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GARANTIA
No Senado, com Sarney, e na Câmara,
com Maia, colaboração com as reformas
 

 

O presidente do Senado, José Sarney, anda eufórico. Na quarta-feira 2, aos 80 anos de idade, ele arrastou pelo braço o presidente da Câmara, Marco Maia, para dentro do carro oficial, que os levaria por 100 metros até a rampa do Congresso, onde receberam a presidente Dilma Rousseff. Maia, 45 anos, havia se atrasado alguns segundos e Sarney já o aguardava na chapelaria. “Presidente Marco Maia, o senhor vai comigo”, disse Sarney, como se estivesse obrigando Maia a agir a contragosto. O veterano político maranhense em nada lembrava o homem cansado que em outubro foi operado do coração no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, com arritmia. Sarney e Maia conduziram a presidente da República até o plenário e prometeram se portar também como os fiéis escudeiros na votação de temas importantes no Congresso. Sarney destaca a reforma política entre estes temas: “O Brasil avançou na parte econômica extraordinariamente, avançou na parte social extraordinariamente, mas, infelizmente, na parte política regrediu”, justifica o senador.

Além da idade, há outras diferenças expressivas no currículo destes dois dirigentes do Legislativo. Ex-presidente da República, Sarney (PMDB/AP) tem 56 anos de vida pública, com quatro passagens pelo comando do Senado. No discurso de candidatura, ele lembrou que é o senador mais longevo da história do País, superando Rui Barbosa, o Águia de Haia, no quesito tempo de mandato. Rui Barbosa, que tem um busto no plenário do Senado, ocupou uma cadeira na Alta Casa por 35 anos, mas, ao contrário de Sarney, não realizou o sonho de ser presidente da República. Marco Maia (PT-RS) tem apenas seis anos de atuação na Câmara, onde entrou como suplente em 2005. O deputado compara sua trajetória à do presidente Lula, também torneiro mecânico e sindicalista. Maia chegou a cursar direito, mas aos 22 anos largou os estudos para se dedicar ao sindicalismo e à política. Perdeu três eleições para a prefeitura em Canoas (RS), uma delas em 2000, por ínfimos 1.900 votos, fato que ele não superou até hoje. O principal cargo público que exerceu foi o de secretário de Administração do Rio Grande do Sul, no governo Olívio Dutra.

Em comum, Sarney e Maia demonstraram generosidade na vitória pela liderança do Congresso. Com 70 votos dos 81 possíveis, Sarney fez questão de cumprimentar seu adversário, o jovem senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), 38 anos, que recebeu somente oito votos. Do alto da expressiva eleição em primeiro turno com 375 votos dos 510 presentes, Maia prometeu acomodar todos os partidos de oposição na mesa diretora e nas comissões da Câmara. Ambos os líderes são persistentes. Mesmo diante dos apelos contrários de sua mulher, dona Marly, que gostaria que ele pendurasse as chuteiras, Sarney foi seduzido por outro mandato na presidência do Senado. Com apoio dos colegas, deixou para trás os escândalos das nomeações secretas no Senado e também as acusações de desvios de recursos públicos na fundação que leva seu nome, em São Luís. Já Maia derrotou dois ex-presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e conseguiu o que parecia impossível: unificar a base aliada em torno de sua candidatura.

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Na vida pessoal, os dois líderes também têm perfis distintos. Sarney construiu um império de comunicação no Maranhão e sua declaração de bens chega a R$ 4,6 milhões. O ex-sindicalista, que nasceu em Canoas e passou a adolescência em Santa Cruz do Sul, exibe uma declaração de bens de R$ 342 mil. “Fui muito pobre, de não ter o que comer em casa”, diz Maia. Filho de promotor público e professora primária, Sarney teve infância simples, mas estudou em boas escolas: o Colégio Marista e o Liceu Maranhense. E entrou para a política incentivado por amigos intelectuais de São Luís, entre eles os poetas Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Maia, filho de um guarda noturno, começou a trabalhar aos 14 anos. “Eu ganhava meio salário mínimo e tive de empenhar o pagamento por dez meses para comprar minha primeira bicicleta”, conta. O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) foi amigo de Maia desde a infância. Na juventude seguiram companheiros e frequentavam juntos festinhas como a do Salão Panorama, em Santa Cruz do Sul. “O Marco Maia é um homem puro, um homem de caráter”, diz Moraes. Como sindicalista, o presidente da Câmara coleciona elogios. “O Marco sabia medir o processo de avanço, sabia cativar os trabalhadores e nos ajudou a construir a CUT”, diz o ex-dirigente da CUT Avelino Ganzer.

A presidente Dilma Rousseff conhece bem Maia – os dois fizeram parte do governo Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Na época, porém, era Maia, como secretário da Administração, quem cortava os gastos da Secretaria de Energia, comandada por Dilma. Sarney, por seu lado, também soube construir uma excelente relação com a ex-ministra da Casa Civil. Apoiou sua candidatura desde o início e hoje se declara empenhado em usar toda sua experiência para facilitar a aprovação dos projetos do Executivo. “Nós vamos ajudar o governo em seu objetivo de erradicar a pobreza e a miséria”, concorda Maia. “O Congresso prestará sua colaboração ao trabalho do Executivo”, diz ele. O governo espera total lealdade de Maia, um petista de origem que se elegeu com candidato da presidência. “Ele vem do movimento sindical e da base social da Igreja Católica e esses aspectos de solidariedade que caracterizaram sua história farão dele um presidente muito sensível aos temas dos direitos humanos”, prevê Maria do Rosário, ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, gaúcha de Veranópolis. No Palácio do Planalto, Sarney e Maia, apesar das trajetórias distintas e das origens também muito diferentes, são considerados pilares estratégicos do governo Dilma.

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