Agora/ Ágora – Criação e transgressão em rede/ Santander Cultural, Porto Alegre/ até 7/8/ www.agora.art.br

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ARTE E CONSUMO
Na instalação “SuperCinema”, de Rommulo
Conceição, o público vai ao cinema e às compras

O fenômeno das salas multiplex, que nos anos 90 mudou a cara dos circuitos de cinema, foi um sinal dos tempos.
Hoje trabalhamos e nos divertimos com múltiplas telas abertas. “Tudo ao mesmo tempo, agora” é a palavra de ordem. Celebrar e questionar os efeitos de uma vida regida pelo imediatismo é o intuito do projeto “Agora/Ágora”, que acontece simultaneamente no Santander Cultural, em Porto Alegre, e na web.

Na exposição, a cultura da instantaneidade e da velocidade é particularmente bem interpretada pelos trabalhos que se utilizam das linguagens do vídeo e do cinema. Na entrada, a instalação “SuperCinema”, do artista baiano Rommulo Vieira Conceição, promove a sobreposição de dois espaços da vida cotidiana: o cinema e o supermercado. Isso significa que o público poderá consumir os produtos das gôndolas enquanto assiste a uma programação que inclui cults e blockbustes, como “Chinatown”, “Avatar” e “A Era do Gelo 3”. “O que diferencia um blockbusters de uma caixa de sucrilhos?”, pergunta a curadora Angélica de Moraes. “Queremos promover esse tipo de discussão, ocupando um espaço que é uma instituição financeira, que transaciona valores.”

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ESTÉTICA DO ERRO
Em “Cinema Lascado”, de Giselle Beiguelman, vídeo
incorpora efeitos gerados por incompatibilidades de sistemas

O cinema é também a forma escolhida por Giselle Beiguelman, Wagner Morales, Perry Bard, Raquel Kogan e Lea van Steen para discurtir as descontinuidades da vida contemporânea. Em “Cinema Lascado”, Giselle documenta a paisagem fraturada de São Paulo. Em “Mamãe, Papai, Eu Sou…”, Wagner Morales aborda a identidade híbrida de uma família de coreanos. Mesmo a escultura “Túnel”, da dupla Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, promove as duplicidades e fantasmagorias próprias do cinema.

Embora o cinema se preste bem a essa discussão, a pintura, a escultura e a fotografia também se mostram, em “Agora/ Ágora”, linguagens híbridas e “fraturadas”. A pintura do artista gaúcho Frantz, por exemplo. Embora não seja “imediatista”, pode ser vista como resultado de um processo coletivo, em rede. “Frantz é um pintor que não pinta, mas se apropria dos resíduos da pintura de outros artistas”, explica Angélica de Moraes. Suas telas, antes de irem para as paredes, forravam o chão de ateliês de outros pintores. Ao dissociar seu processo pictórico das qualidades de manualidade e intensionalidade, Frantz dá à sua pintura um caráter conceitual e eminentemente atual.

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REMAKE
Perry Bard convidou outros artistas para refilmar
“Um Homem com uma Câmera”, de Vertov

A obra da artista nova-iorquina Perry Bard faz a ponte entre o espaço expositivo e o espaço web. Em “Um Homem com uma Câmera”, Perry convocou dezenas de artistas de todo o mundo a recriar o clássico de Dziga Vertov, de 1929. Os remakes podem ser acessados no site do projeto dziga.perrybard.net. Já o site da exposição (www.agora.art.br) oferece acesso a dez projetos de tecnologia social e artivismo, temas urgentes para se inteirar das ações colaborativas que proliferam na web.