Quem cruza as portas de vidro da entrada do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, não pode imaginar que cada passo dado dentro da instituição é monitorado por um complexo esquema de segurança. São 500 câmeras distribuídas por dez mil metros quadrados, 250 controladores de acesso e 250 sensores de proximidade. Além disso, 100 agentes vigiam o interior e os arredores do hospital, quadro reforçado por agentes federais quando chega algum figurão.

Para uma pessoa comum, todo esse aparato pode parecer excessivo. No entanto, para políticos importantes como José Alencar, Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo e o ex-ministro Luiz Gushiken, que há menos de um mês estiveram simultaneamente internados ali para cuidar da saúde, é garantia de tranquilidade. Este, porém, é apenas um dos pontos fortes do hospital, que, pelo grande número de pacientes ilustres, acabou se tornando o mais comentado do País. Nos últimos seis meses, também foram atendidos no Sírio a presidente Dilma, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, o ex-governador Orestes Quércia e o senador Romeu Tuma. Como gente famosa tem amigos famosos, o ex-presidente Lula, por exemplo, vai lá com frequência. Foi visitar Dilma, dar um abraço em Gushiken e vê Alencar sempre que pode.

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PONTA
Gestão profissional e bom centro de pesquisa qualificam o
hospital. Acima, ressonância magnética com ambientação

 

Fundada por senhoras da comunidade sírio-libanesa há 89 anos, a instituição atualmente disputa a preferência de quem pode escolher o melhor tratamento em hospitais de primeira linha, como o também paulistano Albert Einstein. Uma das suas características que tiveram peso nessa história de sucesso é a visibilidade dos médicos da casa. Se em muitos hospitais eles ficam na retaguarda, no Sírio os especialistas que atendem famosos se sentem à vontade para ir até a porta principal dar entrevistas. “Os pacientes vêm para cá atrás dos grandes nomes da medicina”, diz o sanitarista Gonçalo Vecina, superinten­dente-geral desde 2005. A tarimba de Vecina – ele presidiu a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e foi cotado para o Ministério da Saúde de Dilma – é especialmente útil para administrar as exigências desses médicos que fazem a fama do hospital. Não é raro, por exemplo, o cardiologista Roberto Kalil Filho irromper na sala dele para reivindicar um equipamento de última geração para o seu Centro de Cardiologia. “Exijo e não quero saber quanto custa. Se não fosse por nós, os médicos, isso aqui seria uma casa de saúde”, diz Kalil, que cuida da saúde de Dilma e do ex-presidente Lula, entre outros poderosos. Ele chegou ao Sírio em 1982 como estagiário na UTI. Hoje pertence ao Conselho Diretor e se empenha para fazer do Sírio o melhor em cardiologia.

Atrás da política de portas abertas de Vecina e seu colega, o cirurgião e superintendente de estratégias corporativas Paulo Chapchap, há um projeto bem pensado para alavancar o hospital. Em 2004, a instituição decidiu substituir a gestão de médicos e senhoras da Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês por executivos contratados. Passou também a valorizar mais os nomes fortes da casa e a se esforçar para trazer outros. Em 2006, chegou Paulo Hoff para dirigir o Centro de Oncologia. “Os médicos ficam onde são bem tratados. Aqui o acesso à direção é fácil, o corpo técnico é bem treinado e conversamos entre nós sobre os pacientes”, diz Hoff, que chefiou a área de pesquisa do hospital americano M. D. Anderson, referência mundial no tratamento de câncer. Em 2008, veio o cientista Luiz Fernando Lima Reis, para dar impulso ao Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP), outro pilar da escalada do Sírio. “Você não está na vanguarda se não produz conhecimento e apenas compra o que está no mercado”, diz Reis. Uma das descobertas do IEP é uma nova molécula para a terapia da obesidade. Serão também estudadas mais duas substâncias para tratar câncer, identificadas durante os estudos dos médicos Drauzio Varella e Riad Younes sobre plantas do Amazonas. Mais uma estrela no firmamento do Sírio é o neurocientista Miguel Nicolelis, que montou ali seus caríssimos laboratórios de ponta.

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Onde há tantos astros, porém, não faltam trombadas nos bastidores. No final de 2006, por exemplo, o urologista Miguel Srougi e o gastroenterologista Raul Cutait se desentenderam feio sobre o tratamento de José Alencar. Depois da briga, só no final de 2010 Srougi abdicou das consultas em outro hospital e voltou a se concentrar no Sírio. Outro caso é a decisão do renomado oncologista Antônio Carlos Buzaid de se mudar com sua equipe, ainda no começo deste ano, para o Hospital São José, da Beneficência Portuguesa.
 

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A boa reputação do hospital também se deve à atualização tecnológica. “Estamos no nível dos melhores do mundo”, garante o superintendente Chapchap. Um exemplo é um sistema de ambientação, com imagens e música, para tranquilizar o paciente durante o exame de ressonância magnética. Mais um avanço será a inauguração, em breve, do mais moderno aparelho de radioterapia da América Latina. “Ele tem uma mesa robótica que corrige milimetricamente a posição do paciente para a radiação atingir o tumor com a máxima precisão”, explica João Luiz da Silva, coordenador da radioterapia. “Com esse equipamento, conseguiremos evitar cirurgias de alguns tumores de pulmão”, diz o médico. O custo estimado de um tratamento nessa máquina é R$ 20 mil, segundo o radiologista. Mas é sabido que pelo menos o falecido ex-prefeito Celso Pitta, que estava falido, foi tratado no Sírio sem cobrança de honorários. Alencar, segundo o hospital, tem as suas despesas cobertas pelo plano de saúde e família. O próximo passo da instituição é inaugurar uma extensão em Brasília, para tratar pacientes de câncer. Mais perto do poder, impossível.

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