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O boom econômico do Brasil nos últimos anos repercutiu fortemente nos aeropostos. O número de passageiros brasileiros e estrangeiros cresceu 75% de 2000 a 2009, quando foram transportadas 62,8 milhões de pessoas, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil. Nos voos domésticos, o salto foi de 82%. Em 2010, as cifras devem bater recorde pelo sétimo ano consecutivo.

Essas ótimas notícias, porém, foram acompanhadas de imagens de saguões lotados, voos atrasados e cancelados, malas amontoadas no chão e pessoas dormindo nos bancos dos terminais. Os investimentos no setor não corresponderam ao crescimento do país ao longo das últimas décadas, a ponto de esta ser uma das questões mais sensíveis a serem tratadas até a realização da Copa no Brasil, em 2014.
O governo federal prepara um pacote de investimentos bilionários para os próximos anos, a fim de reverter críticas como a do diretor-geral da Associação Internacional de Transportes Aéreo, Giovanni Bisignani. Em encontro recente, realizado para diretores e presidentes de companhias aéreas, no Panamá, ele classificou a infraestrutura de transporte aéreo brasileira como um “desastre de proporções crescentes”. Para ele, é inadmissível que “no país de maior economia da América Latina, 13 dos 20 maiores aeroportos não consigam acomodar a atual demanda de passageiros”. Bisignani recomendou, para evitar agravamento dos problemas – em especial em São Paulo, maior ponto de conexão da região –, dar início imediato às reformas necessárias. Ainda que obras signifiquem interdições e limitação de operação momentânea.

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Da esq. para a dir., no sentido horário: aeroportos de Brasília,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Guarulhos (SP)
 

Estreantes

Um dos fatores-chave no aumento no número de passageiros registrado do Brasil é a expansão econômica. A geração de empregos e a distribuição de renda criaram uma nova fatia do mercado. As classes C e D são uma nova clientela com a qual as companhias ainda estão começando a se relacionar.

Para o diretor do instituto Data Popular, Renato Meirelles, ao menos 1,5 milhão de pessoas vão viajar de avião pela primeira vez nos dois primeiros meses de 2011. “De acordo com nossos estudos, cerca de 9 milhões de brasileiros terão feito sua primeira viagem aérea entre julho de 2010 e julho de 2011”, prevê.

A enxurrada de estreantes representa um grande desafio para as companhias, principalmente em períodos de alta temporada. Primeiro, pelo significativo aumento de demanda. E, segundo, pela necessidade de atendimento diferenciado, já que esse novo público nem sempre conhece a realidade dos serviços e os procedimentos nos aeroportos e aviões.

Se o ritmo de crescimento de passageiros de primeira viagem for mantido com a expansão econômica do país, até a Copa o número de novatos será ainda maior. Mas Marçal Goulart, superintendente de Gestão Operacional da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) afirma que os aeroportos das cidades-sedes serão melhorados, para atender os novos passageiros, os antigos e os estrangeiros. “Esperamos um crescimento de 30% no movimento das principais pistas, mas descarto completamente a possibilidade de um novo caos aéreo durante a Copa.”

Parcerias e investimentos

Gargalos em um setor tão importante para um país, e ainda mais vital em tempos de Copa e Olimpíada, avivaram ideias de privatização entre executivos e especialistas. Modelos de parcerias público-privadas (PPPs) são estudados na busca de novos mecanismos para melhorar a prestação do serviço e atrair investimentos para gestão dos aeroportos.

A questão é que somente terminais com maior fluxo de passageiros geram lucro. Os aeroportos pequenos também precisam de aporte financeiro para continuar operando, mas não atraem o interesse dos empresários. Por isso, o governo optou, para eventuais privatizações, pelo modelo de outorga (em que a concessionária paga um valor anual à União) a fim de garantir a operação dos aeroportos deficitários.
Treze aeroportos considerados estratégicos para a Copa do Mundo – os 12 maiores das cidades-sedes e Viracopos, em Campinas, que atende passageiros que vão a São Paulo – receberão investimento total de R$ 5,5 bilhões. Somente os R$ 400 milhões que ampliarão a capacidade do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal (uma das sedes em 2014), serão provenientes da iniciativa privada, em decorrência do processo de concessão do terminal.

A matriz de obras planejada pela Infraero prevê ampliação e modernização de terminais de passageiros e sistemas de navegação aérea, construção de torres de controle, estacionamentos e pistas de táxi, ampliação e reforma dos pátios das aeronaves e das pistas de pouso.
A grande maioria encontra-se em fase de licitação ou de elaboração de edital. Terminais como o Afonso Pena, em Curitiba, Deputado Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, e Gilberto Freyre, em Recife, vão requerer menos aportes. Manaus, Natal e Fortaleza precisarão de reformas mais estruturais em seus aeroportos. Confins, em Belo Horizonte, Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e Salgado Filho, em Porto Alegre, receberão altos investimentos para que possam operar com mais tranquilidade nos períodos de alta temporada, no pós-Copa.
Os demais, além de todas as reformas, ganharão módulos operacionais de auxílio para check-in, embarque e desembarque de passageiros. Solução de suporte ao atendimento usada em aeroportos de vários países para atender demandas específicas, essas estruturas devem desafogar os aeroportos de Guarulhos, Campinas, Brasília e Cuiabá durante a Copa e outros grandes eventos. Os módulos contarão com toda a infraestrutura de salas convencionais de embarque e desembarque, tais como ar-condicionado, sanitários e sistema informativo de voos. O único aeroporto brasileiro que já conta com o mecanismo, desde dezembro de 2009, é o de Florianópolis, em Santa Catarina. 

 

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