O Sudão do Sul será o país de número 193 do globo terrestre. Na segunda-feira 7, o anúncio do resultado de um referendo realizado no mês passado no Sudão revelou que 98,83% dos sudaneses do sul, negros cristãos em sua maioria, optaram pela separação do norte do país, composto por árabes muçulmanos. Em 9 de julho próximo, portanto, nascerá oficialmente o Sudão do Sul, o 54º país africano. Na Europa, nas últimas duas décadas, aproximadamente uma nação por ano tornou-se independente. Essa incrível dinâmica de transformações territoriais tem sido um desafio para o ensino da geografia. “Não podemos mais mostrar ao estudante o mapa fixo do mundo”, conta o geógrafo Rogério Haesbaert, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O aluno fica desesperado para saber, por exemplo, sobre o conflito no Egito. E vive nos cobrando para abordarmos esse ou aquele assunto em sala, conta o professor de geografia Eduardo Torres Gomes, da escola Pueri Domus e do Anglo Vestibulares, de São Paulo. 

Desde a queda do muro de Berlim, em 1989, uma combinação de fatores fez eclodir uma nova ordem mundial. Haesbaert, autor de “A Nova Des-ordem Msundial”, em parceria com Carlos Walter Porto-Gonçalves, cita a rearticulação do capitalismo, a desestruturação do ex-bloco socialista, a emergência do terrorismo globalizado e a convivência entre uma maior mistura de culturas e o fortalecimento de movimentos fundamentalistas como principais eventos. Tudo isso conferiu novos recortes à superfície do planeta para além da tradicional divisão em continentes ou em blocos capitalismo x socialismo. Hoje, o poder está mais descentralizado do Estado e vem de diferentes fontes. A atuação dos narcotraficantes, da rede Al Qaeda e das máfias divide a atenção com o novo papel de países como China, Rússia e Índia. “Há poderes (e territórios) paralelos”, diz Haesbaert. “Até mesmo a guerra passou a ser terceirizada e o Estado pode contratar milícias.”

Mais do que saber quais são os Estados que se unificam ou fragmentam, o aluno é compreender os processos em curso. “A minha obrigação é explicar as causas desses rearranjos de territórios. As consequências estão no noticiário da tevê”, conta o professor Gomes. Enxergar as disputas étnicas, de poder, riqueza e território para além dos livros didáticos é um trabalho mais árduo, porém aumenta o capital cultural. Uma necessidade do mundo de hoje.

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