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Sem ela o Brasil nem teria chances de pleitear a candidatura à Copa em 2014. Por ser a alma da competição – não só dentro de campo e não apenas durante os jogos –, é considerada fundamental na avaliação da Fifa: isso mesmo, ter uma imensa e irreverente torcida que adora futebol ajudou muitíssimo a vencer a disputa para sediar o Mundial. Que organizador se arriscaria a fazer um megaevento esportivo sem o envolvimento do público local, anfitrião dos demais? Nesse quesito, o país do futebol, celeiro de craques para todo o mundo, levou ampla vantagem. E se depender da animada e amigável torcida brasileira, que já teve seus méritos reconhecidos pela Fifa, o sucesso da Copa estará garantido.

Vencida a primeira etapa, a torcida, conhecida também por sua devoção à seleção pentacampeã, só pensa no hexa e aposta suas fichas nos talentos que despontam como promessa de vitória nos gramados em 2014. Se os brasileiros interrompem o trabalho, enfeitam as ruas, preparam o churrasco e se paramentam de verde e amarelo para ver seus craques jogar em terra distante, imagine o tamanho da festa que farão para eles em casa. A expectativa é que a torcida brasileira lote, além dos estádios, os espaços da Fan Fest que serão organizados nas cidades-sedes. A seleção que se prepare para tanto apoio e pressão.
 

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Torcedores acreditam que geração de Neymar (na foto, com a bola)
e Ganso vá ‘arrebentar’ no Mundial; em casa, apoio
e pressão sobre os rivais serão maiores

“Essa nova geração do Thiago Silva, Ganso e Neymar vai vir com toda garra para conquistar no Brasil o seu primeiro título mundial”, resume o vice-presidente da Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro, Flávio Martins, o Frajola, Fluminense de carteirinha. O desejo de que “os garotos venham para arrebentar” é acalentado pelos torcedores de norte a sul do país. Além de passar as próximas temporadas escalando o time dos sonhos e imaginando a emoção da hora da disputa, os 190 milhões de técnicos terão muito mais a fazer. É que não basta torcer: tem de participar. Isso significa ajudar o país a cumprir as muitas exigências da Fifa no que diz respeito à segurança de todos dentro e fora dos estádios. Porque a festa tem de acontecer, sim, mas com respeito ao adversário, à diversidade e à democracia.

Há dois anos, as torcidas organizadas, sobretudo das 12 cidades-sedes, não respondem mais apenas pelos interesses de seus clubes. O Ministério dos Esportes vem convocando os representantes das torcidas para as muitas reuniões que discutiram a criação do Estatuto do Torcedor, as leis que punem severamente os infratores, além das inovações tecnológicas que controlarão o acesso e a permanência dos torcedores nos campos de futebol. Flávio Martins é participante desse esforço em favor do Mundial de 2014 – inclusive dos dois seminários nacionais de torcidas promovidos em 2009, em São Paulo, e neste ano, no Rio de Janeiro. “Estamos efetivamente trabalhando pela Copa. Acompanhamos tudo e também fazemos nossas sugestões, sobretudo para as propostas mais delicadas”, relata. A própria criação da federação dos torcedores cariocas já é resultado dos preparativos para a Copa.

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Arquibancadas, tribunas e acessos serão vigiados
por câmeras desde os portões de entrada dos 12 estádios
que vão sediar os jogos da Copa do Mundo

Além dos programas amplos de segurança pública já em implantação – como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio de Janeiro –, será criado um sistema específico para fazer cumprir o Estatuto do Torcedor, editado no ano passado, e tentar garantir o clima de paz na Copa. Monitorar com eficiência o acesso aos grandes estádios antes de 2014 é uma das principais metas dos organizadores. O controle, por câmeras, começará nos guichês de venda de ingresso. A ideia é identificar o torcedor pela biometria da impressão digital. O novo modelo propõe o cadastro prévio das torcidas organizadas e até dos torcedores em geral, com coleta de dados pessoais e emissão de cartões inteligentes. Esse cadastro será interligado à Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização do Ministério da Justiça (Infoseg).

Mas é preciso estar atento a problemas que podem vir de fora. Foi a criação de um cadastro integrado, focado neste caso nos passageiros, que permitiu às autoridades da África do Sul barrarem ainda nos aeroportos torcedores estrangeiros com histórico de brigas e confusões nas arenas. Na Copa de 2010, um grupo de argentinos foi deportado assim que pisou no país, procedimento que também seria adotado caso os hooligans – os temidos torcedores ingleses, fichados pela polícia e não aceitos nos campos de seu próprio país – tentassem participar do Mundial. No Brasil, desde julho de 2010, tumulto, invasão, vandalismo e qualquer tipo de violência dentro ou nas áreas próximas das arenas esportivas – além de cambismo e fraude nos resultados dos jogos – são crimes tipificados em lei. Essa medida tornou eficaz a aplicação do Estatuto do Torcedor.

Tudo isso é para garantir não apenas a tranquilidade do Mundial, mas também para que o futebol brasileiro, exemplo para gerações de crianças e jovens, mantenha-se firme como espetáculo e diversão. O objetivo final é valorizar o torcedor, dispensando a ele um “tratamento de cliente”. A construção e a reforma dos novos estádios vão oferecer conforto e segurança não só aos torcedores do Mundial, mas sobretudo aos frequentadores assíduos dos campeonatos disputados em todos os estados do país. A expectativa é que depois da Copa aumente o número de pessoas dispostas a assistir aos jogos ao vivo – o que só fará bem à vida dos clubes e das equipes. “Sair de casa sabendo que você vai ter transporte ou vaga para estacionar, um lugar confortável para sentar, lanchonetes e banheiros limpos e voltar sem perigos será o verdadeiro ganho para o torcedor”, diz Flávio Martins. “É isso que o importa e não só nos dias de jogos, mesmo porque o número de ingressos será sempre limitado”, avalia. 

 

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