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Uma seleção tipicamente brasileira. Identificada com a torcida, que promete lotar os estádios e empurrar sua equipe na Copa do Mundo de 2014. A competitividade vista nas últimas três edições do Campeonato Brasileiro, em que o torneio foi decidido na rodada derradeira, tem reflexos nas convocações para a equipe canarinho. E quem atua por aqui passa a ter as mesmas chances que o atleta que está no futebol europeu.

Entre os 23 que disputaram a última Copa, apenas três jogavam no Brasil – Gilberto, Kleberson e Robinho, sendo que o último voltou para a Europa menos de um mês após o Mundial. Já para o amistoso contra a Argentina, o último de 2010, foram oito os convocados em atividade em clubes nacionais. “Deixamos bem claro que voltaríamos nossos olhos para os jogadores que estivessem atuando no país. Entendemos que um dos campeonatos mais difíceis que existem é o Brasileiro”, afirma Mano Menezes, técnico da seleção brasileira. Na estreia do treinador, na primeira partida da seleção após o Mundial da África do Sul, 11 dos atletas estavam jogando em times brasileiros.

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TÉCNICO
Mano Menezes no banco, no campo e na apresentação
 

Para a nova base da equipe, ele optou pelo quarteto ofensivo que encantou o país pelo Santos, campeão paulista e da Copa do Brasil em 2010. Nas quatro partidas sob o comando de Mano Menezes, Neymar esteve em duas. Sempre como titular. Paulo Henrique Ganso jogou muito contra os Estados Unidos, mas uma grave lesão no joelho o deixou fora dos outros compromissos. André e Robinho, que hoje pertencem a Dínamo de Kiev (Ucrânia) e Milan (Itália), foram lembrados em todas as listas.

Todo processo de renovação cobra seu preço. Pelo menos no segundo semestre, a transição foi tranquila e a regra virou exceção. “Nós mudamos 10 jogadores do time-base que disputou a Copa”, lembra o treinador, que tem retrospecto de três vitórias em quatro jogos, sete gols marcados e apenas um sofrido.

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Processo de renovação passa pela priorização
do jogador que atua no futebol brasileiro
 

Apesar do sucesso, o técnico ressalta que é preciso ter respeito pelos atletas consagrados e afirma que os mais experientes terão sua vez. “Vamos levá-los em consideração em um segundo momento e fazer uma união no trabalho.” Um desses jogadores, aliás, ganhou elogios em seu retorno à seleção. E deve seguir no time. “Não levaria o Ronaldinho para só um jogo, não seria muito inteligente”, comenta Mano Menezes sobre o craque gaúcho, que ficou um ano e meio sem vestir a amarelinha e enfrentou a Argentina, em 17 de novembro, em Doha, no Qatar.

Argentino no caminho

Por incrível que pareça, a seleção já teve um técnico argentino. Foi em 1965, quando o time do Palmeiras representou a equipe nacional na vitória por 3 a 0 sobre o Uruguai, na inauguração do Mineirão. Filpo Nuñez, que dirigia o alviverde paulistano, assumiu o comando do Brasil.

Mas a torcida aceitaria um jogador nascido na Argentina com a amarelinha?
Conca, um dos craques do Brasileirão de 2010, nunca atuou pelos arquirrivais. Isso significa que, naturalizado, poderia defender o time de Mano Menezes. O treinador descarta a possibilidade. “Acho que temos grandes jogadores, uma lista muito extensa. A eles é que vamos preferir. Foi um dos principais jogadores do Brasileiro, mas quem deve olhar para o Conca é o técnico da Argentina.”

Com essa mentalidade, veremos, em 2014, uma seleção “brasileira da gema” em gramados nacionais. Vai dar samba? O início da gestão de Mano mostra que caminhamos nesse sentido.

Copa América

Diferentemente do que ocorreu nas últimas três edições da Copa América, o Brasil vai para a Argentina, em julho de 2011, com o que tem de melhor. Em entrevista exclusiva, o técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, afirmou que não pretende poupar nenhum atleta, já que a equipe não disputará as eliminatórias para a Copa do Mundo. “Sem ela, você precisa usar a Copa America, você precisa usar a Copa das Confederações, que é onde você vai estar disputando jogos de forma oficial”, afirma o treinador.

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Mano Menezes diz que, com o surgimento de um jogador
como Ganso, o Brasil volta a ter um armador nato no meio
 

Confira a seguir a entrevista concedida por Mano Menezes:

ISTOÉ – Há pouco mais de seis anos, você chamou a atenção do país ao levar uma equipe de pouca expressão, o 15 de Novembro de Campo Bom (RS), à semifinal da Copa do Brasil de 2004. Você poderia se imaginar um dia comandando um projeto para uma Copa do Mundo a ser disputada no Brasil?
Mano Menezes – Não imaginava. Embora a cor do uniforme do 15 Novembro de Campo Bom fosse bastante sugestiva, era amarela, não me imaginava ainda como técnico da seleção. Naturalmente, estava iniciando um trabalho que chamava a atenção pela primeira vez nacionalmente. Outros grandes profissionais já ocupavam postos mais significativos, de maior destaque. Mas o futebol também é muito rápido. Me proporcionou essas oportunidades, e eu as aproveitei. Estou aqui e dando o melhor que posso, fazendo da maneira que entendo para que possa retribuir essa confiança e aproveitar essa oportunidade.

ISTOÉ – Até a Copa do Mundo, você terá a Copa América (2011), a Olimpíada de Londres (2012) e a Copa das Confederações (2013). As três competições serão disputadas durante o período de férias dos jogadores que atuam na Europa. Você pensa em poupar alguns atletas para que eles cheguem inteiros à Copa do Mundo de 2014?
Mano Menezes – Eu penso que, para a seleção brasileira nesta Copa do Mundo, você precisa aproveitar essas oportunidades de competição oficial exatamente para ir formando um padrão de equipe. Estabelecendo parâmetros de observação mais fiéis, mais significativos, já que não temos a eliminatória, pelo fato de a Copa ser no Brasil. É na eliminatória que você sofre mais, mas tem a oportunidade de estabelecer isso que falava anteriormente. Sem ela, você precisa usar a Copa America, você precisa usar a Copa das Confederações, que é onde você vai estar disputando jogos de forma oficial. Assim, são sempre diferentes o padrão e as avaliações que você pode chegar e pode realmente levar para a Copa do Mundo.

ISTOÉ – Você disse em uma entrevista coletiva que a seleção brasileira agora está bem servida de jogadores de meio de campo. Você se sente um privilegiado por poder comandar essa geração?
Mano Menezes – Para não ficar nenhum mal entendido, nós temos jogadores com essa característica novamente. Tinha jogadores de forma diferente, que ocupavam com muito talento essa posição. Mas não jogador canhoto, de armação, que tem essa capacidade, como o Ganso, que surgiu em 2010. Podemos dizer que a gente recuperou um padrão que era do futebol brasileiro até bem pouco tempo. Realmente é algo que é um privilégio, porque a gente veio nesse momento. Cabe a nós aproveitarmos.

 

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