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"Mesmo bebê, eu precisava de salvo conduto para sair do palácio. Vivi emoção de sobra" Celina Vargas do Amaral Peixoto

Se houvesse títulos nobres nas repúblicas, o Brasil não teria uma princesa com o sangue mais azul do que o de Celina Vargas do Amaral Peixoto. Contamse nos dedos os palácios cujos tapetes ela não pisou. Neta do homem que por mais tempo comandou o Brasil desde Pedro II, Celina engatinhava no Palácio Guanabara quando a ditadura de seu avô, Getúlio Vargas, foi derrubada, em 1945. Cinco anos depois, Vargas voltou, eleito, à Presidência. O pai da menina, Ernani do Amaral Peixoto, genro de Getúlio, virou governador do Rio de Janeiro, depois ministro de Juscelino Kubitschek e embaixador nos Estados Unidos. Celina ainda voltou ao Guanabara em 1987, como primeira- dama do Rio, casada com Wellington Moreira Franco.

Bonita e discreta como convém a uma princesa, a socióloga doutorada pela Sorbonne esteve três décadas à frente de instituições como a Fundação Getúlio Vargas, onde criou o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) e o Arquivo Nacional. Nunca se acomodou nos privilégios da ilustre linhagem. Mas quem poderia imaginar que a inquietude chegaria a ponto de levar uma mulher tão invejada a abandonar os tapetes vermelhos para se embrenhar no mato e plantar hortaliças? Pois é o que ela faz hoje. Celina Vargas do Amaral Peixoto, quem diria, acabou no Cafundó. É este o nome da fazenda, em Petrópolis, onde ela mora e planta produtos orgânicos. A vedete são as miniaturas, como miniabóboras, cenouras e rúculas.

A terra, herdada de Amaral Peixoto e Alzira Vargas, fica a 130 quilômetros do Rio e, como todos os ambientes em que Celina respira, não é um lugar qualquer. Ela dorme em uma casa de madeira diversas vezes visitada por Getúlio para descansar – ou conspirar. Ali, comanda dez famílias de agricultores. Tanta mudança, ao contrário do que se possa pensar, nada tem a ver com decadência. Celina Vargas é, agora, um empresária de sucesso e está ganhando dinheiro. Ela não diz quanto, mas não é pouco. Para os fins de semana, aluga um belo apartamento de três quartos na avenida Vieira Souto, a mais cara do País, de frente para a praia de Ipanema. O aluguel desse tipo de imóvel gira em torno de R$ 15 mil. É sua base no Rio para vender os produtos da Chá do Cafundó Ltda. a restaurantes, hotéis, supermercados, bufês e domicílios.

De segunda a sexta, Celina troca o mar pela vizinhança da Mata Atlântica. Os terninhos chiques dão lugar a chapéus, botas e tudo o que uma roceira tem direito. A nova empresária filosofa sobre a roça com entusiasmo: “Quando não conseguimos transformar o mundo, o jeito é mudar no nível local, viver melhor.” A elegância continua irretocável e os quilinhos que ganhou estão mais do que compensados pelo sorriso, mais fácil e sedutor do que o da contida acadêmica.

Desde 1989, quando se separou do então governador Moreira Franco, com quem tem três filhos, Celina se mantém zelosa para evitar luzes sobre a vida privada. “Namorar é bom, melhor do que casar, mas não estou com ninguém.” Ela diz que a solidão não incomoda, além de ser um retorno às raízes da vistosa árvore genealógica. Seu avô se exilou cinco anos na Fazenda Itu, no Rio Grande do Sul, antes de se eleger, em 1950. “Estou no meu exílio de Itu”, diz a neta, que já deu seu escorregão – “primeiro e último” – na política. Candidata a deputada pelo PFL em 1998, teve 23 mil votos e não se elegeu. Nos anos seguintes, foi assessora da federação das indústrias, a Firjan, e diretora do Sebrae.

No salão de seu apartamento, a decoração mistura a vida pessoal com a história. Um grande portaretrato de Vargas repousa ao lado de outro, maior ainda, de Fidel Castro, presente do próprio. “Mesmo bebê, eu precisava de salvo-conduto para sair do palácio. Vivi emoção de sobra”, sorri. Quando Getúlio se matou, em 1954, ela tinha dez anos e sua casa, no Flamengo, voltou ao olho do furacão, cercada por metralhadoras. Para a criança que passou tanto medo, ganhar dinheiro com vegetais em miniatura é, no mínimo, mais apetitoso. Levemente irônica, Celina brinca com as voltas que a vida dá: “Das metralhadoras às abobrinhas é um bom título de biografia, não é?”

INFLUÊNCIA E GLAMOUR

 

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FAMÍLIA Em Teresópolis com a mãe, Alzira, e o avô Getúlio Vargas VIAGEM Comemoração pelos 17 anos com JK em Paris

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CASAMENTO Com o ex-governador Moreira Franco, seu ex-marido FAMÍLIA Com os três filhos, Pedro, Alice e Bento

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TERRA Na fazenda Cafundó, onde hoje planta legumes              AMIGAS Com Ruth Cardoso (à dir.), ex-primeiradama do Brasil