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Para cada pessoa presente no estádio, são 10 mil torcedores assistindo ao jogo pela TV.” Enquanto o Brasil vive a expectativa para reforma ou construção dos 12 estádios que receberão as partidas da Copa do Mundo de 2014, a declaração de Sven Schaeffner, dirigente da Fifa, chama a atenção para outro assunto pouco discutido até o momento: como será a transmissão do Mundial para um público estimado em bilhões de pessoas.
 
O advogado suíço, que esteve em São Paulo em novembro, será o diretor da divisão “Fifa TV” do escritório no Rio de Janeiro da maior entidade do futebol a partir de 2011. O trabalho do departamento vai desde a produção da transmissão via satélite até o desenvolvimento do International Broadcasting Centre (IBC) – instalação que serve como centro nervoso e quartel general para as emissoras durante o evento, – passando por uma série de outras atribuições com o fim de levar a informação para o maior número de pessoas possível.

Para cumprir essa missão, nenhum tipo de mídia é deixado de lado: televisão, rádio, internet, 3D e celular. É o que os especialistas chamam de “Copa multiplataforma”. Tradicionalmente, as edições do torneio sempre estão diretamente relacionadas aos saltos de evolução no setor de tecnologia de informação e comunicação.

No Mundial de 1970, os jogos disputados no México passaram a ser transmitidos ao vivo, levando a imagem da seleção brasileira tricampeã à época para todo o planeta. A partir de 1974, na Alemanha, os televisores em cores se popularizaram. Coube à França dar início às transmissões digitais décadas mais tarde, em 1998. Em 2006, novamente na Alemanha, o celular deixou de ser apenas um telefone pessoal móvel e virou dispositivo para assistir aos confrontos. Porém, calcula-se que apenas 5% dos 87 milhões de aparelhos utilizados pelos brasileiros naquele momento reproduziam vídeo. Agora, há mais de um celular para cada cidadão no país e cerca de 30% são smartphones.
 

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Telão no estádio Soccer City,
na final da Copa de 2010, e equipes

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Acertando esquema de transmissão
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Acertando esquema de transmissão 

Na última Copa, na África do Sul, o uso do celular para acompanhar as seleções na competição se tornou uma realidade, e os televisores saltaram aos olhos dos fãs de futebol com imagens em alta definição. Em vários pontos do globo, os dribles dos craques, os golaços e o sofrimento dos goleiros com a bola Jabulani foram vistos em 3D.

Se observar a ação dos atletas ao vivo e em três dimensões parecia impossível algum tempo atrás, para a Copa de 2014 já há a promessa de que essa tecnologia pode ficar em segundo plano.

Orçado em R$ 3 bilhões, o Projeto 2014K, fruto de parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Universidade Mackenzie (em São Paulo), quer levar para cinemas das 12 cidades-sedes a transmissão do Mundial em 3D4K, tecnologia superior ao 3D e HD (alta definição). Para se ter uma ideia, a imagem é quatro vezes mais definida do que a “full” HD. Comparando com a televisão tradicional, a proporção sobe para 24 vezes.

O clássico entre Grêmio e Internacional, na final do Campeonato Gaúcho de 2010, serviu de maneira bem-sucedida para testes com a câmera de 150kg, 8 milhões de pixels por quadro e em três dimensões. O filme foi exibido na Casa Brasil, em Johannesburgo, durante o torneio na África.

A chamada ultra definição é somente uma das novidades tecnológicas que devem ser implementadas no mercado nacional com a realização da Copa em solo brasileiro. Tanto que a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) resolveu encomendar um estudo a respeito.

O levantamento feito pela consultoria AT Kearney mostrou que o Mundial de 2014 precisará de cerca de R$ 3,3 bilhões de investimentos destinados somente para a área de TI. “Quando o país desenvolve um sistema para transmissão dos jogos em alta qualidade, em 3D e com compatibilidade com diversas mídias, significa que ele construiu uma infraestrutura tecnológica que, depois da Copa, será um legado permanente e servirá para novos negócios”, afirma o diretor de Infraestrutura e Convergência Digital da Brasscom, Nelson Wortsman.

