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Para um fotógrafo, uma câmera significa um prolongamento, uma extensão de suas capacidades. Seu olhar é ampliado pelo dispositivo e, consequentemente, aquilo que é visto se torna vulnerável aos critérios dessa lente. Mas é possível que os papéis se invertam neste jogo? Que o fotógrafo, de repente, se torne o alvo do objeto que pretende fotografar? Essas são algumas das questões que o artista gUI Mohallem coloca em sua recente série denominada “Welcome Home”. Em 2009, quando se encontrava nos Estados Unidos para uma série de trabalhos, gUI resolveu fazer um retiro e visitou um santuário queer no Tennessee. “O santuário é um lugar de retiro, de refúgio. O lugar não passa por um crivo institucional. E a palavra queer, originalmente, tem a ver com a ideia de ‘estranho’. Antigamente, ela era usada em um sentido pejorativo para definir homossexuais. Boa parte desse santuário é uma comunidade feita de pessoas que se consideram queer, mas não necessariamente são gays”, explica Mohallem.

Em 2010, ele retornou ao local com o objetivo de registrar um festival em comemoração ao início da primavera. O exercício proposto foi o de confrontar-se com o “estranho”, o que modificou o seu olhar diante da câmera. “Antes, eu fotografava pessoas que não sabiam que estavam sendo fotografadas. A fotografia era um gesto secreto e as fotos não eram necessariamente sobre as pessoas que nela apareciam. A experiência do santuário me trouxe uma postura de vulnerabilidade na fotografia. O que você faz quando a pessoa sabe que está sendo fotografada?”, se pergunta o artista. A resposta para a questão são as próprias fotos de Mohallem.

As imagens apresentam a comunhão de pessoas em um cenário bucólico e secreto, com enorme cautela e delicadeza, nos lembrando que fotografar nunca é um gesto de solidão e sempre um gesto duplo: no qual aquilo que é registrado também acaba por se oferecer ao olhar do fotógrafo. 


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