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O LADO BOM
Longe dos anúncios de aperto na economia,
a presidente grava amenidades com as
apresentadoras Ana Maria Braga e Hebe Camargo

Na segunda-feira 28, no Rio de Janeiro, a presidente Dilma Rousseff gravou uma inusitada entrevista no Projac da Rede Globo. A participação especial no programa da apresentadora Ana Maria Braga, que foi ao ar no dia seguinte, revelou uma Dilma com ares mais domésticos, bem distante daquele figurino técnico e austero que vem caracterizando sua presidência. Em frente às câmeras da Globo, Dilma preparou uma omelete de queijo, com cuidado e esmero. A cena familiar não era um mero acaso. Ela faz parte de uma estratégia bolada pelo Palácio do Planalto, que escolheu março, o mês da mulher, para aumentar a exposição da presidente. “Agora que organizou a estrutura do governo e já se reuniu com todos os ministros, chegou a hora de aparecer mais para a sociedade”, disse à ISTOÉ uma fonte do Planalto. Mas aparecer significa aparecer bem. Ainda neste mês, Dilma terá uma amena participação no programa de estreia da apresentadora Hebe Camargo na RedeTV!. Estrategicamente, Dilma seguirá à margem das notícias impopulares como já havia acontecido na briga pelo salário mínimo de R$ 545 e no anúncio do corte no programa Minha Casa Minha Vida.

Mas não se fazem omeletes sem quebrar os ovos. Nem na cozinha nem na vida real, como ensina o dito popular. Assim, no mesmo momento em que Dilma fazia sua omelete no Projac, dois ministros eram encarregados de quebrar os ovos em Brasília. Enquanto Dilma conversava com Ana Maria Braga, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, anunciavam novas medidas duras para controlar a inflação. Coube a eles detalhar o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, que atingiu a Educação e a Previdência, não deixando de fora nem o PAC. Com Dilma ficaram as boas notícias. Foi ela quem se encarregou, na terça-feira 10, de anunciar com festa em Irecê, no sertão baiano, o reajuste de 19,4% do Bolsa Família, como o primeiro passo concreto de seu programa de erradicação da miséria. O auxílio alcança 50 milhões de pessoas e o aumento, de 8,7% acima da inflação, elevará o benefício mínimo de R$ 22 para R$ 32 e o máximo de 200 a R$ 242. “É um caminho para melhorar a distribuição de renda no nosso país, assegurando que as nossas crianças tenham um futuro que seus pais não tiveram”, afirmou a presidente.

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Dilma foi à Bahia anunciar aumento do Bolsa Família

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Embora o reajuste do Bolsa Família aumente as despesas do governo em R$ 2,1 bilhões, assessores de Dilma garantem que a prioridade presidencial, no momento, é o combate à inflação. “Não vamos descuidar da inflação. A presidente Dilma tem deixado isso claro e a reunião do BC sobre juros é uma prova”, afirma um ministro. Na quarta-feira 2, o Copom elevou em 0,5 ponto percentual a taxa Selic, pela segunda vez consecutiva, por unanimidade, “dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias”. Neste momento, os juros básicos brasileiros são de 11,75% ao ano, os maiores desde janeiro de 2009. Este ano, o gasto público deve crescer abaixo da expansão do Produto Interno Bruto (PIB), numa demonstração de que, com o ajuste de contas, o governo pretende fazer sua parte e desaquecer a economia, reduzindo a pressão sobre o aumento de preços. Dilma também foi avisada de que os juros continuarão subindo, enquanto o Banco Central não reverter as expectativas de inflação, que seguem se deteriorando.

Como de costume, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticaram a alta dos juros. Para as duas entidades, o BC sempre pesa a mão e ignora os sinais claros de desaceleração da atividade econômica que já estão ocorrendo. “Há indicadores recentes que confirmam o desaquecimento da atividade, provocado por medidas de restrição ao crédito, pela valorização do câmbio e a elevação dos juros em janeiro”, diz o presidente da CNI, Robson Braga. Desta vez, até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que sempre criticou internamente a alta dos juros, acredita que o aumento de 0,5 ponto é necessário. Mas Mantega se mantém otimista, apesar de o mercado ter reduzido a previsão de crescimento do PIB para este ano de 4,5% para 4,3%. “Não dá para acertar o crescimento, mas de 4,5% a 5% está bom.”

Além dos cortes no Orçamento, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, por ordem da presidente Dilma, pediu a todas as pastas uma relação das despesas deixadas pelo governo Lula, que Dilma não pretende manter. O ex-presidente Lula deixou uma herança de quase R$ 100 bilhões em gastos contratados, segundo a ONG Contas Abertas, e pelo menos um terço não será concretizado. Entrarão na economia de gastos obras de saneamento, urbanização das favelas e até a transposição do rio São Francisco, que se juntará aos cortes de R$ 8,58 bilhões no Ministério das Cidades e de R$ 4,38 bilhões na Defesa. A hora é de quebrar ovos.

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