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Com a internet banda larga, fotográfos
podem enviar imagens ainda no campo
 

O número divulgado está relacionado ao que manda a Fifa, que exige, por exemplo, redes entre todos os locais, suporte a dados e áudio, além de serviços de vídeo, transmissões multimídia e prestação de suporte aos sistemas. Tudo para atender ao caráter multiplataforma que a cobertura completa da competição necessitará. Dessa forma, o cenário vislumbrado com o Brasil como anfitrião de um dos maiores eventos esportivos do mundo é positivo não só para melhorias que são mais perceptíveis, como a construção de arenas ou aeroportos.

De acordo com previsões de empresas associadas à Brasscom, o Brasil deve atingir os 90 milhões de acessos à internet na Copa de 2014. “Isso exigirá tecnologia de ponta e oferecerá grandes oportunidades para empresas do setor. Teremos de implantar uma infraestrutura robusta e integrada, que suporte este processo”, explica Worstman.

“O momento do país favorece os investimentos e o mercado acredita nisso”, diz Andressa Rufino, consultora e autora do livro “Arena Multiuso: um novo campo de negócios”, da Trevisan Editora Universitária. Ela explica que a nova geração dos estádios brasileiros não deve alterar somente padrões estéticos e instalações para o público. “A estrutura para receber e facilitar o trabalho da imprensa será muito boa. Hoje, você não encontra um estádio preparado para comportar centenas de profissionais no mesmo local, de uma só vez. Precisávamos de algum tipo de ânimo para pensarmos nestas questões.”

O IBC terá papel fundamental para a mídia global antes e durante a Copa, e as emissoras nacionais poderão se beneficiar do centro mesmo após o último apito do árbitro. “O centro de mídia estará pronto para enviar às redes de todo o mundo imagem e som com o que há de mais moderno”, diz Eduardo Zebini, responsável do Comitê Organizador Local (COL) pelo IBC.

Se por um lado o avanço da tecnologia traz uma série de benefícios aos apaixonados por futebol, por outro esse progresso ainda deixa a desejar quando o quesito é a emoção em sua essência. Um problema das transmissões em alta definição durante os jogos em solo sul-africano foi o atraso com que o sinal chegava aos televisores. Quem tinha televisão e sinal analógicos comemorava o gol antes de quem via tudo em HD.

Para o diretor de engenharia multimídia da TV Globo, José Dias, não há previsão em curto prazo para a mudança desse panorama. “É o preço que pagamos pela tecnologia digital. O processamento digital produz este delay (atraso). Amanhã, a tecnologia estará mais rápida, porém, creio que nunca se igualará à velocidade do processamento analógico. Sempre estaremos vendo algo na televisão segundos após seu acontecimento.” 

Para o Mundial multiplataforma, uma televisão multiplataforma
Confira a seguir o que pensa o executivo da principal emissora do país a respeito do evento em 2014. Diretor de engenharia de jornalismo da Globo, José Marino revela como a gigante da comunicação encara a Copa.

Qual foi a “vedete” das transmissões na África do Sul com efeito direto para o público em geral?
JM: Para o público em geral, os maiores impactos a meu ver foram a câmera suspensa por cabos sobre os estádios e as câmeras tipo ultra-motion, que captam imagens com velocidades entre 650 e mil quadros por segundo. Não são conceitos novos. O uso da câmera suspensa por cabos já havia sido feito pela TV Globo em 27 de abril de 2005 no jogo Brasil x Guatemala, realizado no Pacaembu. Já a ultra-motion foi usada pela TV Globo em julho de 2009 e adquirida neste mesmo ano para uso em eventos esportivos. Como novidade tecnológica e uso restrito, destaco a cobertura dos jogos em 3D. A Fifa fez uma segunda produção, exclusiva para o formato. Este material pode ser visto aqui no Brasil em demonstrações feitas em cinemas equipados com projetores 3D, numa parceria que envolveu Fifa e TV Globo.

