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O ano de 1951 foi significativo para jornalistas e artistas brasileiros. Nesse ano, influenciados pela escultura Unidade tripartida, do suíço Max Bill, premiada na 1a Bienal de São Paulo, artistas paulistas, cariocas e mineiros abandonavam o figurativismo da pintura e da escultura e enveredavam no racionalismo da abstração geométrica. Nesse mesmo início de década, o Diário Carioca modificava seu estilo editorial, migrando de um jornalismo de influência francesa, predominantemente opinativo, para o modelo informativo dos jornais americanos, sendo logo seguido pelo Jornal do Brasil (JB) e o Última Hora nessa empreitada. Os artistas Amilcar de Castro e Willys de Castro foram agentes e participantes dessas duas movimentações históricas e sua destacada atuação na imprensa, na publicidade, na moda e nas artes gráficas brasileiras está evidenciada na exposição Desenho e design, no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), em São Paulo.

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ARTES APLICADAS Willys de Castro fazia estampas para tecidos (à esq.) e Amilcar de Castro diagramava jornais (abaixo)

O Diário Carioca sentiu primeiro a necessidade da mudança, mas foi o JB que realmente empreendeu a mais importante reforma gráfica de um jornal brasileiro. Quando foi convidado a conduzir essa missão, o mineiro Amilcar de Castro já havia diagramado os principais jornais mineiros e vivia no Rio de Janeiro, onde iniciava sua atividade de escultor e era diagramador das revistas Manchete e A Cigarra. Amilcar encontrou no JB um estilo sisudo, com excesso de textos e de classificados, praticamente sem ilustrações e fotografias. O tratamento visual que deu ao jornal era similar ao manuseio firme que dava ao ferro. O corte e a dobra, considerados os recursos mais frequentes de sua escultura em ferro, podem ser percebidos na maneira com que ele rompe o eixo central que dividia a antiga diagramação do JB em duas metades simétricas. No final da carreira, destaca-se o tratamento que deu ao Jornal de Resenhas, suplemento da Folha de S.Paulo. "O artista parece preocupado em conferir ao objeto gráfico uma espécie de aura, cercando-o de um silêncio que aproxime sua fruição de uma experiência estética", afirma o crítico Lorenzo Mammi no texto curatorial da exposição.

Enquanto Amilcar aplicava sua experiência concretista às massas de texto dos jornais, conferindo-lhe contrastes, assimetrias e uma até então inexistente valorização dos espaços brancos, a poesia concreta brasileira também rompia com a linearidade das páginas. Poeta, desenhista e pintor, Willys de Castro não usava ferro, mas aplicava aos seus logotipos e propagandas de marcas comerciais a mesma liberdade com que as palavras ocupavam as páginas de seus poemas concretos. Estão reunidos na exposição seus desenhos preparatórios para estampas de tecidos, desenhos, poemas, peças gráficas e esculturas, entre a seleção de 340 objetos que compartilham o espaço do IAC.

Bate-papo

Camille de Bayser e Rose Bürki

Presença cativa da França na SP Arte

Atualmente, três artistas brasileiras expõem na galeria da Cité Internationale des Arts, em Paris. Por trás da exposição coletiva que reúne Silvia Mecozzi, Amália Giacomini e Iracema Barbosa, há duas jovens galeristas francesas. Camille de Bayser e Rose Bürki representam nove artistas franceses e oito brasileiros em sua Galerie Sycomore Art, em Paris. Com o objetivo de estreitar as relações entre a França e o Brasil, elas participam pelo terceiro ano consecutivo da SP Arte – Feira Internacional de Arte de São Paulo, que realiza sua quinta edição entre 14 e 17 de maio, no Pavilhão do Ibirapuera, com a participação de 80 galerias, dez delas estrangeiras.

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A SP Arte tem dado resultados positivos?
Rose
– A SP Arte é um encontro anual muito importante para nós, tanto quanto essas feiras jovens parisienses, Diva e Slick. Para nós, essas feiras são uma estratégia para criar uma visibilidade da galeria, tanto em Paris quanto em São Paulo.

Como começou o interesse pela arte brasileira?
Camille
– Desde a abertura da galeria, em 2004, tínhamos a ideia de fazer um elo com o Brasil. No ínicio, tínhamos duas bases: em Paris e em São Paulo, onde morei durante dois anos. Começamos a trabalhar a distância, pesquisando artistas e procurando parceiros. Encontramos a Raquel Arnauld, que começou uma colaboração conosco, nos confiando seus artistas mais jovens. Assim, as coisas se encadearam e começamos a organizar exposições individuais e coletivas de artistas franceses e brasileiros.

Como é o interesse do colecionador brasileiro por arte francesa e vice-versa?
Camille
– É um trabalho demorado. Na realidade, existem hoje apenas quatro ou cinco artistas conhecidos tanto lá quanto cá. Nosso objetivo é apresentar os novos, os desconhecidos. Mas o fato é que, na França, o reconhecimento de um artista depende de sua passagem por instituições. Por isso, é preciso estabelecer um elo com as instituições para que os artistas alcancem maior visibilidade. E esse é um trabalho lento. Começamos, por exemplo, apresentando três artistas francesas no Centro Cultural São Paulo, em 2006, e hoje mostramos três brasileiras na Cité des Arts, em Paris.