Clássica garota problema, Astrid (Alison Lohman), protagonista de Deixe-me viver (White oleander, Estados Unidos, 2002), em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro, desde adolescente mostra vocação para o sofrimento. Filha única de uma artista plástica possessiva e egoísta, aos 14 anos ela vê a mãe, Ingrid (Michelle Pfeiffer), ser levada presa por assassinar o amante lúbrico. Surpreendida por dois funcionários do juizado de menores, passa a viver de casa em casa como adotada, numa via-crúcis de dar dó. Primeiro vai parar no lar cafona de uma ex-stripper e cocainômana que encontrou Jesus. Leva um tiro no ombro,
desfechado pela loira enciumada com os olhares nada santos do companheiro para a menina.

São tipos interessantes, que mantêm a atenção do espectador, alimentada na hora certa com novos atrativos. Na sequência, Astrid cai numa espécie de Febem. Depois, vira o xodó de uma atriz frustrada e estéril que a recebe em sua mansão à beira-mar. E acaba nas mãos de uma trambiqueira russa, habituada a explorar a mão-de-obra das filhas adotivas numa movimentada feira hippie. A esta altura, Astrid já ganhou a audiência. Não sem razão, a assistente social sempre a apresenta para os futuros pais com a ressalva: ela tem passado por momentos difíceis. Se levar em conta que todos os estragos se deram em apenas três anos, têm-se a medida exata do calvário da garota. Com este material viscoso, o diretor inglês Peter Kosminsky, em sua estréia americana, exagera na temperatura melodramática e também na cor local da ensolarada Califórnia. O momento-framboesa se dá quando aparece na trilha sonora uma bossa em português, cantada por um tal de Tupinikings!


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias