Os embaixadores da Líbia na França ante a Unesco anunciaram nesta sexta-feira sua renúncia para condenar os atos de repressão na Líbia e sua adesão à revolução contra o coronel Muamar Kadhafi, em uma declaração lida ante a embaixada em Paris. "Condenamos firmemente os atos de reprssão na Líbia. Declaramos nossa união ao povo, nosso apoio à revolução do povo", declararam os embaixadores Salah Zaren e Abdul Salam el Galali. "Nós nos demitimos de nossos postos e nos somamos à revolução", afirmaram em uma declaração conjunta transmitida pela Rádio France Inter e aplaudidos por alguns líbios reunidos ante a embaixada.

Um grupo de opositores líbios, que se anunciam como "filhos da revolução", tomou o controle da embaixada da Líbia em Paris. "Assumimos o controle da embaixada", declarou uma fonte do movimento, que pediu anonimato, enquanto um cordão policial impedia a entrada no edifício e em particular a entrega de alimentos aos jovens manifestantes. Os opositores, que chegariam a 30 pessoas, ocupam a embaixada desde a noite de quinta-feira. Eles expulsaram os funcionários do local.

O grupo ameaça cometer suicídio coletivo no caso de intervenção da polícia. Os manifestantes içaram no local a antiga bandeira líbia, anterior à chegada ao poder de Muamar Kadhafi em 1969. A repressão ordenada pelo ditador Muamar Kadhafi aos protestos contra seu regime deixaram 300 mortos, segundo o balanço oficial, mas a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) registrou pelo menos 640 mortes. Outros balanços não confirmados mencionam mais de 1.000 mortos.

Assessor renuncia

Kadhaf al-Dam, assessor e primo do ditador líbio Muamar Kadhafi, renunciou na quinta-feira a todos os cargos, no momento em que o regime enfrenta uma rebelião popular e a deserção de vários altos funcionários, informou a agência de notícia egípcia MENA. "Kadhaf al-Dam anunciou a demissão de todas as funções no regime líbio para protestar contra a gestão da crise líbia", afirma um comunicado citado pela agência egípcia.

Segundo o gabinete de Kadhaf, o primo do ditador, que abandonou o país na semana passada, era responsável pelas relações Egito-Líbia, entre outras funções, e possui uma residência no Cairo. Ao apresentar a demissão, Al-Dam pediu o "fim do banho de sangue e o retorno da razão para preservar a unidade e o futuro da Líbia", segundo a agência MENA.

Trípoli

As forças leais ao dirigente líbio Muamar Kadhafi dispararam contra os manifestantes que se congregaram em vários bairros de Trípoli depois da oração de sexta-feira, indicaram à AFP várias testemunhas entrevistada por telefone. "As forças de ordem dispararam contra os manifestantes sem fazer distinção. Há mortos nas ruas de Sug Al Joma", indicou um habitante desse bairro. Outras testemunhas de bairros do leste da capital, como Ben Ashur e Fashlum, também disseram que houve disparos contra pessoas nas ruas.

Abastecimento em risco

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU advertiu nesta sexta-feira que a rede de abastecimento de alimentos na Líbia corre o risco de entrar em colapso, ao mesmo tempo que as organizações humanitárias temem que muitas pessoas não consigam abandonar o país. "A Líbia importa praticamente todos os gêneros alimentícios e a rede de abastecimento está à beira do colapso", afirmou a porta-voz do PMA, Emilia Casella.

A porta-voz informou que as importações de alimentos não chegam mais aos portos líbios e que a violência dificulta a distribuição. Ao mesmo tempo, uma fonte do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) informou que muitas pessoas que desejam abandonar a Líbia estão presas e não conseguem deixar o país. "Estamos preocupados com o fato de que muitas pessoas que desejam fugir se encontram retidas", declarou Melissa Fleming.