O número 15 é um sinal cabalístico que cruza as vidas da sedutora top model Mariana Bittencourt e do produtor cultural Paulo Borges. Ele, 40 anos, pai da São Paulo Fashion Week – principal evento de moda do País que começa nesta segunda-feira 30 – comemora a chegada de um novo ciclo. Mariana, 22 anos, também. Ambos nasceram no interior do Estado de São Paulo (ela em Campinas, ele em São José do Rio Preto) e se tornaram cidadãos do mundo. Na semana que vem, completam 15 edições de Fashion Week numa celebração em grande estilo. O prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, sede oficial do evento, será transformado em um grande baile de debutantes. “Teremos instalações em muitos tons de Rosa e um painel de fotos antigas dos principais jornalistas de moda, aos 15 anos de idade”, adianta Paulo Borges.

Há sete anos e meio, enquanto ele criava o primeiro evento do calendário oficial da moda brasileira, Mariana Bittencourt estreava nas passarelas. De lá para cá muita coisa mudou. Borges transformou São Paulo numa capital internacional da moda e Mariana, de new face, virou uma das mais disputadas tops do País. “Eu tinha 15 anos quando debutei na passarela. Minhas pernas tremiam.” Mas não de medo dos especialistas do mundinho fashion. “Me preocupava apenas com a opinião dos meus pais”, recorda Mariana que, na estréia, teve a companhia da irmã gêmea, Carolina, também top model.

Junto com Mariana e Borges, a moda brasileira cresceu e apareceu. Os números não mentem. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o setor é o segundo maior empregador de mão-de-obra no País. São ao todo 30 mil empresas que geram 1,5 milhão de empregos diretos, dos quais 120 mil foram criados nos últimos quatro anos. O faturamento no ano passado foi de US$ 22 bilhões, o que faz do Brasil o sétimo produtor têxtil do mundo. Um pouco desta trepidante indústria reluz em mais uma edição da SPFW. E a convite de ISTOÉ a debutante-veterana veste seis das 47 grifes que, até o sábado 5, apresentam suas coleções primavera-verão 2004. Com exclusividade, os estilistas Amir Slama, Glória Coelho, Tufi Duek, Renato Kherlakian, Marcelo Sommer e Waldemar Iódice se dispuseram a emprestar alguns looks que serão mostrados na passarela.

Criativos como sempre, e cada vez mais autorais, os criadores tornam difícil a missão de definir uma única tendência para a estação. Cada um aposta no que quer. Mas, a julgar pelos pedidos dos principais estilistas para a tecelagem Santa Constância, um dos tecidos mais usados do verão será a Radiosa (uma malha de viscose com Lycra). “É leve, tem bom caimento para vestidos e blusas e facilita plissados, repuxados e franzidos”, explica Costanza. Na opinião da consultora, que tem especial capacidade para prever o que aparece nas passarelas, a estação será elegante e ousada. “Estamos vivendo uma fase que chamo de trash-glam, do glamour rebelde. Que tem tanto peças com referências retrôs em suas mangas e golas como blusas meio anos 80 com mangas morcego”, completa.

Outras grifes que estarão no SPFW

Forum
Tufi Duek se inspirou na sedução feminina
para desenvolver a coleção que recebe o nome
de Desejos. O desfile de quarta-feira às 20h
será cheio de referências chiques dos anos 80 (tendência internacional da moda e da cultura
pop). Abusará das transparências, do cetim,
do negro, do vermelho e das mangas morcego
e calças com barras que lembram polainas (à Dolce&Gabbana). Ferragens e fivelas completarão
o look fetichista. “A mulher sedutora é sensual,
auto-confiante e chique”, traduz o estilista.

Sommer
As flores são a principal inspiração da coleção do irreverente estilista Marcelo Sommer. Leves, havaianas ou no estilo tatuagem, as estampas florais estarão em tricôs, sedas e tecidos tecnológicos. “Todos os modelos têm cortes folgados, longe do corpo”, conta Sommer, que desfila na terça-feira, dia 1º, às 12h. Primeiro brasileiro convidado a desenhar camisetas para a grife Harley Davidson, o estilista deverá incrementar a passarela com o “glamour rebelde” da marca.

G
Minimalista por excelência, mas extravagante nos detalhes, a estilista Glória Coelho, que abre os desfiles da quinta-feira 3, não fugirá à regra nesta coleção. Sob o tema “pessoas extraordinárias out of the pockets”, mesclará o vintage (look antigo) do século XVI com a vanguarda dos tecidos de última geração (anti-radiação solar, antibactéria e dry fit – que não molham e facilitam a transpiração). “A borracha da estação passada continua em voga, mas a coleção terá surpresas como a roupa comestível de chocolate Kopenhagen”, revela Glória.

Zapping
De volta ao calendário depois de três edições, a grife Zapping (do estilista Renato Kherlakian, da Zoomp) se apresenta sexta-feira, às 14h, mantendo sua máxima de “supermercado de estilos”. Atenta aos desejos de seus consumidores – jovens exigentes de até 25 anos –, a marca apostou em looks divertidos, com diferentes acabamentos, tecidos e cores. Recauchutada para atender todas as tribos, a grife terá em seu desfile a top das tops, dona Gabriella Pascolato, 86 anos.

Meio século de história

Depois de dois anos de “quases”, sai, finalmente, do forno o livro de Paulo Borges e Giovanni Bianco. O Brasil na moda (Ed. Caras, 1.278 págs, R$ 195) será lançado no primeiro dia da SP Fashion.

Com uma apuração impecável, a obra promete virar a bíblia da moda brasileira. Em dois volumes de mais de 600 páginas, com cerca de 500 fotos e reproduções de 548 capas de revistas, o livro conta uma história que começa em 1958 (quando nasceu a Fenit – Feira Nacional da Indústria Têxtil) e vai até os dias de hoje.

As melhores passagens são assinadas por Borges. Ao desmistificar figuras lendárias do mundinho fashion, como a polêmica Regina Guerreiro, sua primeira chefe na moda, ele desmistifica a si mesmo. Vide o comentário sobre sua contratação pela revista Vogue: “Por que aquela revista tão importante iria contratar um menino com sotaque caipira?” A resposta está nas passarelas.