Que tipo de novidade tecnológica pode ser prevista nas transmissões para a Copa de 14?
Na minha opinião, acredito que veremos um maior amadurecimento da tecnologia 3D.

Várias opções de “revolução” nas imagens surgem no momento: HD, 3D, 3D4K. Qual será a bola da vez em 2014?
A alta definição não é mais uma revolução. É uma realidade. Cobrimos jogos de futebol dos campeonatos estaduais e do Brasileirão regularmente em HD. Não dá para pensar em cobertura de grandes eventos sem pensar em HD. O 3D ainda tem um custo de produção alto, dado que hoje é necessária uma estrutura independente da produção principal, em 2D. Mas no início do HD também era assim, com o uso de duas unidades móveis, uma para produção do jogo em SD e outra para HD, e hoje uma única estrutura (equipamento e equipe) produz os dois sinais. Acredito que com o 3D ocorrerá uma evolução similar. O 3D4K será sensacional, pois aumentará a qualidade das produções em 3D. Mas uma coisa é produzir o sinal, outra coisa é levá-lo até a casa do telespectador.

De maneira geral, como será a cobertura da Globo no Mundial?
JM: O que posso dizer é que será uma cobertura ampla e envolvente, e que estaremos presentes em todas as plataformas. Estaremos em nossa casa e teremos à disposição toda a nossa equipe, incluindo aí as afiliadas. Não posso detalhar os planos por motivos de estratégia.

Veja as exigências da Fifa para a cobertura da imprensa nos estádios

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Fotográfos no estádio Santiago Bernabeu, em Madri
 

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Tribuna de imprensa no Camp Nou, em Barcelona
 
 

Tribuna de imprensa
Localizada no centro das arquibancadas e elevada. Cada estação deve ter uma mesa, tomadas de energia, conexão de modem e telefone. A cada oito estações, ao menos um monitor tem de estar visível. Equipamentos devem ser digitais e conexões sem fio têm prioridade.

Cabines de rádio e televisão
Cada estação deve estar separada da outra por proteção acústica. Essa área ficará próxima à tribuna de imprensa, mas de preferência sob a cobertura e não em local fechado. São necessárias ao menos 50 cabines, com espaço para três pessoas, um telefone, duas tomadas e um monitor em cada.

Estúdios de televisão
Jogos importantes devem contar com três estúdios, com 25,2m2 cada, localizados próximos aos vestiários e de fácil acesso aos jogadores e técnicos. Para final e abertura, deve haver quatro estúdios com visão panorâmica do jogo.

Centro de mídia
A capacidade deve se aproximar a 1/3 da tribuna de imprensa, chegando a 200 lugares em partidas importantes. Deve abrigar a área para as entrevistas coletivas.

Sala de coletiva de imprensa
Equipada com sistema de som e cabines para tradução simultânea, deve ter ao menos 100m2, com 100 assentos e área para dez equipes de televisão, no mínimo. Deve ficar perto dos vestiários e seguir os moldes de um teatro.

Zona Mista
Espaço entre vestiários e local de saída dos jogadores para entrevistas com jornalistas, cada um ocupando espaço de no mínimo 2,5m2.

Flash Interview Positions
Local entre o vestiário e o gramado, próximo ao túnel, para transmitir ao vivo entrevistas nos intervalos e depois dos confrontos.

Estacionamento
Ao todo, cada estacionamento deve ter 10% da capacidade total do estádio e estar disponível para o público em geral, mas com entrada exclusiva aos profissionais de imprensa. Unidades móveis de televisão devem ter uma área separada de 3.000 a 5.000 m2, com segurança reforçada e seu próprio sistema de energia. Veículos de transmissão via satélite também devem ter local reservado, a céu aberto, perto das unidades móveis.