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RITUAL
Judeus ortodoxos na cerimônia anual do Tashlich, em praia de Tel-Aviv

Vencidas as batalhas pela independência de Israel, o primeiro chanceler do recém-nascido país, David Ben-Gurion, assumiu em maio de 1948 sabendo que uma “guerra” bem mais difícil estava em curso. Espalhado por uma região desértica, com clima entre tropical e semi-árido e escassas fontes naturais de água doce, o Estado precisa lutar diariamen­te para que sua população não morra de sede. Gurion resumiu a sua estratégia sob o slogan “fazer o deserto florir” e estimulou os seus cientistas a descobrir fórmulas para semear oásis. Passados 63 anos, Israel vem vencendo essa “guerra”.

As principais armas do país têm sido a construção de usinas de dessalinização, o reaproveitamento quase total do esgoto e o combate ao desperdício. Exatamente por isso, florescem empresas que monitoram cada milímetro cúbico de água que flui pelos canos do país com sistemas computadorizados capazes de diagnosticar vazamentos em tempo real. O aproveitamento de cada gota é o mote da Netafim, empresa especializada em sistemas de irrigação. Sua história se confunde com a formação do kibutz Hatzerim, localizado em pleno deserto do Negev. Hoje, o verde domina o lugar, onde famílias compartilham residências, refeitórios e orações com os profissionais da empresa. “Moisés nos trouxe até aqui e mostrou o caminho, só não ensinou a tecnologia para controlar as águas”, brinca Igal Aisenberg, presidente da Netafim.

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DESSALINIZAÇÃO
A usina de Ashkelon, segunda maior do planeta

Além da irrigação sem desperdício, os agricultores contam cada vez mais com a água e o adubo gerados por centrais de tratamento. Uma das mais produtivas é a Shafdan, em Tel-Aviv, onde profissionais separam lixo, material orgânico e água. O primeiro é enviado para usinas de reciclagem, o segundo vira adubo e o terceiro é purificado e vai pa­ra os canos dos sistemas de irrigação.

Quando se trata de matar a sede nacional, no entanto, a maior aposta vem mesmo do mar. A cidade litorânea de Ashkelon abriga a segunda maior usina de dessalinização do mundo. Os canos da instalação avançam um quilômetro mar adentro e abastecem as membranas que separam líquidos e sólidos. A empresa por trás do negócio é a IDE Technologies, que comanda mais três usinas no país e produz cerca de 300 milhões de metros cúbicos anuais do líquido. Hoje, quase metade dos israelenses bebe água dessalinizada. “E o melhor é que o custo está cada vez mais baixo. O metro cúbico custa US$ 0,53. No passado não muito distante, eram US$ 3”, contabiliza Fredi Lokiec, vice-presidente executivo da IDE.

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AVANÇO
“O custo da dessalinização da água está cada vez mais baixo”,
diz o executivo Fredi Lokiec

Com todos esses esforços, Israel espera chegar a 2015 livre da necessidade de fontes naturais de água. “Não chegaremos lá porque somos espertos. Não temos outra saída”, diz Booky Oren, organizador da Watec, feira dedicada ao líquido que acontece em novembro. E o que o Brasil, cheio de rios e lagos, tem a aprender com tudo isso? Muito, pois estima-se que, nos próximos 20 anos, o consumo mundial de água suba 50%. Se um dia ela faltar por aqui, as soluções já terão sido desenvolvidas em pleno deserto.

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