Foi no verão de 2000 que apareceu a primeira crise de herpes no canto esquerdo da boca de Tatiana Santos. Ela tinha 17 anos. A carioca da Ilha do Governador passava férias com os amigos em Cabo Frio, na Região dos Lagos, quando percebeu uma pequena ferida nos lábios. Ignorou o machucado imaginando ter sido excesso de sol. Em cinco dias, ele sumiu. Um mês depois, uma nova ferida no mesmo lugar, só que, desta vez, maior e acompanhada de uma ligeira ardência. Nos últimos quatro anos, Tatiana passou a conviver com o herpes oral a cada dois meses. Essa rotina foi interrompida há quatro meses, quando a universitária começou a se tratar com a vacina BCG – usada na prevenção da tuberculose – em associação com uma proteína extraída do próprio vírus da herpes. “Não tive mais nada”, anima-se Tatiana.

O tratamento feito pela estudante é uma experiência pioneira coordenada pelo médico carioca Luiz Werber Bandeira, chefe do Serviço de Imunologia Clínica e Experimental da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Ele resolveu associar a BCG a uma proteína do vírus por uma razão muito simples. A vacina apresenta um grande potencial para formar anticorpos. Por isso, quando misturada à substância extraída do causador da herpes, acaba estimulando o organismo a produzir defesas contra esse invasor. Nos últimos quatro anos, Bandeira já submeteu 84 pacientes ao método. São ao todo 72 aplicações, duas por semana, durante nove meses consecutivos. A combinação é indicada para pessoas com infecções repetidas dos herpes tipos 1 e 2, ou seja, oral e genital.

Contágio – Os resultados obtidos até agora são animadores – por seu histórico, por exemplo, a estudante Tatiana já deveria ter manifestado outra crise, o que não aconteceu. “A vacina demonstrou eficácia tanto para espaçar a ocorrência das infecções como para abrandar o episódio e diminuir sua duração”, afirma o médico.

O herpes é um dos vírus mais disseminados no mundo. Praticamente toda a população mundial, segundo o imunologista, já foi infectada, mas nem todos apresentam a doença. A baixa resistência do sistema de defesa facilita sua manifestação, além do stress e da exposição à luz ultravioleta dos raios solares. A enfermidade é contagiosa e aparece no contorno dos lábios, ao lado da boca, nos órgãos genitais e nas nádegas. Como costuma ocorrer em surtos repetidos, também é conhecida como “gripe de pele”. As principais formas de contágio são pelo beijo, por relações sexuais e até por compartilhar o mesmo copo.