas dessas tecnologias – apresentadas no tradicional Salão de Detroit, que se encerra no domingo 20, nos EUA – devem chegar ao Brasil antes do que se imagina. Até o final do ano, a Volkswagen vai equipar os veículos da linha Golf com acesso à internet, a um custo adicional de cerca de R$ 1 mil no preço final. Como é comum na indústria automobilística, os concorrentes se preparam para seguir a mesma trilha. A idéia é instalar nos painéis uma espécie de computador de bolso conectado à internet pelo telefone. Desde julho, os Golfs já circulam na Alemanha com serviço de e-mail, mapas, informações de trânsito e meteorologia na tela de um computador. “Em poucos meses, até os carros 1.0 brasileiros terão acesso à rede”, garante o austríaco Karl Hirtreiter, vice-presidente de tecnologia da Volks e presidente do Congresso da Sociedade dos Engenheiros Automotivos do Brasil, que ocorreu no final do ano passado e discutiu a internet sobre quatro rodas.

Para evitar que o motorista desvie a atenção do volante, o sistema de acesso à rede reconhece a voz do dono. Significa que o próprio aparelho de som serve de viva-voz. Assim funciona o OnStar, da General Motors, um sistema de computação de bordo composto por três botões, um aparelho para localização via satélite (GPS) e um telefone celular ligado ao rádio. Em caso de emergência, basta apertar um dos botões e a central de atendimento localiza o veículo e envia socorro. Essas facilidades custam entre US$ 200 e US$ 400 anuais aos motoristas. Para checar e-mails basta dizer “pegar correio” e o computador de bordo lê as mensagens em voz alta.

São os modelos de luxo, porém, que reservam as melhores surpresas aos passageiros. O Mercedes-Benz Classe M, que custa US$ 85 mil no Brasil, tem a opção de sair de fábrica com videocassete e monitor de cristal líquido para assistir a filmes em DVD, jogar videogame ou conectar uma câmera digital. A Série 7 da BMW, um dos destaques em Detroit, desembarca aqui em março por R$ 380 mil e vem com DVD, sistema de navegação que avisa em voz alta a direção a ser seguida e um computador que controla mais de 700 funções, entre as quais informar o motorista sobre a hora de trocar os pneus e o óleo. Outro carrão que prima pelo conforto é o protótipo inspirado no Lincoln Continental da década de 60. Além de portas que abrem e fecham sozinhas, o veículo tem computador para os passageiros e até dois bebedouros instalados nas portas. Água também não falta no SUP, protótipo da Mitsubishi e outra atração de Detroit. Ideal para levar a família à praia, o veículo tem bancos impermeáveis e um chuveiro na traseira para tirar o sal do corpo e limpar os pés – além, é claro, de dispor de CD, DVD e um PC, indispensáveis para o carro

Mão na roda

O carro do futuro será uma bênção para quem não consegue fazer baliza. Um manobrista virtual criado pela alemã Siemens usa câmeras, radares e sensores instalados na frente, na traseira e nas laterais do veículo para calcular o tamanho da vaga e desviar de obstáculos. O sistema pode realizar o sonho de todo motorista: fazer o carro estacionar sozinho e ainda permitir que ele pose de ás no volante.

A IBM também está atenta às necessidades do piloto. Cientistas da empresa americana desenvolveram o Blue Eyes (olhos azuis), sistema que filma a retina e a íris do motorista e ajusta o banco e os espelhos retrovisores de acordo com sua estatura. Quando o condutor pisca demais, o que seria um sinal de sono, o carro dispara um alarme sonoro para despertá-lo.

Já o Pod (foto), veículo experimental construído pela japonesa Toyota, é inspirado no cachorro-robô Aibo. Assim como o brinquedo da nipônica Sony, o carro grava na memória os hábitos e os gostos pessoais do seu dono para agradá-lo na hora certa, tocando suas músicas prediletas, por exemplo. No papel de um instrutor de auto-escola, o veículo adverte o motorista, sempre que ele fizer barbeiragens, como frear no meio de uma curva fechada