Sob o peso dos meus amores/ Itaú Cultural, SP/ de 17/3 a 29/5

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HISTÓRIA DA ARTE
Na tela “São Tantas as Verdades”, Leonilson lista
todas as suas influências, da bossa nova a Basquiat

Leonilson foi e será sempre o jovem poeta da arte brasileira. Certa vez, confessou à amiga Lisette Lagnado, crítica de arte, que a palavra entrou em seus desenhos em 1989, quando estava muito apaixonado. “Pensei em escrever nos desenhos, em vez de ficar escrevendo em cadernos.” Foi um desejo forte, que não podia calar, que inaugurou sua livre escrita sobre as imagens. O conjunto dessa obra povoada de textos íntimos e pensamentos em voz alta pode ser comparado, então, a um livro poético. Livro que às vezes se confunde com um caderno de notas, um diário, ou mesmo uma coleção de cartas de amor. “Sob o Peso dos Meus Amores” apresenta uma retrospectiva de 318 obras-poemas de Leonilson, artista que em 36 anos de vida produziu um dos conjuntos mais significativos da arte brasileira, hoje distribuído nas maiores coleções públicas e privadas do planeta.

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CARTAS DE AMOR
Em obras que sempre integram texto e desenho,
Leonilson (acima) elabora sua obra poética.
“Ninguém” (abaixo) é bordado sobre travesseiro

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Bonito, traidor, tímido, egoísta, mentiroso. Os adjetivos que pontuam seus desenhos, bordados, pinturas e cadernos poderiam muito bem ser autorreferentes. Mas sabe-se que Leonilson dedica sua atividade artística ao outro, ao parceiro anônimo e distante, ao amigo ideal. Seus textos são portanto declarações. Embora quase sempre incógnitos, dessa vez um deles vem à tona. Trata-se do amigo, colecionador e artista alemão Albert Hien, que emprestou para a exposição do Itaú Cultural 66 obras de sua coleção, entre elas a instalação inédita “How to rebuild at least one eight part of the world” (1986), feita a quatro mãos pelos dois amigos.

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Além das raras e inéditas obras da coleção baseada em Munique, a mostra apresenta uma sequência coerente de obras antológicas, como a pintura “São Tantas as Verdades” (1988), a aquarela “Leo não Consegue Mudar o Mundo” (1989), o bordado “Voilà Mon Coeur” (1990), a pintura “Os Pensamentos do Coração” (1988) e o vestido bordado com a frase “O que você desejar, o que você quiser, eu estou aqui, pronto para servi-lo” (1990).

Leonilson já ganhou homenagens sinceras: na Bienal de 1998 teve uma sala especial dedicada ao seu trabalho e, em 2003, no décimo aniversário de sua morte, a Galeria Vermelho, do amigo Eduardo Brandão, promoveu a exposição “Vizinhos”, que se propôs a traçar as relações bastardas entre o pintor poeta e a nova geração da arte contemporânea. Leonilson suscita sempre novas amizades e a atual exposição se inscreve como mais uma importante declaração de afeto ao artista.