Quem não parou de salivar ao
assistir ao filme A fantástica
fábrica de chocolate
(foto ao lado)
tem motivos de sobra para comemorar. O lançamento de uma barra politicamente correta nos Estados Unidos, a CocoaVia, fabricada pela Mars, promete entusiasmar até mesmo quem não é tão alucinado pela iguaria. O atrativo da guloseima não é o sabor ou a textura, mas o apelo saudável. Em tese, o CocoaVia pode proteger o coração. A barra apresenta doses elevadas de compostos chamados de flavonóis. Pesquisas recentes sugerem que essas substâncias – encontradas em maior quantidade nas sementes do cacau (a matéria-prima do chocolate) e também no chá verde, na cebola e na framboesa –aumentam a quantidade do óxido nítrico na circulação. Ele atua na dilatação dos vasos, melhorando o fluxo sangüíneo. Outro efeito dos flavonóis seria alguma redução do colesterol.

De acordo com a Mars, foi criado um processo que mantém a integridade dos flavonóis durante o preparo do doce, o que não se conseguia antes. Com isso, haveria quantidade suficiente dos compostos para ajudar a baixar a porção má do colesterol, o LDL. Isso, diz o fabricante, caso a guloseima seja consumida com regularidade (duas barras por dia). A fórmula traz outras vantagens. O produto possui fitosteróis, compostos que preservam o organismo de alterações celulares nocivas, como a oxidação, reduzindo as chances de adoecer. Além disso, tem menos gorduras e calorias do que os artigos tradicionais. Por enquanto, a venda do CocoaVia está restrita às encomendas online (www.cocoavia.com) ou por telefone. “Não temos planos imediatos de vender na América do Sul”, informa Colleen Late, da Mars, que estima ganhar US$ 3 milhões com o produto este ano.

Antes de ceder à tentação – e à tão sedutora justificativa –, é preciso atenção à história de que chocolate faz bem ao coração. “Os trabalhos com flavonóis do cacau são animadores, mas estão em fase inicial. Não se pode determinar sua quantidade nem dizer que o consumo regular evita doenças cardiovasculares”, argumenta o cientista Franco Lajolo, do Departamento de Nutrição Experimental da Universidade de São Paulo. Os especialistas defendem a realização de estudos de longa duração antes de apostar no poder do chocolate. “Quando existirem evidências de que os efeitos desse alimento promovem redução de infarto e derrame, ele poderá ser visto como um produto com propriedades terapêuticas. Até lá, é só delicioso”, sentencia o cardiologista Bruno Carameli, do Instituto do Coração, de São Paulo.

Comprovadamente, o que se sabe do chocolate é que um dos seus componentes, a cafeína, eleva os níveis de serotonina, um dos mensageiros químicos do cérebro. “Isso proporciona sensação de bem-estar e de saciedade e diminui o cansaço. As certezas terminam aí”, afirma o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Instituto Dante Pazzanese e do Hospital do Coração (SP). Em relação ao efeito protetor do coração, vale notar que os produtos vendidos nas prateleiras de supermercados não são iguais à novidade da Mars. Em geral, chocolates são muito calóricos, o que eleva o risco de a pessoa engordar e sofrer depois com a taxa elevada de colesterol. “Eles são produzidos com grãos torrados, de modo que muitas de suas propriedades benéficas são destruídas. Contêm gordura de leite e enormes quantidades de açúcar, o que não é recomendável numa dieta saudável”, reforça o cardiologista Jay Meltzer, professor da Universidade de Columbia (EUA). De qualquer forma, quem não resiste à vontade de atacar um chocolate agora mesmo deve se lembrar que, pelo menos por enquanto, convém não abusar.