Quem estava nas praias do litoral norte de São Paulo no fim de semana passado presenciou um belo e raro espetáculo da natureza. Uma baleia franca acompanhada por seu filhote passou horas se exibindo como num gracioso balé para banhistas de Juquehy e Barra do Sahy, em São Sebastião. A baleia, que pode medir até 18 metros e pesar entre 40 e 60 toneladas, não estava ali por acaso. Entre junho e novembro, a baleia franca vem para a costa brasileira para se reproduzir e amamentar os seus filhotes. Apesar de se concentrar no litoral de Santa Catarina, no Sul do País, ela também gosta de levar sua cria para passear por outras águas.

Um dos que presenciaram tamanha beleza foi o empresário paulista e também fotógrafo amador Nércio Fernandes, 40 anos. Com um grupo de amigos, ele saiu para um passeio de barco no domingo 3 e no meio do percurso foi surpreendido pela baleia e sua cria. “Foi indescritível. Ela deu um show para a gente durante quase três horas, sempre acompanhada de perto pelo seu filhote”, diz o autor das belíssimas fotos que ilustram esta reportagem. A aparição dos animais movimentou a região e atraiu dezenas de curiosos atrás do melhor ângulo para assistirem ao espetáculo. É bom as pessoas irem se acostumando.

De acordo com o biólogo e coordenador do projeto Baleia Franca de Santa Catarina, José Truda, essas cenas, hoje raras, se tornarão cada vez mais comuns. “Elas estão voltando a povoar lugares onde costumavam frequentar em outros tempos”, diz. Ele explica que essa espécie de cetáceo sempre foi comum em águas brasileiras, principalmente entre Santa Catarina e Abrolhos, na Bahia. A partir do século XVII, entretanto, a baleia franca começou a ser caçada em abundância, prática que só terminou em meados dos anos 70, com a proibição da caça à baleia no Brasil. Ela já figurou na lista de animais em perigo de extinção e por isso desapareceu da costa brasileira. Só foi reaparecer na década de 80.

Ainda hoje é uma das espécies mais caçadas no mundo. Restam apenas sete mil exemplares de francas. No Brasil, elas chegam a cerca de 300, mas nem todas vêm ao País todos os anos. Ora estão em águas brasileiras, ora na Patagônia, no sul da Argentina, para se reproduzirem. Nos outros seis meses do ano, voltam para a Antártica, onde se alimentam de plâncton e krill, uma espécie de pequenos camarões. Nesse período, elas chegam a acumular cerca de 40 centímetros de gordura sob a pele, o que lhes dá forças para viajar até o Brasil.

Santuário – Graças aos vários programas de proteção ao meio ambiente espalhados pelo mundo, a situação está sendo revertida. Um deles foi a criação, há três anos, de um santuário em Santa Catarina. Essas iniciativas têm dado resultado. Hoje, a quantidade de baleias francas crescem em torno de 8% ao ano. Os biólogos comemoram, mas também são cautelosos. O aumento de sua população e a desinformação em torno delas podem gerar alguns contratempos. “Como essa espécie nada muito próximo da costa, é comum os banhistas acharem que está encalhada. A tentativa de ajuda pode ser desastrosa”, alerta Truda.

As baleias francas são de temperamento dócil e nadam muito lentamente, o que faz com que as pessoas queiram se aproximar delas. Essa atitude pode ter um grave desfecho tanto para as baleias como para os curiosos. “A maior causa de morte envolvendo filhotes de francas é a aproximação de barcos. Muitos deles são atropelados”, afirma Shirley Pacheco, coordenadora do projeto SOS Mamíferos, ONG que atua no litoral norte de São Paulo monitorando a passagem de animais e educando a população local e os turistas sobre os cuidados com eles. Para defender a sua cria, a mãe pode se tornar muito agressiva colocando em risco a vida dos curiosos.

O alerta não é em vão. O artigo 22 da Lei de Crimes Ambientais prevê uma multa de R$ 2,5 mil para quem incomodar de forma intencional toda espécie de cetáceo em águas brasileiras. “A dica é: curta a presença das baleias, mas deixem-nas em paz”, recomenda Truda.