No início, parecia uma história de invejável determinação e defesa da liberdade de imprensa. A repórter do jornal americano The New York Times Judith Miller permaneceu 85 dias presa por desobedecer a uma ordem judicial que a obrigava a revelar o nome da alta fonte do governo americano que lhe informara a identidade de uma agente da CIA. Essa alta autoridade teria vazado o nome de Valerie Plame como represália ao seu marido, o ex-embaixador Joseph Wilson, ferrenho crítico da guerra do Iraque. No entanto, com o desenrolar do caso, a verdade não se mostrou assim tão edificante para a famosa repórter. Logo após ser libertada, Judith prestou depoimento a um promotor federal americano, revelou que I. Lewis Libby, chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, era sua fonte e confessou que o próprio Libby já a havia liberado do compromisso de sigilo profissional. Ou seja, a repórter escolheu de livre e espontânea vontade ir para a cadeia na tentativa de se tornar “mártir” da liberdade de imprensa. A resposta para essa atitude veio de dentro do próprio jornal americano.

No domingo 16, o Times publicou uma longa reportagem em que questiona a conduta de Judith Miller e da própria direção do jornal no caso. De dentro da redação vinha a certeza de que Judith havia escolhido ir para a cadeia para tentar salvar a sua reputação profissional. Seu passado profissional, se não a condena, ao menos põe pesadas nuvens sobre sua atuação. Judith, com acesso amplo à Casa Branca, foi a repórter que encampou a idéia de que o Iraque de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. Como a história provou, isso não era verdade e a série de reportagens que ela havia feito para provar tal teoria resultou em um constrangedor pedido de desculpas do jornal sobre o início da cobertura da guerra. Para Judith, seria o atalho perfeito para terminar a carreira como símbolo da liberdade. Só resta saber a razão de a direção do jornal ter deixado a condução do caso nas mãos da repórter sem ao menos questioná-la sobre sua conduta.