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SURPRESA A foto enviada pela sonda mostra Titã com mares de hidrocarbonetos

Na mitologia grega, os Titãs são seres de estatura gigantesca, força descomunal e aliados de Saturno na guerra contra Júpiter e os deuses do Olimpo. Nos confins do Universo, outro Titã também exibe sua grandeza. Trata-se da maior lua de Saturno, que tem quase o dobro do tamanho da nossa Lua, sendo maior que Mercúrio – só não é considerada planeta porque não orbita o Sol. Assim é a gélida Titã, a gigante que guarda a baixas temperaturas (cerca de 180 graus negativos) o ouro mais cobiçado pelo homem. "Ela está coberta por lagos e mares de petróleo. Os hidrocarbonetos caem do céu e formam enormes jazidas", diz o cientista americano Ralph Lorenz, membro da equipe da Nasa que controla as operações do radar da sonda Cassini no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL).

Quatro anos após o seu lançamento, a sonda Cassini finalmente mostra o que existe por trás da enorme cortina de fumaça que cobre Titã. Os pesquisadores dos EUA acabam de divulgar um relatório explicando as imagens registradas pela sonda: "em vez de água, tem hidrocarbonetos naturais", ou seja, a lua de Saturno tem petróleo. Essa substância, os hidrocarbonetos, forma-se a grandes pressões abaixo da superfície (mais de 150 quilômetros de profundidade) e é trazida para zonas de menor pressão através de processos geológicos. É nesse ponto que pode formar acumulações de petróleo, gás natural e carvão. Físicos da Universidade Johns Hopkins auxiliaram a Nasa na análise e concluíram que a superfície de Titã está coberta desses hidrocarbonetos na forma de metano e etano. Até agora a Cassini realizou uma prospecção de 20% da superfície dessa lua e foram observadas centenas de lagos e mares.

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VELOZ A sonda Cassini usa laser para obter as novas imagens

Segundo a Nasa, há bem mais hidrocarbonetos em Titã do que em todas as reservas de gás e petróleo conhecidas na Terra. Ou seja, menos da metade da lua de Saturno abriga o dobro do líquido responsável por infinitas guerras em nosso planeta. "Nossa afirmação se baseia nas observações de lagos das regiões polares setentrionais. Acreditamos que no sul podem ser similares", diz Lorenz. Ainda no mesmo relatório há a revelação de que as dunas de Titã contêm um volume de materiais orgânicos 400 vezes maior do que as reservas de carvão da Terra. A primeira pista desses mares de petróleo foi captada em novembro de 2006, quando a sonda registrou uma imensa nuvem do tamanho do território dos EUA cobrindo boa parte de Titã. Os cientistas ficaram impressionados e intrigados ao descobrir o que havia sob aquele "manto" cinzento. "A quantidade de nuvem e densidade nos levou à substância que gerava tanta evaporação. Foi o primeiro passo", diz o físico Christophe Sotin, da Nasa. Na Cassini, para obtenção de imagens, os cientistas instalaram espectrômetros de infravermelhos capazes de captar a milhares de anos-luz o menor componente químico e enviá-lo para análise laboratorial na Terra.

Como se não bastassem os lagos e mares de petróleo, em Titã ocorre o fenômeno de chuvas desse "ouro negro". Segundo os especialistas, são essas chuvas de metano que enchem os lagos que depois evaporam e formam as nuvens. Os cientistas comparam esse ciclo ao ciclo hidrológico da Terra, chamando de "ciclo metanológico". Sotin explica que as nuvens de Titã vão e vêm conforme suas estações climáticas. Diferentemente da Terra, no entanto, uma estação de Titã dura cerca de sete anos. Com base nos modelos de circulação global, acredita-se que esse sistema de nuvens que mantém o ciclo de cheia dos mares e lagos se prolongue por aproximadamente 25 anos. Desaparece então durante quatro décadas e ressurge mais uma vez para um ciclo idêntico.