No início, parecia que nada daria certo na carreira do inglês Michael J. Sheehy. À frente de seu antigo grupo Dream City Film Club, durante três anos se apresentou em pubs e clubes londrinos enfrentando platéias totalmente apáticas. Mas, a partir do momento que triturou o rock e o country de Elvis Presley e Hank Williams com a fase glitter e pré-punk de Marc Bolan e David Bowie, começou a tecer melodias de tons e timbres diversos, que o levaram à admiração de um público seleto, sempre ávido por ouvir suas novas receitas. No longer my concern, seu terceiro trabalho solo, é um disco lotado de surpresas. Logo na primeira faixa, Distracting yourself from the doom, o ouvinte não familiarizado com o som do cantor, compositor e guitarrista pensa que se trata de um intérprete de baladas. Até prestar atenção na letra e perceber que o desapontamento com a existência, destilado em melodia triste, é no mínimo um curioso cartão de visitas. Em seguida, Donkey ride straight to hell, composta em parceria com Willie Dixon, um dos papas do blues urbano, mostra um artista completamente diferente, cantando a traição de uma mulher em desesperado ritmo country-blues-eletrônico.

Nascido no Norte da Inglaterra, Sheehy lembra mais um country boy americano com sensibilidade e inteligência. Até dá para entender por que não gostava dos artistas do gênero quando criança. Melhor para todo mundo, porque Sheehy só espremeu a essência country para desenvolver um trabalho bastante peculiar. Suas baladas carregam toques de tristeza, sem ser açucaradas. E a maneira como salta do acústico romântico para o acústico com peso de rock é impressionante. Pigboy tem melodia que parece saída dos infernos do Mississippi, mas com uma história superurbana de infelicidade com a própria pessoa. Só como exemplo da cabeça efervescente de Michael Sheehy, ele conta que certo dia se olhou no espelho e se achou o mais completo miserável, sem nenhum charme ou capacidade de conquista. Mas era preciso reagir contra este sentimento, acrescentando senso de humor à vida. Compôs Pigboy, que não é nada divertida.