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FESTA
Multidão se reúne no “marco zero”, em Nova York, e em várias universidades do país.
Ao centro, Michele e Barack Obama atrás de um soldado da Guarda de Honra

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"USA! USA!" Gritando o nome do país, um grupo inflamado de jovens se dirigiu à Casa Branca imediatamente após o anúncio da morte de Osama bin Laden feito pelo presidente Barack Obama, no final da noite do domingo 1o. Eles vinham dos dormitórios da universidade George Washington, localizada a três quarteirões da sede do governo americano. Batiam no peito mostrando, talvez pela primeira vez em suas vidas, um grande orgulho por terem nascido nos Estados Unidos. A maioria deles tinha nove ou dez anos quando as torres gêmeas vieram abaixo, no dia 11 de setembro de 2001. De lá para cá, só colecionavam más histórias – guerras condenadas pelo mundo civilizado e crise econômica. Comemorar os feitos da grande pátria não era uma experiência desta geração.

Barack Obama receberá os louros de ter permitido essa grande virada patriótica. Ele foi eleito em 2008 com a promessa de restaurar o orgulho americano. Tudo indicava, no entanto, que o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos encerraria seu mandato em 2012 sem cumprir o prometido. O resgate da economia ainda é lento e a geração de empregos, tímida, mas a vitória contra Bin Laden injeta um ânimo inédito em toda a sociedade. “Fomos lembrados, mais uma vez, de que há um orgulho que essa nação defende e o fato de poder conseguir isso é algo mais profundo que o partido, mais profundo que a política”, declarou Obama durante jantar com parlamentares e membros do alto escalão. Mais um tiro no alvo: as imagens do presidente democrata sendo aplaudido de pé até por líderes da oposição republicana não serão esquecidas facilmente.

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FIM
Capa da revista “Time” nos luminosos de Times Square

O reflexo de todo o entusiasmo foi rapidamente colhido pelas pesquisas de opinião. O “New York Times”, por exemplo, apontou um crescimento de 11 pontos percentuais na popularidade do presidente, que saltou dos 46% para 57%, segundo a pesquisa do jornal. O sonho de reeleição de Obama, que lançou oficialmente sua campanha no início de abril, está reanimado. Nas amostras qualitativas, o governo conseguiu uma vitória ainda maior ao colher o apoio de 77% dos americanos sobre o desempenho em questões de segurança nacional. “A morte de Bin Laden deve representar vários milhões a mais em sua campanha pela reeleição”, avalia Ron Palmer, do Instituto Rocher de pesquisas. Ironia do destino, há pouco mais de um mês Obama era tido como um “comandante em chefe” pouco convincente e cuja postura em relação ao conflito na Líbia foi considerada vacilante até mesmo por democratas. A ação contra Bin Laden também acabou afastando qualquer dúvida sobre o nacionalismo de Obama, tão maliciosamente explorado pela oposição.

Há uma grande diferença de estilo entre a exploração da unidade nacional que George Bush fez com a tragédia do World Trade Center para lançar sua guerra ao terror e a maneira como Obama se vale agora desse mesmo sentimento para animar a América. O democrata é especialmente cauteloso. Sabe que seu antecessor abusou da boa vontade da opinião pública e, em alguns momentos, agiu como se tripudiasse dos EUA e do mundo. Foi assim em 2003, quando Bush vestiu uniforme militar e anunciou o fim da guerra no Iraque de cima de um porta-aviões. Puro factoide. Mais de sete anos depois, a coalizão militar que ocupou o país pena para estabilizá-lo e ainda sofre baixas diárias. Isso somado aos escândalos que se seguiram, envolvendo companhias de petróleo ligadas ao governo, fazem com que a declaração de guerra de Bush, nos escombros ainda quentes do WTC soe hoje como uma piada de mau gosto. Obama tratou de rejeitar, por exemplo, exibir qualquer imagem do corpo do terrorista. “Não exibimos isso como troféu, não somos assim”, disse o presidente em entrevista ao programa “60 minutes” da CBS. A mesma cautela orientou as homenagens às vítimas do 11-S, durante visita de Obama ao “marco zero” na quinta-feira 5. O presidente não discursou, apenas conversou com familiares dos mortos e depositou uma coroa de flores no memorial que está sendo construído. “O que aconteceu no domingo 1o, pela coragem dos nossos militares, envia uma mensagem ao mundo. Quando dizemos que jamais iremos esquecer, nós mantemos nossa palavra”, disse. Os gestos, no caso, contam mais do que qualquer discurso.